No bairro de Stockbridge, na capital escocesa, ainda não são 8h00 mas os entusiastas do “Sim” montam banca e distribuem panfletos e autocolantes. Os condutores que concordam passam e apitam. Eufóricos. Na banca, sorrisos e braços no ar. Parece uma festa, mesmo num dia nublado e cinzento. Este é o dia decisivo para o futuro da Escócia. Daqui a algumas horas pode nascer um novo País, caso vença o “Sim”. Se vencer “Não” fez-se história, porque a Escócia abanou Westminster. E nessa história ainda há quem vá para a sala de voto indeciso.

Keith Spedding, o proprietário de dois cafés do bairro, é um deles. Começou por ser contra a independência assim que foi anunciado o referendo. A campanha pelo “Sim” fê-lo mudar de opinião. “Toda a minha família vai votar ‘Sim'”. Mas, há dois dias, apenas dois dias, pendia para o “Não”. Os argumentos do primeiro-ministro britânico, David Cameron, e as promessas de mais poderes para a Escócia fizeram-no vacilar.

Esta manhã de quinta-feira, Keith saltou da cama. Combinou encontro com um amigo para irem juntos votar. Chegaram os dois à igreja de Stockbridge, onde foram montadas as mesas de voto e juntaram-se à fila ordeira que andava rapidamente. Keith ainda se esqueceu da identificação, mas tinha na memória o número do cartão de eleitor e deixaram-no passar. Acabou por votar pela independência.

“Estive a estudar melhor os argumentos de Cameron e afinal a Escócia não teria independência económica. Não havendo ‘Devo Max’, prefiro que sejamos um País independente, mesmo se isso implique passarmos uma fase má”.

O “Devo Max“, ou “Devolution Max”, daria à Escócia independência fiscal e financeira. O Parlamento escocês poderia escolher os impostos a aplicar e gerir as suas receitas, mesmo mantendo-se no Reino Unido. Mas Cameron não arriscou tanto.

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O amigo de Keith está nervoso. Não quer falar de perspetivas. “Está tudo muito equilibrado, o “Sim” e o “Não”. Até tenho medo”, desabafa. Keith espera que ganhe o “Sim” para poder ir até ao Parlamento comemorar.”Se ganhar o ‘não’ o que fazem? Vão para casa beber chá?”.

Mais bandeiras catalãs que escocesas

No centro de Edimburgo o ambiente é diferente. Turistas misturam-se com jornalistas de vários países. Mas, não há grandes manifestações sobre o referendo. Destacam-se as bandeiras amarelas, da Catalunha.

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Pilar (à esquerda) diz que na Escócia há democracia porque houve hipótese de um referendo

Pilar, 60 anos, e Roser, 70, vieram de Barcelona com um grupo de amigos só por causa do referendo. “Queríamos ver como a faz. Independentemente do resultado, houve democracia na Escócia para votar”, afirma Pilar, que diz estar pronta para votar no referendo para a independência da Catalunha, já em novembro.

“Em Espanha não há democracia. Nem nos deixam votar, fazer um referendo. Porque sabem que ganharíamos”, diz Roser, que sublinha o facto de o grupo se ter deslocado à Escócia “num movimento pacífico”, contrário à ideia “que todos fazem do movimento independentista catalão.

Ao lado do antigo parlamento está um homem vestido com as cores da bandeira britânica. Diz que a mãe o educou com todos os remédios do Reino Unido. E é assim que faz sentido. Ele diz que vai votar não. Quer tudo como está.

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Em dia de referendo, ainda há quem se manifeste na rua

Mais abaixo, junto a uma das principais ruas da capital, a Prince’s Street, há uma parede com mensagens escritas à mão. São propostas para uma Constituição, a elaborar caso a Escócia se torne independente. A Constituição era já uma ideia do Partido Nacionalista Escocês. A Escócia baseia-se, no que pode, no Direito Romano. A Inglaterra no Direito Consuetudinário.

Os resultados das eleições só serão conhecidos durante a madrugada. Estima-se que os primeiros resultados provisórios sejam conhecidos pelas 2h00, mas dada a proximidade das sondagens, nenhum dos lados deverá assumir a vitória antes da decisão final e definitiva. Lá para as 6h00 já deve haver reações.

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Em muitas mensagens lê-se que a independência da Escócia permitirá dizer não à guerra e às armas nucleares