Durante cinco dias, já depois de ter informado os serviços de saúde que estava com febre, a auxiliar de enfermagem espanhola que foi infetada com o vírus do ébola esteve em contacto com o Hospital Carlos III, em Madrid, onde trabalha – mas os serviços hospitalares desvalorizaram as queixas. Esta é uma das conclusões a que já foi possível chegar relativamente ao contágio de Teresa Romero Ramos, que, entre o dia 30 de setembro, quando os primeiros sintomas surgiram, e a passada segunda-feira, fez a sua vida normal.

Para já, pouco mais do que isto se sabe, até porque o Ministério da Saúde espanhol não tem fornecido grandes informações aos jornalistas. O que parece, para já, certo é que houve um conjunto de erros ao longo de todo o processo. Antes mesmo de dizer ao Carlos III que estava com febre, Teresa Romero ter-se-á dirigido ao seu médico de família, que lhe disse que tinha gripe, avança o El Mundo. Segundo os serviços de saúde, a auxiliar de enfermagem não disse ao seu médico de família que tinha sido uma das pessoas responsáveis pelo tratamento de Manuel García Viejo, o padre que morreu de ébola a 25 de setembro. Assim, saiu do consultório apenas com uma receita de paracetamol.

E, a partir de 30 de setembro, telefonou todos os dias para o Hospital Carlos III a informar que tinha temperaturas corporais à volta dos 37,5 graus, mas aquela instituição aconselhou-a apenas a não sair de casa, porque os valores de febre que fazem disparar os alertas de ébola situam-se acima dos 38,6 graus. “Talvez se devesse ter aplicado um protocolo de isolamento”, admitiu Fernando Simón, coordenador do Centro de Alertas e Emergências Sanitárias do Ministério da Saúde espanhol. Mas tal não ocorreu porque “a febre era baixa, o que fazia com que o quadro [clínico] não fosse óbvio”, afirmou o responsável em declarações à rádio Cadena Ser.

Por fim, na segunda-feira, Teresa Romero foi levada de sua casa para o hospital mais próximo, o de Alcorcón, nos arredores da capital de Espanha. Foi transportada numa ambulância, mas como o protocolo contra o ébola não foi ativado, esse veículo continuou a transportar outros pacientes durante 12 horas depois do internamento de Teresa. Já no hospital, nenhuma precaução especial foi tomada, tendo Teresa Romero estado várias horas numa maca normal, apenas separada dos outros doentes por um biombo de madeira. As enfermeiras do Hospital de Alcorcón, os técnicos que foram a casa de Teresa buscá-la de ambulância e outras pessoas que com ela contactaram durante o período de 30 de setembro até segunda-feira estão todas em isolamento, neste momento.

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Uma falha de protocolo na origem do contágio?

Mais do que elencar as falhas ocorridas no período que decorreu entre os primeiros sintomas e a confirmação do primeiro caso de ébola em Espanha (e na Europa), as autoridades madrilenas estão empenhadas em perceber como é que o contágio se terá dado, em primeiro lugar. Teresa Romero garante, em entrevista ao El Mundo, ter seguido todos os protocolos de segurança quando lidava com o doente de ébola que morreu no fim de setembro.

Mas uma fonte da investigação que o Ministério da Saúde pôs em marcha disse ao El País que se suspeita que o contágio se poderá ter dado quando a auxiliar de enfermagem estava a despir o último dos três fatos isoladores que usou quando foi limpar o quarto de Manuel García Viejo, já depois da morte deste. Esta terça-feira alguns especialistas tinham denunciado que os fatos isoladores utilizados no Hospital Carlos III não estavam em conformidade com os padrões da Organização Mundial de Saúde.

Entretanto, o quadro clínico de Teresa Romero apresentou algumas melhorias, mas a situação mantém-se grave, permanecendo ainda a febre alta.