desilusão

A bola vai ao centro do campo, o árbitro apita para começar e 11 jogadores devem estar em cada metade do relvado. Nem sempre acontece. Um guarda-redes apenas pode segurar uma bola nas mãos durante seis segundos. Raramente acontece. A cada pontapé livre ou falta que deve ser marcada, qualquer uma, a bola deve estar sempre imóvel. Raro também é isto ser cumprido à risca. No futebol há leis em todo o lado e os lançamentos laterais não as fintam. E se as regras, sem exceção fossem todas para serem cumpridos, poucos lançamentos haveria que não tivessem que ser repetidos.

Primeiro, têm de ser marcados no sítio exato onde a bola sai. Depois, o jogador que o marca deve, pelo menos, ter parte dos dois pés “sobre a linha lateral ou o terreno exterior a esta linha”. É o que diz a lei. Foi com um lançamento, dos longos, de Maxi Pereira, que o Benfica inventou a bola que lhe deu o 1-0 no Estádio do Dragão. O uruguaio, na altura do lançamento, tinha, de facto, ambos os pés legais — um deles pisou a linha, o outro estava fora do campo. Tudo nos conformes, portanto. Mas era provável que os árbitros, o principal e o fiscal de linha, nem estivessem atentos a isso.

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Porque, e isto também é quase regra, quase nunca o estão. Se a minúcia, em tudo, fosse parte da arbitragem, um jogo tinha o dobro dos apitos e das paragens. Sim, tudo deveria ser cumprido. Mas se, em todos os outros jogos, os olhos decidem não focar as “preciosismos”, então que não exijam óculos quando mais lhes convém que sejam vistas. Julen Lopetegui, ao intervalo, foi conversa com o fiscal de linha que estava ao lado de Maxi na altura do lançamento. Após o jogo, disse que conversaram sobre “a distância” e sobre o facto de que, se pisar “para lá da linha, é irregular”. Certo. Mas não foi por aí que o FC Porto sofreu o primeiro golo de Lima.

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Os lançamentos longos, sobretudo do lado direito do ataque encarnado, não são novidade — ao invés de Maxi, porém, até costuma ser Salvio a usar os braços como fisga para a bola. Os dragões já estariam à espera deles. Ou deviam estar. Jackson Martínez e Casemiro, por exemplo, também deviam ter cortado a bola que acabaria por sobrar para Lima, na pequena área. A preocupação de Lopetegui deveria estar aqui.

E a do Sporting, e já agora, de Marco Silva, no facto de estar já a 10 pontos da frente da corrida. O Vitória de Guimarães, e logo em casa, até tinha perdido pontos (0-0 com o Rio Ave). Era a oportunidade de seguir um corta-mato, encurtar distâncias e aproximar a equipa do terceiro lugar. E de quem pudesse perder o clássico do Dragão. Mas não. Se ver os vimaranenses tropeçarem nesta liga e, às tantas, descolarem do topo, é aceitável, ver o Sporting empatar pela quarta vez em casa — e com um golo aos 90’+2 — já não o é.

E inaceitável devia ser uma equipa que, em 13 jogos, não conseguiu vencer um. O Gil Vicente somou o sexto empate, vai com sete derrotas e ainda não foi desta que colheu três pontos num só jogo. Ou que o Vitória de Setúbal tenha deixado o Boavista ganhar pela primeira vez fora do Bessa (venceu 1-0, no Estádio do Bonfim).

destaque

Em casa do rival. Há melhor sítio que este para retomar uma conversa interrompida com os golos? Para quem os marca, não. Lima, além de fazer história e imitar, por exemplo, o que Nuno Gomes fizeram em 2005 ou César Brito, em 1991, conseguiu anotar o 6.º e 7.º golos no Estádio do Dragão (marcara um pelo Belenenses, em outubro de 2009, e cinco com o Sporting de Braga, entre 2010 e 2013).

O brasileiro, antes do clássico, só marcara três golos esta época. Pouco. Precisava de ganhar moral e talvez o tenha encontrado no Dragão. Veremos. Quem já a parece ter é Fredy Montero — que a encontrou quando, por decisão alheia, deixou de ser avançado e o homem com a missão de encaminhar correio para a baliza adversário. Marco Silva parece gostar do colombiano atrás de Slimani, como um mutante entre médio e avançado, uma espécie de número 10. Montero tem pés para o fazer. E também ele parece gostar. Marcou o sétimo golo da época e já vai no quarto que marca nesta posição.

El avioncito, como lhe chamam na Colômbia, parece ter arrepiado caminho. Só assim o Moreirense não se foi embora de Alvalade com uma vitória para recompensar a certeza que deu a tudo o que fez em campo. E quem parece estar certo no caminho é o Sporting de Braga. A equipa de Sérgio Conceição somou a quarta vitória nos últimos seis encontros da liga e, desta vez, fê-lo contra o Belenenses (1-0) e livrou-se de um adversário que o andava a perseguir na tabela. Já está em quarto lugar e, por este andar, vai continuar a subir.

frase

“Pelo que vi em campo, estou convencido, mais do que nunca, que o FC Porto vai ser campeão.” Julen Lopetegui parecia ter poucas dúvidas. A bola pode ter andado muito mais tempo entre pés portistas, os remates foi coisa azul e branca (17 contra cinco do Benfica) e dois deles até bateram contra os ferros da baliza de Júlio César. Tudo é verdade.

Mas o que conta são os golos e as bolas que entram na baliza. E, com sorte ou azar, o Benfica foi a única equipa a fazê-lo. Como o treinador o disse, restam 63 pontos por caçar no campeonato e, se os conquistar a todos, poderá sempre aproveitar qualquer rasteira que preguem aos encarnados. É preferível, contudo, vencer e falar pouco do que perder e falar muito.

resultados

Vitória de Setúbal 0-1 Boavista
Penafiel 2-1 Nacional da Madeira
Gil Vicente 1-1 Académica
Paços de Ferreira 2-1 Arouca
Belenenses 0-1 Sporting de Braga
Vitória de Guimarães 0-0 Rio Ave
Sporting 1-1 Moreirense
FC Porto 0-2 Benfica
Marítimo 0-0 Estoril Praia

O plantel pode ter sido formado à pressão. Com pés, mas sem cabeça. Mas o Boavista, sem dar nas vistas, está no 12.º posto do campeonato e conseguiu a primeira vitória fora em Setúbal. Onde a equipa de Domingos Paciência ainda só marcou cinco golos. Portanto, e a par do Moreirense, Académica e Gil Vicente, é o clube que menos golos marca no próprio estádio. Coisa que o Penafiel, no seu recinto, deixa que os outros façam com fartura — a equipa de Rui Quinta venceu esta jornada, mas lá deixou que o Nacional da Madeira marcasse um golo. Já encaixou 17 quando se arma em anfitriã.