Um em cada quatro doentes com esclerose múltipla foram obrigadas a mudar o tipo de trabalho que realizavam devido à doença, revela um estudo da Faculdade de Farmácia da Universidade Lisboa divulgado esta quinta-feira.

Realizado em parceria com a Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla (SPEM), o estudo analisou o impacto da esclerose múltipla (EM) nos doentes e seus cuidadores, tendo inquirido 400 doentes, 66% dos quais mulheres, com uma média de idades de 44,4 anos, e 70 cuidadores, com uma média de idades de 47,7 anos.

O estudo “‘EMpower’: Dar força aos doentes com Esclerose Múltipla”, refere que a doença “é um assunto de família, com um impacto significativo nos cuidadores informais”.

Adianta que 16,2% dos cuidadores inquiridos prestam cuidados durante 24 horas e 23,6% durante uma a duas horas por dia.

Quase 29% disseram ter alterado o tipo de trabalho realizado, o que, para 84,2% dos casos, resultou numa diminuição dos seus rendimentos, e 11% afirmaram que tiveram de reduzir as horas de trabalho.

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Para 61,7% dos doentes, tarefas habituais como o trabalho, o estudo ou o lazer são feitas com muita dificuldade, e 30,7% afirmam ainda ter problemas em vestir-se ou tratar da sua higiene pessoal, refere o estudo, divulgado no Dia Nacional da Pessoa com Esclerose Múltipla.

Em declarações à agência Lusa, a vice-presidente da SPEM, Manuela Neves, destacou uma conclusão do estudo, segundo a qual nenhum cuidador classifica a respetiva qualidade de vida como muito boa, sublinhando que mais de 22% a classificam como má ou muito má.

Estes resultados “espelham toda a realidade da esclerose múltipla em Portugal”, dos doentes e dos cuidadores, afirmou.

Isto acontece porque “a esclerose múltipla é uma doença cujos pacientes estão dependentes em larga escala de familiares ou de pessoas próximas que cuidem deles e há um afastamento muito grande daquilo que é a obrigação do Estado de apoiar estes doentes, daquilo que é o apoio verificado na realidade”, explicou Manuela Neves.

“Quem tem que apoiar um doente, por exemplo, um filho ou um irmão, acaba por ter de deixar um bocadinho para trás aquilo que é a sua realização pessoal” e profissional em “prol da necessidade de ajudar alguém que precisa de uma forma premente”.

Para Manuela Neves, estes resultados concretizam o conhecimento que a associação tem, através dos relatos recebidos de doentes, e devem ser alvo de uma reflexão profunda.

“É alarmante pensar que uma pessoa com esclerose múltipla vive com menos de 500 euros por mês (como relataram 21% dos inquiridos) e que mais de 60% dos cuidadores não tem apoios na prestação de cuidados”.

Os autores da investigação referem que o estudo pretendeu obter uma “fotografia” da situação atual em Portugal sobre a vivência destes doentes, “pois a falta de dados sobre a maioria das doenças é um problema crónico” no país.

“Só assim será possível delinear medidas de melhoria a implementar e estudar o seu impacto no futuro”, sublinhou Sofia de Oliveira Martins, da Faculdade de Farmácia.

A EM é uma doença crónica e progressiva e manifesta-se geralmente em adultos jovens (20 a 40 anos), sendo mais frequente nas mulheres.

A Sociedade Portuguesa de Neurologia estima existirem cerca de 5.000 doentes em Portugal, estando em tratamento cerca de 3.500.