França prepara-se para criar manuais nas escolas a promover a secularização. Esta medida surge depois de se terem registado 70 casos de distúrbios em estabelecimentos de ensino na sequência dos ataques ao Charlie Hebdo e ao supermercado judaico em Paris, e deverá ser anunciada em breve pelo primeiro-ministro daquele país, Manuel Valls e pelo ministro da Educação, Najat Vallaud-Belkacem, de acordo com o jornal francês Les Echos.

Os incidentes registados nas escolas aconteceram depois do minuto de silêncio, organizado na quinta-feira (dia 8), em memória das vítimas do atentado terrorista ao jornal satírico. Segundo conta o Le Figaro, numa escola primária em Seine-Saint-Denis (Paris), por exemplo, 80% dos alunos recusaram-se a cumprir a homenagem às vítimas. Mas os exemplos são vários: um estudante perguntou à professora se podia não cumprir o minuto de silêncio, porque não se queria “juntar com pessoas como estas”. Outro, do quarto ano, ameaçou o professor durante o minuto de silêncio: “Eu mato-te à Kalashnikov” – a arma utilizada por Cherif e Said Kouachi.

Estes acontecimentos, que se estenderam também a várias discussões nas redes sociais, mereceram duras críticas de Manuel Valls. “Eu não quero que nenhum jovem faça o ‘V’ de vitória depois do que aconteceu. No meu país, não quero permitir que, quando um estudante responde a uma questão colocada por um professor, possa dizer que o inimigo são os judeus”.

O Governo francês quer, assim, intensificar o processo de separação da Igreja do Ensino, para evitar que a religião assuma um papel desagregador entre os alunos. Para tal, de acordo com o mesmo jornal, o Ministério da Educação já contactou os sindicatos de educação, as federações dos pais e os representantes dos alunos para perceber que medidas devem ser tomadas nesse sentido.

Os sindicatos já responderam ao convite do Governo e expressaram a necessidade de ter mais apoio e treino pessoal para professores, alunos e todos os restantes intervenientes no processo. Os pais, por sua vez, manifestaram a sua vontade de se envolverem mais e a necessidade de ouvir mais os alunos e as suas preocupações. A discussão promete marcar a atualidade em França.

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