É certo que é no Rio de Janeiro que se vive o Carnaval de forma mais intensa, mas não é menos verdade que é possível divertir-se à grande sem sair de Portugal, desde que se tenha um pouco de imaginação. E imaginação foi coisa que não faltou a Nelson Silva e aos seus amigos algarvios: juntaram-se e criaram a Ripper Tours, uma empresa especializada em explorar o macabro, propondo tours em que a morte é o tema principal. A morte sim, mas de riso, porque ali não morre ninguém. E se há coisa que os convivas não costumam ter é cara de enterro.

O veículo colocado à disposição dos clientes (vivos) é exactamente o que parece: um carro funerário, que até bem pouco tempo transportava clientes (mortos) rumo à última morada.

A velhinha Renault Trafic de 1990, a quem uma profunda revisão permitiu que reencarnasse como carro-bar, está como nova. E a grande diferença está no imenso espaço lá atrás, onde em vez do defunto e de uma série de familiares chorosos, só há convivas de copo na mão, embriagados pela música alta e pelos cocktails servidos a bordo. A principal alteração introduzida no veículo, segundo Nelson Silva, foi “o sistema de som, pois a carrinha quando andava nos serviços fúnebres, nem rádio tinha”. Porque seria?

Aos comandos da Trafic está o undertaker Silva, que veste a pele de “agente funerário” pouco convencional, devidamente trajado a rigor, com tatuagens e tudo. Segundo ele, a “Ripper Tours não visa concorrer com os bares convencionais, fazendo no limite concorrência à Servilusa”, pois não faltam os casos em que os clientes, a meio do passeio, já estão mais para lá do que para cá. Porque será?

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Mas enquanto os funerais e as transladações estão pela hora da morte, em termos de custos, as passeatas da Ripper Tours são uma pechincha. Por 72€, entre um a seis clientes podem usufruir de uma hora de bar aberto, a beberem o que lhes apetecer – do whisky ao vodka, passando pela tequila, rum e, claro está, a habitual cervejinha – na quantidade que lhes apetecer. Depende do andamento de cada um, sendo que a Trafic, essa, não pára, rodando por pontos previamente acordados com o grupo. Regra geral, os tours são efectuados em Albufeira, duram uma hora e custam 12€ por conviva. Mas a empresa está disponível para fazer percursos mais extensos ou outras deslocações – neste caso, por valores de outra ordem, que convém negociar e fazer as contas antes, porque a bebida tem o condão de assassinar os melhores conhecimentos de matemática.

Mais vocacionada para clientes portugueses, que contratam 60% das viagens, a Ripper Tours preenche com os ingleses e alemães o resto do expediente. Entre Abril e Outubro opera diariamente, sendo que nos restantes meses admite fazer “uma perninha” se aparecerem clientes. O que, “no Carnaval, é bem provável que aconteça”.

O negócio está mais vivo do nunca, tanto que Nelson e os seus sócios já começaram a construir um segundo caixão, que vai servir de bar no segundo veículo da empresa. O novo Uber da copofonia será uma ainda mais velhinha Bedford, que está a ser recuperada e que promete ser muito mais assustadora. Sobretudo depois de uns copos.