Era uma vez uma equipa nascida em 1924 num principado pequeno, simpático, com pouco mais de dois quilómetros quadrados, que tem hoje menos de 40 mil pessoas nela a habitar e onde a vida é mais cara do que temos por cá.

Começou de forma amadora, foi convidada para uma honrosa segunda divisão, voltou a descer aos escalões amadores. Na década de 60 emancipou-se de vez, tendo conquistado dois Campeonatos e duas Taças. E ganharam também nos anos 70. E nos anos 80. E nos anos 90. Não eram muitos títulos, mas bastavam para ser vista como uma equipa boa, com um futebol atraente, com verdadeiros artistas da bola. Por lá passaram Barthez, Thuram, Petit, Henry, Trezeguet, Weah, Ikpeba… Coisa boa, de topo mesmo. E quando nem tinha um conjunto tão forte, foi mesmo a uma final da Champions. Que perdeu, com o FC Porto.

Em 2000, ganhou o último Campeonato. Em 2004, esteve no jogo decisivo da maior prova europeia. Uau, que história! Mas vai daí, veio um bicho papão tão grande, tão grande que, mesmo com um dos maiores orçamentos, empurrou a pobre (de resultados, apenas isso) equipa para a 2.ª Divisão. Oh, e agora?, terão pensado os poucos adeptos. E lá apareceu o cavaleiro salvador vindo da Rússia, Dmitry Rybolovlev, empunhando não uma espada mas muitos, muitos rublos. Subiu à Ligue 1, investiu 150 milhões de euros em jogadores, nada ganhou.

Tão depressa a torneira abriu como fechou. Ainda assim, o milionário russo teve o dom de contratar um autêntico flautista de Hamelin. Como se chamava? Leonardo Jardim. Não precisou de contratar craques, agarrou em miúdos e teve o toque de Midas para fazer deles craques. E assim atingimos este capítulo do conto de fadas. Que, a nível de Champions, terminou esta noite, nas meias-finais: o futebol dos principezinhos do Mónaco encanta a Europa mas não foi o suficiente para derrubar a Juventus. A Vecchia Signora não vai em ladainhas, sabe muito. Mesmo com a nova música que português trouxe a Turim.

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Ficha de jogo

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Juventus-Mónaco, 2-1 (4-1)

2.ª mão da meia-final da Liga dos Campeões

Estádio da Juventus, em Turim

Árbitro: Björn Kuipers (Holanda)

Juventus: Buffon; Barzagli (Benatia, 85’), Bonucci, Chiellini, Alex Sandro; Khedira (Marchisio, 10’), Pjanic, Dani Alves; Mandzukic, Dybala (Cuadrado, 54’) e Higuain

Treinador: Massimiliano Allegri

Suplentes não utilizados: Neto, Lichtsteiner, Asamoah e Rincon

Mónaco: Subasic; Glik, Jemerson, Raggi, Sidibé; Bakayoko (Germain, 78’), João Moutinho; Bernardo Silva (Lemar, 69’), Mendy (Fabinho, 54’), Mbappé e Falcao

Treinador: Leonardo Jardim

Suplentes não utilizados: De Sanctis, Dirar, Diallo e Carrillo

Golos: Mandzukic (33’), Dani Alves (44’) e Mbappé (69’)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Falcao (40’), Mendy (51’), Bonucci (73’) e Mandzukic (90+1’)

A perder por 2-0 na eliminatória, Jardim entrou em campo com um sistema de 3x4x3 a atacar que se transformava em 4x5x1 ou 5x3x2 sem bola. E isto, como diz Jorge Jesus, não é apenas um número de telefone – diz muito, ou quase tudo, sobre o jogo. Tanto que, nos primeiros minutos, conseguiu mesmo ter o condão de baralhar o modelo de jogo de Allegri. Mas a surpresa acabou cedo.

Mesmo perdendo Khedira (30 anos) logo aos 10’ por lesão (entrou Marchisio, 31 anos), o conjunto italiano foi controlando o encontro e só não inaugurou mais cedo o marcador porque Subasic quis ter uma palavra a dizer para a coisa não desafinar tanto para o Mónaco: Higuaín (29 anos) ameaçou (22’), Madzukic (30 anos) fez o ultimato final (25’) mas à terceira seria mesmo de vez, com o avançado croata a inaugurar o marcador após cruzamento de Dani Alves (34 anos), numa jogada que começou em contra-ataque e foi concluída já em ataque posicional organizado. Um hino ao futebol!

Ainda antes do intervalo, quando Mbappé (18 anos) já tinha atirado muito perto do poste da baliza de Buffon (39 anos), o lateral brasileiro cansou-se de estar sempre a fazer todas as assistências para golo e puxou da culatra atrás, de primeira, fora da área. Que bomba, que golo. Se 2-0 era muito difícil e 3-0 quase impossível, o que dizer de uma eliminatória que, a 45’ do fim, já estava nos 4-0?

P.S. Com a idade dos jogadores da Juventus, já percebeu onde esteve a maior diferença entre as duas equipas nas horas das decisões?

A Juventus fechou a loja. Ainda andou ali a cheirar a baliza do Mónaco, mas a partir do momento em que Dybala foi poupado, o jogo ofensivo caiu a pique. E seriam mesmo os visitantes a dar nas vistas, com o prodígio Mbappé, que já tinha ameaçado Buffon antes, a reduzir a cerca de 20 minutos do fim.

A história, essa, estava escrita. E a Juventus, de forma natural, qualificou-se para a final da Liga dos Campeões, onde encontrará o Real ou o Atlético de Madrid.

Já o Mónaco, esse, perdeu apenas um capítulo no seu conto de fadas. Porque o resto da história continua lá, bem viva. E a vitória no Campeonato de França ainda nos pode fazer acreditar que continuam a haver finais felizes. Para Mbappé, o miúdo maravilha de 18 anos. E para Lemar e Mendy, de 21 . E Bernardo Silva e Bakayoko, de 22. E Fabinho, de 23. E Jemerson e Sidibé, de 24. Eles ainda vão continuar a encantar por muitos e muitos anos.

Para já, o futebol mostrou que pode ser tudo menos romântico. Não ganhou o mais bonito, ganhou o melhor.