Tsubasa. Lembra-se do desenho animado japonês do meu/nosso/vosso contentamento? Um estudo publicado em 2013 dá conta de um Super Tsubasa em qualquer um dos 128 episódios, entre Outubro 1983 e Março 1986. O jovem jogador atinge os 150 km/hora nas suas gloriosas arrancadas e os campos de futebol chegam a medir até 18 quilómetros. Eisch, que exagero. Será?

Gonçalo Guedes dá corpo ao movimento pseudo-impossível de Tsubasa e joga enormidades, entre dribles desconcertantes, desmarcações improváveis e remates venenosos. É claramente o destaque do Benfica-Paços, sobretudo na primeira parte, em que Gonçalo joga por todos e mais alguns. Cada vez que se vê o jovem de 19 anos com a bola no pé, o perigo está à espreita. É incrível, o rapaz enche o campo. Que não mede 18 quilómetros, nem nada que se pareça, embora Gonçalo faça o esforço de esticá-lo em cada jogada. É dele o 1-0, num pontapé de raiva, na sequência de uma jogada ao primeiro toque entre Mitroglou e Cervi. O passe do argentino para Gonçalo abre-lhe o caminho para a baliza. Gonçalo alça do pé direito e cá vai disto. Nenhum guarda-redes impediria o golo, nem mesmo Defendi (uma espécie de Gonçalo Guedes do Paços).

Sim, Defendi adia o 1-0 uma e duas vezes. Primeiro, num extraordinário golpe de rins a um eventual autogolo de Filipe Ferreira (6′). Depois, repele uma bola de Mitroglou (20′). O portentoso remate de Gonçalo Guedes, aos 26′, é como se fosse kryptonite para o Paços. Lá se vai o esquema de aguentar o empate. Agora, é preciso correr atrás da desvantagem. Ou não. O Benfica respira saúde e aperta a valer: Cervi chuta contra um defesa aos 35′, Defendi defende com o pé direito uma bola de Gonçalo Guedes aos 36′ e Salvio atira rente ao poste aos 41′. O Paços só dá um ar de sua graça ao cair do pano, por Ivo Rodrigues. Em vão, por cima. Ao intervalo, a superioridade benfiquista é evidente, com 67% posse de bola, 18-5 em remates e 2-11 em faltas cometidas.

A segunda parte começa como a primeira, com um pontapé forte de Pedrinho. É o Paços a dar finalmente um chega-para-lá. O Benfica reorganiza-se e faz o 2-0 com simplicidade. Eliseu, em estreia a titular no campeonato 2016-17, corre pela esquerda e cruza para a área, Mitroglou deixa passar a bola e Salvio remata de primeira. Pim pam pum, nada mais simples. O Paços vai-se abaixo, o Benfica não se acomoda. Mais que assegurada a sétima vitória seguida no campeonato e a liderança isolada antes da visita ao Dragão, o Benfica entretém a plateia de 52.731 espectadores (quer dizer, é mais 52.730 com a saída de fininho de Seu Jorge para o seu concerto no MEO Arena). A bola roda por todos e ninguém se esforça por aí além para dilatar o resultado. Talvez Carrillo seja a excepção, com uma corrida ou outra pela esquerda. Há aplausos e cânticos, muitos cânticos. O ambiente é de festa, ninguém pensa realmente no terceiro golo.

Até que Pizzi levanta a bola para Jiménez e recebe mais à frente, antes de se isolar na área, por culpa de um ressalto e fixar o 3-0, aos 87 minutos. Sem espinhas, o Benfica sela a vitória inequívoca sobre o Paços, a quatro dias de receber o Dínamo Kiev para a Liga dos Campeões. Oh diabo, então o Tusaba é asiático, como é que isto vai ser?! Tem Rui Vitória a palavra na terça-feira, dia de todos os santos.

Estádio da Luz, em Lisboa
Árbitro: Bruno Esteves (Setúbal)
BENFICA: Ederson; Nélson Semedo, Luisão, Lindelof e Eliseu; Salvio, Fejsa (Samaris, 82′), Pizzi e Cervi (Carrillo, 71′); Gonçalo Guedes e Mitroglou (Jiménez, 76′)
Treinador: Rui Vitória (português)
PAÇOS: Defendi; Bruno Santos, Monteiro, Miguel Vieira e Filipe Ferreira; Leandro (Cícero, 76′), Mateus e Pedrinho; Ivo Rodrigues (Barnes Osei, 68′), Welhton e Valente (Gleison, 82′)
Treinador: Carlos Pinto (português)
Marcadores: 1-0, Gonçalo Guedes (26′); 2-0, Salvio (64′); 3-0, Pizzi (87′)

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