A abertura de uma torneira também gasta energia, porque a água teve de ser bombeada para reservatórios, e esses custos podem ser reduzidos com um “software” criado pela Universidade de Aveiro, anunciou nesta quarta-feira aquela entidade. Otimizar o controlo operacional das redes de abastecimento de água é o grande objetivo de uma ferramenta computacional desenvolvida por um grupo de investigadores do Departamento de Engenharia Mecânica (DEM) da Universidade de Aveiro (UA).

O novo “software”, capaz de analisar detalhadamente todo o funcionamento de uma rede de distribuição de água, fornece novas opções de controlo, quer para estações de bombagem quer para válvulas existentes ao longo da rede, minimizando com isso os elevados custos energéticos e económicos associados.

O “software” integra um módulo de simulação hidráulica para análise e controlo de parâmetros operacionais das redes, um módulo de otimização responsável pela determinação dos parâmetros ótimos de controlo das bombas e válvulas existentes, bem como um módulo de previsão de consumos, permitindo assim a otimização integrada das redes em tempo real.

“De acordo com o Relatório Anual dos Serviços de Águas e Resíduos em Portugal, em 2011, os gastos totais com a prestação de serviços de águas e resíduos por entidades gestoras de natureza não empresarial ascenderam a 788,2 milhões de euros, dos quais 42 por cento se referem ao serviço de abastecimento de água”, refere Bernardete Coelho, a investigadora que, a par com o professor Gil Andrade-Campos, responsável pelo projeto, coordenou o trabalho.

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O novo “software” permite ajustar o funcionamento das bombas para que este ocorra essencialmente em períodos de menor custo energético e afinar a velocidade das bombas às variações de consumo.

Nos sistemas de bombagem, os equipamentos implicam elevados consumos de energia no transporte da água, quer para estações de tratamento, quer para os reservatórios responsáveis pelo abastecimento das populações. “Dados os elevados consumos energéticos, o controlo eficiente de equipamentos que utilizam motores, como é o caso das bombas, é cada vez mais uma preocupação para a indústria, e não só a indústria da água”, aponta Bernardete Coelho.

A novidade do novo “software” é que permite ajustar o funcionamento das bombas para que este ocorra essencialmente em períodos de menor custo energético e afinar a velocidade das bombas às variações de consumo, reduzindo o consumo energético. Além disso, salienta Bernardete Coelho, “permite a rápida adaptação do funcionamento de qualquer sistema após alterações inesperadas, como sejam aumentos de consumo ou ruturas em tubagens, evitando assim custos desnecessários”.

Quando utilizado em modo “off-line”, através do módulo de simulação, “é possível testar alterações na rede de abastecimento quer a nível estrutural, [por exemplo, para alargamento da rede], quer a nível de controlo [por exemplo, para adaptação a diferentes consumos] e prever o seu comportamento perante tais alterações, fornecendo não só os valores de consumo e custos energéticos atualizados como também valores de caudais, níveis e pressões em todos os pontos da rede simulada ou troço de rede”, esclarece.

Desenvolvido no âmbito de um projeto QREN com a empresa portuguesa Telesensor, esta ferramenta computacional foi recentemente apresentada num congresso mundial da especialidade, o IAHR World Congress, e pode já ser utilizado por qualquer entidade que esteja ligada aos sistemas de abastecimento de água ou como laboratório de hidráulica.