Nasceu numa aldeia da Beira Baixa, pagou o curso de Direito com a ajuda de trabalhos que fazia enquanto músico e chegou a ser magistrado do Ministério Público. Proença de Carvalho acabou por escolher ser advogado. Diz que o ordenado enquanto procurador não lhe chegava para sustentar a família. E, dez anos depois do tempo previsto para poder reformar-se, continua de serviço. Mais. Recomenda-o aos mais novos: “Não há advogados a mais. Lamento dizer que a Ordem dos Advogados tem contribuído para essa ideia”, disse perante uma plateia de alunos da Faculdade de Direito da Universidade Católica de Lisboa.

Sentado na ponta de um painel que contou com a Procuradora-Geral da República, Joana Marques Vidal, com o vice-presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Salazar Casanova, e quatro outros advogados, Proença de Carvalho diz que há cada vez mais falta de profissionais especializados.

“Vocês hoje sabem mais do que nós, saem melhor preparados. Sabem discutir em inglês fluente. Eu não sei!”, disse o advogado, que representa o ex-primeiro-ministro, José Socrates, em processos que ele interpôs contra órgãos de comunicação social.

A partilha de experiências, num debate moderado pela jornalista Inês Serra Lopes, integrou uma iniciativa da Universidade Católica, a JobShop – uma feira de emprego que reúne sociedades de advogados, consultoras e bancos. Logo ao início do evento foram dadas indicações expressas: “não há perguntas sobre processos judiciais em curso”. E, nem no final da sessão, a Procuradora-Geral e o advogado Proença de Carvalho quiseram prestar declarações à comunicação social.

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O advogado e antigo bastonário da Ordem dos Advogados, Rogério Alves, reforça o argumento de que continuam a ser necessários advogados: “não liguem a essa conversa dos advogados a mais”. E diz mesmo que “o mundo mudou”. Uma mudança que se assiste na sociedade portuguesa em “vários setores” e que significa mais trabalho para os advogados.

“A troika… estes epicentros como o caso BES, a PT, geraram muito trabalho. Estamos também a verificar um grande e importante investimento estrangeiro que tem trazido estrangeiros a Portugal. O que tem reanimado o setor”, disse.

Por outro lado, o trabalho do advogado também mudou. Os clientes exigem uma comunicação mais direta dos profissionais. E há uma maior exigência na especialização.

“Não ao nível dos ramos de direito, mas nos setores comerciais e em áreas não jurídicas, como contabilidade e gestão. É importante que um advogado saiba ler um balanço”, disse, na sua vez, o advogado Diogo Perestrelo, da sociedade Cuatrecasas.

Os advogados deixaram várias “dicas” aos estudantes de Direito que estão na reta final da formação e que se preparam para entrar no mercado de trabalho. O advogado de Rogério Alves foi claro no que procura:

Curriculum Vitae único e que fuja ao modelo europeu.

– Autenticidade na forma como se apresenta.

– Competência jurídica.

– Boas notas

– Capacidade de expressão (falada e escrita).

– Capacidade de trabalhar em equipa.