Lembra-se do filme “O Pequeno Stuart Little”, cuja personagem principal — o rato — tinha a voz do ator Michael J. Fox? O filme de animação que chegou aos cinemas em 1999 ajudou a resolver um mistério de arte que já tinha barbas, isto é, que se arrastava há coisa de nove décadas. Recuemos ao Natal de 2009, quando o historiador de arte húngaro Gergely Barki estava a ver as aventuras do pequeno rato, na televisão, na companhia da filha. Em mais do que uma cena reparou na presença de um quadro que despertou a sua atenção. Um olhar mais atento levou a uma suspeita que se veio, mais tarde, a comprovar — a pintura que fora utilizada como um adereço no filme era, na verdade, um quadro há muito desaparecido.

“Sleeping Lady with Black Vase” (“Mulher Adormecida com Vaso Negro”, em português), do húngaro Robert Bereny, tinha sido visto pela última vez em público em 1928. Barki, que muito a propósito estava a escrever uma biografia do artista, reconheceu o quadro através de uma fotografia a preto e branco. Sem fazer ideia de como é que este fora parar aos cenários de um filme de animação, resolveu decifrar mistério. Assim, enviou e-mails a todas as pessoas envolvidas no filme, tal como contou ao New York Post, e enviou cartas aos criadores da longa-metragem — tanto à Sony Pictures como à Columbia Pictures. A reposta viria dois anos mais tarde da parte de quem havia concebido os cenários para a longa-metragem.

Acontece que uma das assistentes do filme, cujo nome não foi divulgado, encontrou o quadro numa loja de antiguidades em Pasadena, na cidade norte-americana de Los Angeles, à venda por apenas 500 dólares (401 euros). Sem ter conhecimento do valor real da peça, utilizou-a como elemento decorativo no apartamento fictício da família protagonista no enredo — interpretada pelos atores Michael J. Fox, Jonathan Lipnicki, Geena Davis e Hugh Laurie. Uma vez terminadas as gravações, adquiriu o quadro aos estúdios e pendurou-o em sua casa, onde Barki teve, posteriormente, oportunidade de vê-lo de perto.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Bereny, o pintor, ajudou a introduzir o cubismo e o expressionismo em território húngaro, conta a Vanity Fair. Apesar de o seu trabalho ser bastante reconhecido, o mesmo pode-se dizer dos romances — segundo os rumores, o artista terá estado próximo de Marlene Dietrich, quando em Berlim nos anos 1920. Barki acrescenta outro nome à lista, o de Anastásia, a filha do czar Nicolau II.

Demorou tempo (quase 90 anos), mas o quadro encontrou caminho de volta ao país de origem — a assistente anónima vendeu-o a um colecionador de arte — e vai ser leiloado no próximo dia 13 de dezembro com um valor base de 110.000 dólares (cerca de 88.000 euros).