Os sírios vão esta terça-feira às urnas no meio de uma guerra civil sangrenta, mas não são esperadas grandes surpresas. Bashar al-Assad deverá ganhar as eleições presidenciais e conquistar um terceiro mandato de sete anos.

Pela primeira vez em décadas, mudanças na lei permitiram outras candidaturas. Maher Hajjar, um homem de negócios, e Hassan al-Nouri, um deputado de Aleppo, são os candidatos que concorrem contra Assad.

Mas tal como explicava em abril o New York Times, aqueles que querem concorrer precisam do apoio de pelo menos 35 membros do Parlamento, o que praticamente impossibilita a candidatura de opositores ao Governo. Para além disso, os candidatos não podem ter vivido fora da Síria nos últimos 10 anos e não podem ter cidadania de outro país, o que exclui todos os membros da Coligação Nacional Síria, o grupo da oposição reconhecido pela comunidade internacional.

Apesar de oficialmente 15 milhões de pessoas serem elegíveis para votar, as eleições só acontecerão em áreas controladas pelo Governo, tendo sido montadas 9600 mesas de voto por todo o território. Muitas zonas do país estão nas mãos dos rebeldes ou são disputadas.

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Os críticos do Governo já denunciaram estas eleições como um embuste. Segundo a BBC, os correspondentes na Síria dizem que os dois novos candidatos não são muito conhecidos pela população e que não lhes foi possível fazer uma campanha semelhante à de Assad. Enquanto as fotografias do presidente se encontram espalhadas por toda a cidade de Damasco, é mais difícil encontrar imagens de Maher Hajjar e Hassan al-Nouri, escreve o Guardian.

O centro de Damasco está sob controlo apertado, mas é possível ouvir o som dos bombardeiros que corresponde ao avanço do exército para travar os rebeldes, que, teme-se, podem provocar distúrbios nestas eleições, escreve o Guardian. Todos os dias há manifestações e protesto. A presença de jornalistas internacionais foi muito limitada.

A oposição anunciou que ia tentar destabilizar o voto e a Coligação Nacional Síria está a boicotar o ato eleitoral. O líder deste grupo, Ahmad al-Jarba, citado pela BBC, disse que as eleições são “um teatro escrito com o sangue dos sírios” e acusou o presidente Assad de estar a planear bombardear as mesas de voto e atribuir a culpa à oposição.

Três anos depois de uma guerra civil que provocou cerca de 160 mil mortos e fez milhões de desalojados, muitos sírios acreditam que Assad será o único capaz de pôr fim ao conflito. O correspondente da BBC em Damasco, Jeremy Bowen, acredita que estas eleições refletem uma nova confiança no regime de Assad.

De acordo com o Guardian, os ativistas da oposição têm continuado, de forma discreta, o apoio humanitário, mas o moral está em queda. “Toda a gente está a sair”, disse Mona. “Perdemos a esperança”. Mona, que tenta obter um visto para sair do país, falou ao jornal britânico. Lamenta que o objetivo da revolução tenha sido desviado por radicais islâmicos e que Assad vá governar pelo menos mais sete anos: “Estamos a entrar noutra fase da eternidade síria – o controlo duradouro da ditadura. Aqueles que ficarem terão de se vergar para sobreviver. Aqueles que conseguiram escapar encontrarão outro lar. Mas não na Síria”.

As mesas de voto abriram às 7h, hora local (4h em Lisboa) e vão fechar 12 horas depois, ainda que o ato eleitoral possa ser prolongado caso haja uma grande adesão às urnas.