Pouco depois de o Governo fazer saber que todas as escolas vão encerrar já esta sexta-feira, o Presidente da República e recandidato a Belém disse ao Observador que esta decisão “vai ser demolidora para o ano letivo”. Marcelo Rebelo de Sousa concorda, no entanto, com a decisão de “fechar o mais cedo possível para se perceber e enfrentar os desafios” que se colocam em relação à pandemia que surpreendeu o chefe de Estado nos últimos dias. E tem uma dupla ação, segundo Marcelo, já que “manter os meninos em casa é manter os pais em casa”, numa altura em que tem sido difícil e os responsáveis político têm criticado os portugueses por não cumprirem o confinamento geral.

A decisão do fecho das escolas, diz Marcelo, “corresponde a uma situação nova que parece mais grave do que se pensava porque há duas semanas a nova estirpe representava 5% dos casos e agora representa 20% e com tendência a galopar”. O Presidente refere-se à estirpe britânica, que é 50% a 70% mais contagiosa do que o coronavírus, que surgiu há cerca de um ano e que se evidenciou primeiro em Portugal, pelo menos com estes números tão expressivos de contágios, porque o país “é um dos quatro países do mundo com mais ligações a Inglaterra”.

O recandidato presidencial diz que não foi apanhado de surpresa por este recuo do Governo — que ele próprio antecipou na tarde esta quarta-feira –, mas não pelas conversas com o primeiro-ministro. Confessa que tem “falado muito com a ministra da Saúde e ela já estava muito nesta onda”. “Os dados que estavam a chegar dos laboratórios que têm maior número de testes já estavam a dar nota deste fenómeno”, adianta ao Observador, evitando polémicas sobre divisões no interior do Governo sobre esta matéria. Quando questionado se a ministra estava a pressionar mais no sentido do fecho contra a maioria do Governo, Marcelo diz apenas que “a ministra é mais conhecedora  e estruturalmente sensível aos argumentos sanitários”.

Marcelo quer decisão sobre fecho das escolas até amanhã

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Na semana passada, depois de uma reunião do Infarmed, o Governo descartou o fecho das escolas, alegando que a decisão não era pacífica entre especialistas, nomeadamente no que dizia respeito aos alunos com mais de 12 anos. A manutenção das aulas presenciais dos mais jovens era, nessa altura, um tema mais consensual, com o próprio primeiro-ministro a dizer que “todos os especialistas foram convergentes em que, relativamente a crianças mais pequenas, até aos 12 anos, nada justifica o fecho das escolas”. Mas no espaço de uma semana veio dar o flanco, no debate parlamentar desta terça-feira, e esta quarta-feira recuou em toda a linha.

Confrontado com este ziguezaguear do Governo em matéria de escolas, Marcelo não é direto e apenas diz que “havia muita intenção do primeiro-ministro e do Governo de salvar o que pudesse do ano letivo”: “Havia muito essa ideia e, como estava a correr bem, foi-se tentando manter, mas de repente começou a correr menos bem”. E acrescenta agora que “o facto de as pessoas estarem mais desgastadas” terá sido “um argumento decisivo para o primeiro-ministro e o Governo”.

O candidato e Presidente, que já se responsabilizou pela decisão de levantar as restrições no período do Natal, garante agora que a situação que se apresenta hoje “não tem nada a ver com o Natal — isso já passou, bem como o Ano Novo”. E também refere que a realidade da pandemia se tornou “mais preocupante”, já que “pode demorar mais tempo” a resolver-se, tanto que o chefe de Estado não descarta que a Europa possa avançar, como um todo, com medidas mais restritivas do que as que atualmente vigoram: “Não me admirava que a Europa voltasse a fechar e regressasse a uma situação já vista em março”.