O ex-diretor do FBI, James Comey, vai dizer na quinta-feira que o presidente norte-americano Donald Trump o pressionou várias vezes para dizer publicamente que não estava a ser investigado sobre a alegada interferência russa nas eleições legislativas do ano passado, avança o The New York Times.

De acordo com os documentos escritos por Comey para a audição de quinta-feira, o presidente norte-americano perguntou a Comey, num telefonema datado de 30 de março, o que é que poderia ser feito para “levantar a nuvem” que pairava sobre a sua cabeça relativamente à investigação da alegada interferência russa nas legislativas norte-americanas.

Nesse telefonema, Donald Trump disse ao ex-diretor do FBI que a investigação à Rússia estava a prejudicar a sua capacidade de governar o país. A 9 de maio, James Comey foi demitido de forma repentina, na altura em que supervisionava a investigação aos alegados contactos que foram mantidos entre os responsáveis pela campanha política de Donald Trump e os agentes russos.

James Comey confirmou também na declaração escrita enviada ao Congresso que Donald Trump lhe pediu para abandonar a investigação sobre Michael Flynn, ex-conselheiro envolvido no caso da alegada ingerência russa nas presidenciais. O episódio remonta a 14 de fevereiro, dia em que o presidente norte-americano disse a Comey: “Espero que possa encontrar uma forma de abandonar isto, de deixar Flynn. É um bom homem”.

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Segundo o ex-responsável pelo FBI, o pedido do presidente norte-americano estava relacionado com a investigação relativa às declarações de Flynn sobre as conversas que manteve com o embaixador russo em dezembro” e não com o inquérito mais alargado sobre um eventual conluio entre a Rússia e a campanha presidencial do candidato republicano.

“Foi contudo muito preocupante, tendo em conta o papel do FBI como um serviço de investigação independente”, escreveu Comey.

Nesta declaração de sete páginas, e divulgada esta quarta-feira pelo Comité dos Serviços de Inteligência do Senado, o ex-responsável do FBI relatou os detalhes de um jantar na Casa Branca que decorreu a 27 de janeiro. Nessa ocasião, Trump disse: “Preciso de lealdade. Eu espero lealdade”.

“Não consegui reagir, falar ou mudar a expressão da minha cara”, escreveu o antigo diretor do FBI, descrevendo “um silêncio constrangedor”.

James Comey relata no mesmo documento que respondeu ao chefe de Estado que este “teria sempre honestidade” da sua parte, aceitando o pedido de Trump de uma “honestidade leal”. E confirmou que documentou o conteúdo das suas conversas com o presidente, como divulgaram vários ‘media” norte-americanos.

O antigo diretor não presta declarações públicas desde a sua demissão. A sua audição vai decorrer no Comité dos Serviços de Inteligência do Senado (câmara alta do Congresso norte-americano) às 10h00 locais (15h00 em Lisboa). Depois desta audição pública, haverá outra, à porta fechada, diante dos 15 membros republicanos e democratas que compõem o comité e que estão abrangidos pelo dever de sigilo.