Levar o embaixador da China ao Museu do Futebol Clube do Porto? Ter o embaixador de Espanha a inaugurar uma exposição sobre cortiça em Lourosa, uma freguesia de Santa Maria da Feira? Dar a provar ao embaixador de França queijos de Castelo Branco? Sim. O programa chama-se Embaixadoria e é uma iniciativa promovida pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros. A ideia é levar um embaixador de um país do mundo acreditado em Portugal a visitar uma região portuguesa – num evento que normalmente dura dois dias -, destacando não só a diversidade cultural e de tradições com visitas a museus e exposições, mas mostrar sobretudo os sectores estratégicos empresariais em cada região.

Luís Campos Ferreira, secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, está desde outubro a ser guia de vários embaixadores, levando-os a conhecer regiões como o Porto, Fundão e Oliveira do Bairro. A ideia é mostrar o património cultural, mas especialmente as empresas destas regiões e tentar criar laços com países que são potenciais investidores e compradores dos produtos lusos.

“Os embaixadores estão muito focados nos fluxos económicos e nas reuniões políticas e acabam por conhecer não o suficiente de Portugal, todas as nossas potencialidades. Este programa é fazer diplomacia cá dentro. Acho que é muito necessário mostrar o Portugal de hoje e o Portugal de hoje é diferente”, afirma Campos Ferreira.

Ao Observador, o secretário de Estado Campos Ferreira, disse que o roteiro da visita é organizado em conjunto com os municípios e autarcas de cada região que apontam ainda quais os países cuja presença seria mais vantajosa em termos económicos e na potenciação da exportação das empresas locais. O programa é então submetido ao embaixador escolhido e a viagem fica acertada. Até agora já participaram nesta iniciativa os embaixadores da China, França e Espanha e esta semana terá lugar a visita do embaixador de Moçambique. Mesmo com pouco tempo de execução – as visitas começaram no final de outubro – já há algumas histórias de sucesso.

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Talheres portugueses na China e lista de espera para participar

Aliar a cultura portuguesa como uma visita ao Museu Manuel Cargaleiro em Castelo Branco às novas formas de utilização da cereja do Fundão e ainda visitas às empresas metalúrgicas na região, foi o itinerário do embaixador de França em Portugal, Jean-François Blarel. Uma deslocação que motivou logo no embaixador a ideia de fazer uma mostra conjunta de vinhos e queijos portugueses e franceses naquela região. “Sabemos que os embaixadores que participam nestas iniciativas têm feito excelentes relatos para as suas associações comerciais e para os seus respetivos governos”, afirma Campos Ferreira.

Já o embaixador da China, Huang Songfu, surpreendeu por mostrar interesse nos talheres produzidos pela Cutipol, pois é oriundo de um país onde se come com pauzinhos. Abriram-se então portas para distribuidores de gama alta na China e o próprio embaixador questionou se seria possível adicionar emblemas aos talheres de modo a personaliza-los. Também o embaixador espanhol, depois da sua visita à região de Oliveira do Bairro e a Santa Maria da Feira, decidiu promover a organização de um congresso de empresários espanhóis e portugueses nas instalações do Europarque, um parque industrial que tem tido dificuldade em pagar as suas contas de manutenção. Ficou ainda agendada uma visita de empresários portugueses à sede da Inditex – dona de marcas como a Zara – na Corunha, para mostrar as inovações tecnológicas portuguesas nas indústrias do têxtil e do calçado.

Para além de gerar “confiança”, esta iniciativa tem surpreendido os embaixadores que “conhecem um país moderno que encerra muitas potencialidades”, afirma Campos Ferreira. Aos almoços e jantares há convívio com os empresários das regiões que têm oportunidade de perguntar diretamente aos embaixadores como podem entrar nos seus mercados e contar histórias mais ou menos bem-sucedidas nos territórios que representam. Fazem-se contactos, trocam-se cartões e os autarcas responsabilizam-se por manter as relações com as embaixadas.

O secretário de Estado pretende manter este programa até ao fim do seu mandato, mas considera que deveria ser continuado nos próximos governos e que deveriam ser os próprios autarcas a exigir a sua manutenção. “A criatividade resolve as coisas, para além do gasóleo, não se gasta nada […] Temos muitos pedidos de embaixadores para entrarem neste programa e muitas solicitações de diferentes câmaras municipais”, revela o secretário de Estado.