Depois de algumas notícias na comunicação social sobre o estado de saúde da mulher, Pedro Passos Coelho resolveu enviar uma declaração à Lusa confirmando uma doença de foro oncológico, num ato inédito em Portugal.

A linha que separa a vida privada e a vida pública de figuras mediáticas é ténue e, neste caso, a linha que separa uma figura mediática da pessoa com quem está casado também parece ser. Não é consensual a grossura com que se desenha essa linha. Fernando Cascais, professor do mestrado de Ciências de Comunicação na Universidade Católica, é perentório: “Não é notícia. Ela não é uma figura pública a não ser por estar casada com o primeiro-ministro.” É exatamente o casamento que faz Joaquim Vieira, jornalista, discordar: “O cônjuge de uma figura pública acaba por se tornar uma figura pública.”

O jornalista acrescenta ainda que “ninguém se pode arrogar ao direito de dizer o que é ou não notícia. É notícia tudo aquilo que um jornalista entender que é notícia.” Já Fernando Cascais defende que apenas deve ser notícia se a doença em questão a impedisse da execução da atividade de um cargo público, mas neste caso apenas é uma pessoa que “tem um problema de saúde que é uma questão privada” e, por isso, notícias sobre este assunto são “voyerismo”.

Segundo Joaquim Vieira, deve estar nas páginas de um jornal “aquilo que tiver interesse do ponto de vista editorial. E o facto de Passos Coelho ter feito um comunicado mostra que dá importância ao assunto e deve ter alguma gravidade”.

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Em declarações ao Observador, Joaquim Vieira e Fernando Cascais concordam apenas num ponto: Pedro Passos Coelho fez bem em enviar o comunicado. Mas se, para o jornalista, o comunicado é o começar de um desenvolvimento jornalístico da doença porque “as pessoas vão querer saber mais”, para Fernando Cascais, é a oportunidade para se ter “um comportamento eticamente correto”. Atuar dessa forma será “não transformar em notícia o que não é notícia.”

Esta quarta-feira, Pedro Passos Coelho enviou um comunicado à Agência Lusa a confirmar que a mulher é doente oncológica. “Como se tornou do conhecimento público recentemente, e para evitar mais especulações sobre este assunto, confirmo que foi diagnosticado à minha mulher, Laura Ferreira, um problema do foro oncológico que está a ser devidamente acompanhado”, disse. No mesmo comunicado pedia que se respeitasse um momento que é de família: “Dado que se trata de um assunto privado, que apenas diz respeito à minha família, peço também que essa reserva de privacidade continue a ser respeitada”.

António Guterres, quando era primeiro-ministro, também teve que lidar com uma doença grave da mulher, Luísa, que acabou por falecer em 1998. Guterres, que tinha sido eleito primeiro-ministro em 1995, só abandonou estas funções em 2002, depois de se demitir na sequência de maus resultados do PS nas eleições autárquicas de dezembro de 2001.