Na situação criada por alguns hooligans russos no Campeonato da Europa de Futebol, esperava-se apelos unânimes à calma da parte dos dirigentes de Moscovo, mas alguns deixam escapar o que realmente vai na alma de muitos deles.

Igor Lebedev, vice-presidente da Câmara Baixa do Parlamento da Rússia, veio publicamente felicitar os hooligans russos envolvidos nos confrontos de sábado na cidade de Marselha, antes e durante o Rússia-Inglaterra (1-1) e que provocaram 35 feridos, quatro dos quais em estado grave. “Não vejo nada de condenável nas lutas entre adeptos. Pelo contrário, dou os parabéns aos nossos rapazes! Continuem! Não percebo como é que existem políticos e dirigentes a condenar os nossos adeptos. Temos de os proteger e compreendê-los”, escreveu Lebedev na sua conta do Twitter.

O deputado não fica por aí e lança críticas à polícia francesa: “O que aconteceu em Marselha e noutras cidades francesas não tem a ver com o álcool, mas com a incapacidade da polícia no que respeita à organização do Campeonato da Europa”.

É verdade que Igor Lebedev é vice-chefe do Partido Liberal-Democrático da Rússia, força política ultra-nacionalista dirigida pelo pai, Vladimir Jirinovski. Ao contrário de Marine Le Pen, que suavizou o seu discurso se comparado com o do pai Jean Marie, Lebedev continua a retórica do pai Vladimir, que não se cansa de, nos órgãos de informação russos, principalmente na televisão, onde é um convidado frequente, ameaçar fazer desaparecer os Estados Unidos através de ataques atómicos, invadir a Europa ou prometer atacar os imigrantes e minorias nacionais e sexuais.

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Comparo Lebedev a Marine Le Pen, porque Jirinovski é um amigo de longa data de Jean Marie Le Pen.

O Partido Liberal-Democrático é, pelo número de deputados, a terceira força política que o Kremlin autoriza a estar presente na Duma Estatal, e representa uma franja significativa do eleitorado russo, cada vez mais envenenado pelo nacionalismo e chauvinismo da propaganda oficial.

Além disso, e é bem mais grave, Lebedev é membro do Conselho Executivo da União de Futebol da Rússia, organização que no nosso país corresponde à Liga Portuguesa de Futebol. Ou seja, este neonazi está ligado a uma das mais importantes organizações do mundo do futebol do país onde se irá realizar o Campeonato do Mundo de 2018.

O comportamento de alguns adeptos russos em França continua a não ser o melhor. Numa operação stop, a polícia francesa mandou parar vários autocarros, mas os adeptos russos recusaram-se a identificar-se e a abandonar os autocarros em que seguiam. Se tal acontece no país deles, a polícia russa, a julgar pelas investidas contra a oposição liberal, não teria o mesmo comportamento calmo da francesa. Teriam saído sem piar pois, caso contrário, apanhavam pela medida grande. Mas, estando na Europa, lembram-se que têm direito a chamar o cônsul, etc., etc.

A UEFA já reagiu aos confrontos entre russos e ingleses, mas tentou não “irritar o urso russo”, limitando-se a uma multa de 150 euros e a uma repreensão, ou seja, a dizer que a seleção poderá ser desqualificada se os adeptos russos continuarem a provocar desordens.

Esperemos que dê o efeito desejado, pois a continuação da equipa russa em prova só enriqueceria a competição. Mas, se tal não acontecer, considero que se deve começar a pensar tirar à Rússia o Campeonato do Mundo de Futebol de 2018 passando-a para países mais calmos e seguros. Já se viu que pactuar com situações destas dá muito maus resultados.