A Lusa percorreu várias assembleias de voto perto da hora do encerramento previsto das urnas, às 18:00 locais (19:00 em Lisboa) e em San Maria, um bairro da capital são-tomense, Josefa, de 46 anos, aguardava na fila desde as duas da tarde para poder votar.

“Isto é muito lento”, queixou-se, apontando para os membros da mesa de voto.

Do outro lado, responderam: “Temos de confirmar tudo, o apelido não bate certo”.

O polícia de serviço no local aproximava-se quando os ânimos se exaltavam e voltava depois a afastar-se. “Isto tem sido assim o dia todo, as pessoas reclamam muito, zangam-se, mas ainda não houve problemas maiores”, garantiu o agente à Lusa.

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No final da fila, mais uma agitação, um grupo de homens garantiu que não sairia dali enquanto não votasse: “Mesmo que sejam 22:00, a urna não sai daqui sem o meu voto”, ameaçou.

Mais calma, Euclaudísia aguardava pacientemente no último lugar da fila, mas garantiu que havia mais pessoas depois dela. “Às 18 horas distribuíram senhas e eu tenho o número 48”, disse. “Mas não vou desistir”.

Outra senhora praguejava ao telefone contra a lentidão dos elementos da mesa: “É preciso dez minutos para cada um poder votar. Nem amanhã vou conseguir”, disse.

Em várias outras assembleias de voto as filas eram ainda grandes e ninguém admitiu ter recebido o “banho à boca das urnas”, como é conhecida a compra de votos já enraizada nas eleições são-tomenses.

Mas quase todos admitiram que viram alguém ao lado a receber: “Chegam a ser 100.000 dobras”, cerca de quatro euros, disse à Lusa um jovem que pediu para não ser identificado.

O salário médio de um são-tomense é de 25/30 euros por mês. E as pessoas aguardam normalmente até ao último momento para votarem à espera do “banho” dos partidos.

Na escola primária Jorge Batista de Sousa, no bairro de Almeirim, também na capital são-tomense, já se contavam os votos.

Com falhas de energia constantes, as lâmpadas do teto piscavam, apagavam e era preciso recorrer às lanternas. Para garantir que a contagem continua, há também velas de reserva.

Enquanto um membro da mesa abre o voto e grita bem alto o resultado, as pessoas assistem do lado de fora das janelas com os vidros partidos e vão gritando quando lhes agrada ou assobiando quando o voto foi no partido que não o que escolheram.

Ao grito do colega de mesa, outro aponta no quadro o resultado: um risquinho em frente ao partido que recebeu o voto.

Um dos elementos da mesa disse que foi dada uma tolerância de cinco minutos para os votantes de última hora e que num universo de 471 houve 132 que não votaram.

Durante o dia foram muitos os conflitos, sobretudo quando alguém tentava furar a fila. “Todos têm que estar na bicha”, gritavam.

Em Guadalupe, um dos candidatos foi vaiado porque passou à frente.

Em Pantufo, na casa abandonada onde foi instalada a assembleia de voto, o Presidente são-tomense, Manuel Pinto da Costa, foi aplaudido.

Esperou na fila para votar.

Por Vera Magarreiro (Texto) e André Kosters (Fotos), enviados da agência Lusa