O petróleo continua a ser fundamental para um conjunto de indústrias, uma vez que os seus derivados têm aplicações numa série de áreas. Até nos transportes, onde lideraram nos últimos 100 anos, ou pouco mais, e onde prometem ter uma palavra a dizer nas próximas décadas, pois ainda em 2030 tudo aponta para que 70% do parque automóvel europeu – nos outros continentes a percentagem promete ser ainda superior – recorra a motores de combustão como unidade principal, se não a única.

Mas se o petróleo ainda é uma constante do nosso modo de vida, enquanto civilização, isso não implica que se possa escamotear os efeitos nefastos que acarreta a sua exploração, transporte, refinação e queima. Porém, esta não é a interpretação da Noruega, que anunciou a abertura de mais um campo petrolífero “amigo do ambiente”.

Os noruegueses viram disparar o seu nível de vida com a descoberta de petróleo no Mar do Norte, que exploram de forma a utilizar os enormes lucros daí resultantes para custear os serviços sociais, entre outros, com que contemplam a sua população. E para compensar as toneladas de crude que retiram do subsolo, investem uma (pequena) parte das verbas que daí advêm no subsídio de veículos eléctricos. Foi isto que permitiu que fosse atribuído a Oslo o galardão da cidade mais amiga do ambiente, pela sua aposta na electrificação dos transportes, apesar da conta ser paga com os lucros da exportação do petróleo, que é queimado nos países vizinhos.

Agora a Noruega anunciou com pompa e circunstância o início da exploração de um novo campo petrolífero, o Johan Sverdrup, a apenas 87 milhas da costa (cerca de 140 km), de onde espera extrair 2,7 mil milhões de barris de crude, o que deverá render aos cofres do país mais de 100 mil milhões de dólares. Está previsto que funcione durante os próximos 50 anos, sendo que esta longevidade vai colidir com o facto de a Noruega ter assinado o Acordo de Paris, que prevê a neutralidade carbónica em 2030, ou seja, dentro de 10 anos.

A Noruega exporta hoje mais de 2 milhões de barris por dia e o novo poço vai elevar consideravelmente esta fasquia. As emissões médias de CO2 do país rondam as 10 toneladas por habitante, num total de 58 milhões de toneladas por ano, em linha com a média europeia, segundo o serviço de estatística norueguês. Mas de acordo com as Nações Unidas, as emissões resultantes do petróleo e gás exportado pelo país ascenderam, só em 2017, a 470 milhões de toneladas.

São estes valores que tornam no mínimo estranho o facto de a Noruega reivindicar para o novo campo petrolífero o estatuto de uma boa notícia para o ambiente, como é anunciado no site oficial da empresa estatal Equinor. E tudo porque a plataforma de perfuração vai ser mais eficiente do ponto de vista energético do que o habitual, produzindo apenas 0,65 kg de CO2 por barril, em vez dos habituais 18 kg/barril. Pena é que, como afirmou Paarup Michelsen, o CEO da Fundação Norueguesa para o Clima, a perfuração represente apenas 5% do total de gases emitidos durante a exploração do petróleo.

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