A Ucrânia, a Rússia e a Europa iniciam esta sexta-feira, na capital bielorrussa de Minsk, uma nova tentativa de negociar um plano de tréguas para a região ucraniana do leste. A reunião, que vai sentar à mesma mesa representantes de ambos os lados do conflito, incluindo rebeldes separatistas pró-russos, assim como uma delegação da OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa), surge numa altura em que as tensões ameaçaram subir de tom em Bruxelas. Apesar do bate pé do novo ministro grego dos Negócios Estrangeiros, a Europa aprovou ontem uma extensão do pacote de sanções aplicado à Rússia por mais seis meses.
A decisão de prolongar as sanções económicas à Rússia devido à guerra na Ucrânia, que expiravam a 15 de março e que afinal se vão estender pelo menos até setembro, vai estar certamente no centro das negociações. Na quinta-feira, à saída da reunião de ministros dos Negócios Estrangeiros em Bruxelas, a alta-representante da União Europeia para a política externa, Federica Mogherini, afirmou aos jornalistas que esperava que o apertar do cerco à Rússia contribuísse para “passos positivos, e não negativos como tem acontecido nos últimos dias”.
As perspetivas não são, no entanto, muito animadoras. A última vez que as três delegações estiveram reunidas em Minsk, já a Rússia estava mergulhada em sanções não só da Europa como também dos EUA, não deram muitos frutos. Na altura, foi assinado o chamado ‘Protocolo de Minsk’, que previa um plano de cessar-fogo em 12 pontos, mas que foi repetidamente violado, com cada um dos lados do conflito a acusar o outro de ter rasgado o acordo.
O mais recente episódio sangrento do conflito ocorreu no último fim de semana no disputado porto de Mariupol. Morreram cerca de 30 pessoas e outras 90 ficaram feridas, num ataque que foi atribuído aos separatistas ucranianos apoiados pelas tropas russas, uma vez que os rockets foram aparentemente lançados a partir de áreas controladas pela autoproclamada República Popular de Donetsk. Nesse mesmo dia, o líder dos rebeldes separatistas tinha anunciado que preparava um assalto àquela cidade portuária. Segundo estimativas da ONU, o conflito no leste da Ucrânia já matou pelo menos 5.100 pessoas desde que começou, há quase um ano.
Grécia, um peão fora do jogo
O ataque a Mariupol levou a alta-representante da Europa para a política externa a convocar uma reunião extraordinária dos ministros dos Negócios Estrangeiros em Bruxelas, que decorreu na quinta-feira com o intensificar da pressão à Rússia na manga. Foi a estreia do ministro grego Nikos Kotzias em Bruxelas, e deixou logo marca.
É que mais do que a decisão saída da reunião, foi o braço de ferro grego que fez as manchetes do dia. Em causa estava a divulgação pela comunicação social de um primeiro rascunho do documento final que sairia do encontro, e que previa novas sanções, que o ministro grego criticou por achar que a visão da Grécia sobre o tema não tinha sido incluída. “O problema foi que ninguém lhe perguntou nada; nem a ele, nem ao Governo grego”, escreveu o ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis, no seu blogue, justificando a atitude do colega de governo em Bruxelas. O veto da Grécia, que inviabilizaria a aprovação da medida (é obrigatória a unanimidade), no entanto, nunca chegou a existir.
No final, decidiu-se adiar para a próxima reunião de 9 de fevereiro a possibilidade de incluir mais nomes na lista de personalidades russas afetadas, mas concordou-se numa extensão até setembro do pacote de sanções em vigor desde o ano passado, e que inclui a proibição de viajar e o congelamento de bens a políticos e empresários de topo próximos de Vladimir Putin. Uma decisão que Nikos Kotzias acabaria por descrever como “um bom compromisso”.
A verdade é que a questão russa já estava a ser apontada como o primeiro grande foco de tensão entre Atenas e a Europa desde o dia 1 do novo Governo grego. À agência de notícias grega ANA, o ministro da Energia, Panagiotis Lafazanis, abriu as hostilidades no início da semana ao dizer que o Governo não estava de acordo com as sanções aplicadas à Rússia: “Não temos quaisquer problemas nem com a Rússia, nem com o povo russo”, disse. À aproximação da Grécia seguiu-se a aproximação da Rússia, com o ministro das Finanças, Anton Siluanov, a afirmar em entrevista à CNBC a disponibilidade do país em apoiar financeiramente Atenas. Pelo menos, “se o pedido fosse feito nesses termos”, o Governo de Vladimir Putin iria “definitivamente considerá-lo”.
Guerra Fria pode passar a guerra “quente”, alerta Gorbachev
Entretanto, enquanto a Europa e os EUA intensificam a pressão à Rússia, o ex-líder soviético Mikhail Gorbachev deixou um alerta preocupante no ar: que a Guerra Fria que opôs a Rússia ao mundo Ocidental pode rapidamente dar origem a uma Guerra Quente, ou seja, com riscos sérios de confrontos militares a larga escala.
“Já não tenho a certeza de que a Guerra Fria não vá dar origem a uma Guerra Quente, receio que [o ocidente] se esteja a arriscar a que isso aconteça”, disse em declarações à agência de notícia Interfax, referindo-se ao novo prolongamento das sanções russas aprovado ontem pela União Europeia.