Nem ai, nem ui. Foi um assim-assim. Não garantiu nem desmentiu nada. A dúvida, para um árbitro, é como o inimigo público número um e, num relvado, a certeza nas decisões que o levam a soprar no apito tem que ser a melhor amiga. Mas Pedro Proença nada fez para acabar com uma suspeita — aliás, até a criou. “A performance a que conseguirmos chegar nesta competição será fundamental para depois avaliar essa questão”, resumiu, a 2 de dezembro, dias antes de arrumar as malas e entrar num avião para Marrocos, rumo ao Mundial de Clubes. E a questão era se apitaria, ou não, a final da competição.

Seria um marco na carreira do português. Mais um, depois de, em 2012, ter apitado a final da Liga dos Campeões e a do Europeu da Polónia e da Ucrânia. No mesmo ano até foi considerado o melhor árbitro do mundo pela Federação Internacional de História e Estatística do Futebol. No último verão faltou-lhe a decisão do Copa do Mundo no Brasil. “Talvez pudesse ter sido feito mais”, chegou a dizer. Agora resta-lhe a final do Mundial de Clubes: e, ao que parece, alguém vai fazer com que Pedro Proença não esteja lá.

Chama-se Matías Lammens e, aos 34 anos (sim, nasceu em 1980), é presidente do San Lorenzo, equipa argentina que estará na final contra o Real Madrid. Leandro Romagnoli, o capitão e argentino que, em tempos, andou pelo Sporting (2006-2009), é só um ano mais novo que o líder do clube, por exemplo. O tal presidente que, em entrevista ao diário espanhol As, admitiu que “seria mais lógico” a final ser apitada “por um árbitro de outro continente”, que não o europeu.

O chefe do San Lorenzo, vencedor, em 2013, da Copa dos Libertadores, já teve “a oportunidade de estar com pessoas da FIFA” e disse que “seguramente” tentará “influenciar” a escolha da entidade quanto ao árbitro designado para a final da prova — agendada para as 19h30 de sábado, em Marraquexe. “Gostava que fosse o chileno [Enrique] Osses. De qualquer maneira, confiamos nas arbitragens. Gostaria que fosse um sul-americano para que os jogadores se pudessem entender com o árbitro”, defendeu Matías Lammens, ao indicar o nome do oficial que tomou conta do Real Madrid-Cruz Azul (4-0). Mas o argentino chegou a dizer que “o mais lógico” seria que o árbitro da final “não fosse português, europeu ou sul-americano”.

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Lammens não ficou por aqui. Já depois de sublinhar que a equipa está “habituada a um jogo mais físico” e que, nas meias-finais da prova, um oficial australiano “apitava falta ao mínimo toque” (os argentinos venceram o Auckland City, por 2-1), o presidente argentino lembrou-se de um jogador dos merengues. “O San Lorenzo deve preocupar-se com Pepe”, indicou. Depois até disse ao jornalista: “Já lhe dei uma manchete…” E deu mesmo. Antes, porém, e quando lhe perguntaram se o encontro seria violento, Lammens respondeu que “nenhuma das equipas se tem de preocupar”.

O desportivo Marca, contudo, adiantou que Pedro Proença é o árbitro preferido pelo Real Madrid para apitar a final. O resto, diz, Matías Lammens, é lobby. “Ninguém pode desconhecer o poder [do clube espanhol] quanto à capacidade de lobby e o hábito de jogar este tupo de torneios. Claro que nos superam, mas todas as reclamações devem ser escutadas. Se a FIFA cai no erro de escutar o mais poderoso incorreria num erro muito grave”, argumentou o argentino.

A escolha da entidade que gera o futebol mundial deverá ser conhecida ainda esta quinta-feira. Pedro Proença, neste Mundial de Clubes, já esteve em três partidas: serviu de quarto árbitro no encontro em que o Auckland City derrotou o Athletic Tetouan, apitou o ES Sétif-Auckland City (0-1) e, na quarta-feira, voltou a ser o quarto oficial no ES Sétif-Wanderers FC (5-4, após penáltis).

Pedro Proença fez depender da prestação nesta competição a decisão de abandonar, ou não, a arbitragem. “Assim que chegar de Marrocos, e após conversar com Fernando Gomes, anunciarei a minha decisão”, garantiu a 2 de dezembro, antes de partir para o Mundial de Clubes. O português, na altura, estava “muito desgastado” com “mais de 20 anos” a correr, apitar e tomar decisões no relvado. Veremos se por lá decide continuar caso não consiga estar, com Cristiano Ronaldo, Fábio Coentrão e Pepe, na final desta prova.