Ao contrário de nomes como Pedro Santana Lopes, Marcelo Rebelo de Sousa ou António Guterres, que nas últimas semanas têm alimentado o tabu sobre quem serão os candidatos às eleições presidenciais de janeiro de 2016, há pelo menos dois nomes que já estão com a candidatura em marcha. Apesar das ligações históricas ao CDS e PSD, respetivamente, são independentes e não procuram apoios partidários. Antes pelo contrário. “Quero ser mesmo um outsider”, admitiu ao Observador Paulo Freitas do Amaral.

Arrancou com o processo de recolha de assinaturas “há cerca de três meses” e hoje conta já com duas mil. Numa altura em que ainda falta precisamente um ano para as eleições e em que no palco político principal ainda não há candidatos assumidos, o ex-autarca e deputado municipal parece já ter a máquina oleada. Ao Observador, Paulo Freitas do Amaral explicou que tem já uma equipa a trabalhar no desenho da candidatura, no norte do país e em Lisboa. E que até já tem data e local para a apresentação formal: será em Oeiras no próximo dia 30 de maio, dia em que confia já ter as 7.500 assinaturas necessárias para entrar na corrida a Belém.

Até lá, vai andar no terreno, a reunir apoios que se traduzam em assinaturas, e a circular nos bastidores, para recolher apoios “junto de notáveis da sociedade portuguesa”. Assumindo-se como uma candidatura independente, o ex-candidato à câmara de Oeiras pelo CDS-PP e primo do histórico centrista Diogo Freitas do Amaral, admite que a candidatura que apresenta é “aberta a todos os espetros políticos e partidários”.

Mais do que um programa político para concorrer ao mais alto cargo da nação, Paulo Freitas do Amaral afirma que aquilo que propõe é uma “nova postura e atitude” para o cargo de Presidente da República, contra o “encarceramento no Palácio de Belém”. O que os cidadãos precisam, diz, é de políticos “que falem olhos nos olhos com as pessoas”. Por isso considera que o facto de ser sido presidente de junta de freguesia (freguesia da Cruz Quebrada-Dafundo, em Oeiras) vai ser “uma mais-valia” na corrida eleitoral, devido à “postura de proximidade” que mantém com o eleitorado.

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Uma candidatura “contra-corrente” a ano e meio das eleições

Outro dos candidatos que já se assumiu como tal foi José Castanheira Barros, antigo militante social-democrata que chegou a concorrer à liderança do partido em 2007. Começou com a iniciativa no verão passado, ainda as eleições presidenciais estavam perdidas de vista no horizonte político. Assinaturas ainda não tem muitas, 600 apenas, mas quilómetros de estrada não lhe faltam.

Apresentou a intenção de oficializar uma candidatura presidencial em julho, em Coimbra, mas nesse mesmo verão chegou a percorrer vários distritos do país. Esteve no Algarve, no litoral alentejano, em Setúbal, em Leiria, no Porto e em Viseu. Neste momento está na Madeira e na Páscoa tem uma visita agendada para os Açores. A ideia é “começar com tempo para ir tranquilamente conversando com as pessoas, sem pressa e sem pressão”, explicou Castanheira Barros ao Observador. Pelo caminho já distribuiu milhares de folhetos de campanha, com os princípios do programa, mas tem viajado sozinho, sem uma equipa de candidatura constituída. O plano para recolher as 6.900 assinaturas que ainda faltam, no entanto, já está traçado. O objetivo é claro: chegar às eleições e já ter contactado de perto com centenas de milhares de pessoas de todo o continente e regiões autónomas.

A primeira meta é chegar ao fim do mês de janeiro com mil assinaturas recolhidas. O passo seguinte é construir uma equipa, porque sozinho “é difícil”. Depois, tenciona “pedir audiências a todos os líderes e secretários-gerais de todos os partidos políticos”, incluindo os que não têm assento parlamentar, para expor o seu programa. Esta sexta-feira será recebido pelo presidente do Governo regional da Madeira, Alberto João Jardim, que por sinal admitiu na quarta-feira, numa entrevista à RTP, manter a porta aberta para uma eventual candidatura presidencial.

Recusando “apoios partidários”, a candidatura de Castanheira Barros tem um lema: “restituir o poder ao povo”. “A Constituição determina em pelo menos quatro artigos que a soberania é do povo e não de quem exerce cargos políticos. E eu não conheço nenhum político que assuma isso”, afirmou ao Observador, acrescentando que será um “aliado” do povo contra “os cortes e a austeridade”. “É uma candidatura contra-corrente”, admite.

Sobre os possíveis candidatos, à esquerda e à direita, que nas últimas semanas têm feito declarações sobre avanços e recuos, Castanheira Barros e Paulo Freitas do Amaral são unânimes no discurso contra a “dança” de Marcelo, Santana e Guterres.

“Anda tudo a fazer um jogo político, alguns já andam nessa dança do vai/não vai há cinco anos”, diz Freitas do Amaral ao Observador, admitindo que possa haver vantagens “estratégicas” nesse jogo. “Essa não é a minha postura, não me identifico com essa atitude de sebastianismo, de falsas candidaturas, avanços e recuos e estratégias políticas sem projetos políticos”, acrescentou.

“É ridículo esse diz que não disse ou diz que faz ou faz que não disse”, remata Castanheira Barros ao Observador.