O historiador e comentador político José Pacheco Pereira vai inaugurar esta terça-feira a exposição “A Propaganda Nas Eleições Dos EUA – 2016”, onde reúne vários objetos de propaganda política das eleições presidenciais norte-americanas de 8 de novembro passado e que resultaram na vitória de Donald Trump. A recolha, que foi feita no âmbito do projeto Ephemera, fundado por José Pacheco Pereira, pode ser vista entre os dias 17 de janeiro e 10 de março na Escola Superior de Comunicação Social, em Lisboa.

Como já tinha acontecido nas demais coleções do projeto Ephemera, esta exposição nasce da recolha obsessiva de José Pacheco Pereira de materiais de campanha, desde panfletos, pins, bonés ou memorabilia de todos os tipos. “Nesta coleção, alguns materiais foram recolhidos nos próprios EUA e outros foram adquiridos, outros foram oferecidos pelas campanhas”, conta ao Observador numa sala da livraria Ler Devagar, no LX Factory, em Lisboa, reservada ao Ephemera. Sentado numa cadeira acolchoada, o historiador fala debaixo de uma t-shirt com um desenho de um cor-de-rosa — um entre várias que foram distribuídas pelos suinicultores portugueses, que chegaram a cortar a Segunda Circular, em Lisboa, num protesto em março de 2016.

Quanto às eleições norte-americanas de 2016 e à sua propaganda, as t-shirts não vingaram tanto quanto outros artigos, como os pins e e os autocolantes para colar ao peito ou no para-choques traseiro dos carros — os chamados bumper stickers.

“Nós temos todos os stickers e bumper stickers e toda a panóplia de pins“, diz o historiador. “Há os que dizem ‘veteranos por Clinton’, ‘americanos nativos a favor de Clinton’, as ‘famílias militares a favor de Clinton'”, exemplifica, referindo apenas exemplo ligados à candidata democrata. “Isso tem um certo interesse, que é o de mostrar exatamente como é o universo dos grupos nos EUA e como eles são considerados de forma eleitoral.”

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Do lado de Donald Trump, a peça mais conhecida é o icónico boné vermelho, bordado com o slogan: “Make America Great Again”. Ou seja, algo como “Vamos Tornar a América Grandiosa de Novo”.

O “receio” de exibir materiais de campanha numas eleições polarizadas

Apesar da campanha eleitoral de 2016 ter sido uma das mais agressivas de que há memória, José Pacheco Pereira não sublinha que tenha notado diferenças substanciais entre a propaganda do ano passado e de outras eleições — que também estão presentes na exposição, que tem materiais que remontam ao final do século XIX. “Não se pode dizer que haja uma diferença radical, a não ser na circunstância de ser uma campanha muito competitiva”, diz.

Ainda assim, admite o historiador, o carácter agressivo da campanha levou a que, ao contrário do que se passou noutras eleições, pouca gente exibisse material de propaganda antes das eleições. “Havia receio, porque eles eram dois candidatos particularmente odiados”, relembra. “A polarização impede a expressão pacífica da opinião. Uma pessoa que não tenha um grande envolvimento político ou que não se sentisse muito atingida por estas eleições evitava aparecer com coisas de um ou de outro”, explica. Ainda assim, havia exceções nalguns estados onde Donald Trump teve uma presença contínua em ações de campanha e onde acabou por vencer de forma fulcral para se sobrepor a Hillary Clinton. “Nos estados do rust belt [a antiga cintura industrial, atualmente em decadência] havia um apoio visível a favor de Trump, havia uma mobilização muito maior a favor dele”, diz José Pacheco Pereira, que esteve nos EUA na última semana de campanha eleitoral.

Na altura, garante, ficou pouco surpreendido com o resultado das eleições. “Era evidente que o grande revolucionário era o Trump, porque muda as regras do jogo”, explica. “É um candidato revolucionário no sentido em que muda as regras do jogo. Basta ver a última conferência de imprensa para perceber isso.”

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