Portugal pagou mais caro no primeiro leilão de dívida de longo prazo de 2017, esta quarta-feira. No prazo mais longo, o juro ascendeu aos 3,67% (por dívida a sete anos), um custo que é o dobro do que se pagou em junho.

Em junho, o Estado português fez uma emissão também a sete anos a taxa foi de 1,84%. Já esta manhã, a Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) teve de remunerar os investidores com uma rendibilidade de 3,67% para conseguir emitir 550 milhões de euros com o mesmo prazo.

Foram, também, colocados 630 milhões de euros em dívida a cinco anos. Também aqui a taxa de juro subiu quase um ponto percentual em relação aos juros que se pagavam no verão passado (2,75% versus 1,87% em agosto).

No total, foram colocados 1.180 milhões de euros, dentro do intervalo previsto pelo IGCP.

“As taxas subiram, mas não é surpresa”, comenta Filipe Silva, diretor de gestão de ativos do Banco Carregosa, em nota difundida pelas redações. “Desde final de janeiro que as taxas subiram, não só em Portugal, mas no resto da Europa, num movimento justificado por alguns sinais de inflação que levam os investidores, sobretudo nos prazos mais longos, a protegerem-se de uma eventual subida de juros do BCE este ano ou no próximo”.

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Sobretudo por não ter ratings acima de lixo, exceto na DBRS, Portugal é dos países mais vulneráveis a este movimento generalizado. Além disso, acresce o facto de estarem a desacelerar as compras de dívida feitas pelo Banco Central Europeu (BCE), que devido aos limites auto-impostos pelo BCE está a ter dificuldades em cumprir as metas de compras sem exceder esses objetivos. Estas emissões são, em certa medida, também uma forma de dar espaço ao BCE para comprar mais dívida — o BCE não quer comprar mais do que um terço de cada linha de obrigações, ou seja, ao emitir mais nestas duas linhas cria-se margem para que o BCE compre.

“As eleições em França e o aumento do risco político também em Itália também têm contribuído para a subida generalizada das taxas da dívida soberana europeia. As taxas das emissões de hoje refletem esse movimento, mas mesmo assim ficaram em linha com o que está a ser feito no mercado secundário”, diz o especialista, acrescentando que “as taxas subiram face às últimas emissões comparáveis [mas] tivemos uma procura muito razoável para um montante emitido que também ficou dentro das expectativas. As operações correram bem.”

Já Eduardo Silva, gestor da corretora XTB, sublinha o efeito do fim iminente (final do ano) do programa de compras de dívida pelo BCE. “A República Portuguesa não estava realmente exposta ao mercado para se financiar enquanto o BCE garantia um financiamento estável. Com a saída gradual de cena do banco central, Portugal tem de recorrer aos mercados, onde a fraca confiança no País resulta no pagamento de juros elevados”, afirma o especialista.