Assim, Emmanuel Macron poderá repetir as palavras atribuídas a Luís XIV: “O Estado sou eu”. Depois de ter sido catapultado para a presidência numas eleições presidenciais onde concorreu por um movimento formado com apenas um ano de antecedência, os dois partidos que apoiam o novo Rei Sol francês conquistaram uma maioria absoluta que pode passar dos dois terços da Assembleia Nacional. Além disso, poderá ser a maioria mais expressiva da V República francesa, fundada em 1958.

Projeção final da Elabe, para a BFMTV

Segundo a projeção final da Elabe, para a BFMTV, os dois partidos pró-Macron (República em Marcha e MoDem) deverão ter 350 deputados — 60,7% da Assembleia Nacional e bem acima dos 289 que representam o limiar mínimo para a maioria absoluta.

Em segundo lugar, surge Os Republicanos e os seus aliados, que terão 136 parlamentares. A fechar o pódio, está o Partido Socialista, coligado a outros partidos mais pequenos da esquerda. Ao todo, passará a ter 46 deputados — uma queda vertiginosa dos 280 conquistados em 2012 e inegavelmente o seu pior resultado numas legislativas.

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À extrema-esquerda, a França Insubmissa, deverá ter 26 parlamentares. À extrema-direita, a Frente Nacional conquista 8 deputados — o seu melhor resultado numas legislativas mas, ainda assim, um retrocesso depois de ter chegado à segunda volta das presidenciais, em maio. Entre os deputados da Frente Nacional estará Marine Le Pen, que, depois depois de quatro tentativas falhadas ao longo dos anos, conseguiu ser eleita pela primeira vez para a Assembleia Nacional.

Há ainda uma entrada inédita para aquela câmara por parte do Inseme per a Corsica, que terá agora 3 deputados. Nicolas Dupont-Aignan, que nas presidenciais surgiu como a escolha de Marine Le Pen para primeiro-ministro, foi o único deputado eleito sob a égide do Debout La France.

Os números acima referidos dizem respeito a uma projeção e são sujeitos a alterações, embora pequenas. Às 00h40 locais (23h40 de Lisboa), o Ministério do Interior anunciava que 97% dos votos já estavam contados.

Além destes resultados, há ainda outro número incontornável e que os adversários de Emmanuel Macron tratarão de sublinhar: tal como já tinha acontecido na primeira volta, este domingo a abstenção voltou a subir a um número recorde. Se a 8 de junho o número chegou aos 51,3% (a primeira vez que, numas legislativas, houve mais gente a abster-se do que a votar), este domingo essa cifra subiu até aos 56,6%.

A segunda volta destas eleições legislativas marca a oitava e última vez que os franceses são chamados às urnas em menos de um ano, depois de um período eleitoral intenso. Começou em novembro de 2016 com as primárias da direita, a duas voltas; continuou com as primárias da esquerda, igualmente as duas voltas; atingiu um pico com as presidenciais, disputadas em abril e em maio; e terminou agora em junho, com duas chamadas para ir votar nas legislativas.

Reações dos partidos aos resultados

Jean-Christophe Cambadélis, Partido Socialista: “A esquerda tem de mudar tudo”

A primeira reação da noite pertenceu ao Partido Socialista, na voz do seu primeiro secretário, Jean-Christophe Cambadélis, que perante os resultados apresentou a demissão do cargo. “A esquerda tem de mudar tudo, desde a forma ao conteúdo, das suas ideias às suas organizações”, disse, perante o pior resultado da história do Partido Socialista. “A esquerda tem de abrir um novo ciclo.”

François Baroin, Os Republicanos: “O veredito das urnas é claro”

Pouco depois, falou François Baroin, d’Os Republicanos. “O veredito das urnas é claro”, disse, enviando as suas “felicitações mais republicanas” a Emmanuel Macron. Sobre o resultado que coube ao seu partido — a projeção da Elabe prevê-lhe entre 95 e 122 deputados, uma quebra dos 194 de 2012 —, François Baroin disse: “Apesar da nossa eliminação nas presidenciais [François Fillon ficou em terceiro na primeira volta], a campanha intensa que levámos permitiu-nos constituir um grupo suficientemente importante para defender os nossos valores”. “A missão [do nosso grupo parlamentar] será de fazer ouvir as nossas diferenças, nomeadamente no plano fiscal”, acrescentou.

Marine Le Pen, Frente Nacional: “A paisagem política mudou”

Marine Le Pen, da Frente Nacional, disse que “a paisagem política mudou consideravelmente”. “Nós somos a única força de resistência, nós vamos continuar a ser os defensores dos interesses do povo francês, disse. “É essencial instaurar a proporcionalidade nas eleições legislativas e noutros eleições”, disse, aludindo ao facto de que, apesar de o seu partido ter reunido 13,2% dos votos na primeira volta, a Frente Nacional não ocupará mais de 1,2% dos assentos parlamentares. Sobre a abstenção histórica, disse que esta “fragiliza consideravelmente a legitimidade da nova Assembleia Nacional”.

Jean-Luc Mélenchon, França Insubmissa: abtstenção é “greve geral cívica”

O líder da França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, anunciou que foi eleito e que o seu partido irá formar um grupo parlamentar, já que passará do limite de 15 deputados. “O nosso grupo e o nosso movimento, fortalecido pelos seus 500 mil afiliados, é uma força imensa”, disse. “O povo francês não deu nenhuma oportunidade aos sobreviventes do mundo antigo e escolheu-nos para levar adiante o combate.” Sobre a abstenção, disse: “O nosso povo está numa greve geral cívica. Eu vejo nesta abstenção uma energia disponível para que nós saibamos convencê-los a entrarem no combate”.

Édouard Philippe, primeiro-ministro, República Em Marcha: “Esta noite abre-se o tempo da ação”

O homem escolhido por Emmanuel Macron para seu primeiro-ministro, Édouard Philippe, discursou diretamente do Palácio de Matignon, a residência oficial. “Os franceses preferiram a esperança à raiva”, disse. “Vocês deram uma maioria clara ao Presidente da República e ao governo.” Sobre a abstenção, disse que esta “nunca pode ser uma boa notícia para a democracia”. Referindo que o seu Governo é “humilde e determinado”, disse que “esta noite abre-se o tempo da ação”.