A escolha do futuro comissário europeu de Portugal é o novo fator de discórdia entre António José Seguro e António Costa. Os dois até têm a mesma posição, querem que seja um socialista, mas a polémica estalou.

“É uma proposta que vem a destempo e revela contradições de quem achava os resultados eleitorais insuficientes. Pelos vistos, não são insuficientes, senão não pediam isto”, comenta ao Observador António Galamba, dirigente nacional do PS, acrescentando que a declaração de Costa “é mais uma prova de que não é pelas propostas diferentes que aquela candidatura se apresenta”.

António Costa declarou estar disponível para disputar o cargo de secretário-geral do PS na sequência do resultado das eleições europeias, dia 25, considerando que a vitória dos socialistas tinha sabido “a pouco”.

Na segunda-feira, o autarca de Lisboa defendeu que “o próximo comissário europeu em representação de Portugal deve ser socialista”, para que “não vá defender a política que os portugueses claramente rejeitaram nas eleições europeias”, ocasião em que os eleitores deixaram a “mensagem clara” de que “não querem mais este Governo”.

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Segundo Galamba, desde novembro de 2012 que o PS defende que o próximo comissário europeu escolhido por Portugal deva ser indicado pelo PS, altura em que o Expresso deu a notícia. “O PS não despertou para esta questão com os resultados das europeias”.

A direção do PS tem dois argumentos a apresentar. Primeiro: em 2009 o PS apoiou a recondução do social-democrata Durão Barroso para a presidência da Comissão Europeia; segundo: agora ganhou as eleições europeias, “tal como é sublinhado por quem contestava essa vitória”. “Se todos os partidos socialistas na Europa tivessem tido um resultado como o que o PS teve em Portugal, o Partido Socialista Europeu estaria a indicar o presidente da Comissão Europeia”, insiste Galamba.

Do lado do Governo, porém, a intenção é a de indicar um comissário da sua área política. “A não ser que seja o Luís Amado”, defende fonte do Governo, em tom provocatório, referindo-se ao ex-ministro dos Negócios Estrangeiros socialista, que pertence à ala direita do PS. De qualquer forma, o fator determinante para a escolha do Governo é a indicação clara já dada em dezembro pelo presidente do Partido Popular Europeu (PPE) a todos os chefes de Governo que integram esta família política para que não escolhessem comissário fora do PPE.

Discussão igual na Bulgária

Em 12 dos 28 países da União Europeia, as eleições para o Parlamento Europeu foram ganhas por partidos que atualmente não estão no Governo. Os casos mais mediáticos são os da França, (onde a Frente Nacional venceu com 25% dos votos, deixando em terceiro lugar o Partido Socialista do primeiro-ministro François Hollande), da Grécia (onde o Syriza ficou à frente do Pasok e do Nova Democracia, os dois partidos da coligação governamental) e do Reino Unido (o Ukip de Nigel Farage ficou em primeiro lugar, enquanto os conservadores ficaram em terceiro lugar). Mas em países como a Bélgica, a Holanda, a Suécia, a Irlanda, a Dinamarca ou a Bulgária, isso também se verificou.

Na Bulgária, Boyko Borisov, líder do partido da oposição Cidadãos pelo Desenvolvimento Europeu da Bulgária, vencedor das eleições europeias com 30% dos votos, perguntou, dois dias após o anúncio dos resultados, com que direito é que Sergey Stanishev, líder do Partido Socialista da Bulgária, irá nomear o próximo comissário europeu búlgaro. O PS da Bulgária teve 19% dos votos nas eleições para o PE. Entretanto, na segunda-feira, Stanishev anunciou que o Governo devia demitir-se imediatamente e que era necessário convocar eleições antecipadas para julho. “Depois das eleições, toda a gente percebeu que o Executivo não ia aguentar até ao fim”, disse Stanishev.

É o primeiro Governo a cair desde as eleições europeias, o que se deve, acima de tudo, à polémica com a construção do gasoduto South Stream. Este gasoduto estava a ser financiado pela companhia russa Gazprom e iria permitir enviar gás para a Europa ocidental através dos Balcãs, evitando a Ucrânia. A Comissão Europeia pediu à Bulgária para suspender as obras uma vez que o gasoduto violava algumas regras de competição da UE.

Na Eslováquia, o primeiro-ministro Robert Fico, social-democrata, confirmou no dia 27 de maio a nomeação de Maros Sefcovic, também social-democrata, como o próximo comissário europeu eslovaco.

Na Hungria, o vice primeiro-ministro Tibor Navracsics sugeriu que podia ganhar a nomeação para comissário europeu. Navracsics é do mesmo partido do primeiro-ministro Viktor Orban, o Fidesz, que ganhou as europeias com 51% dos votos.