A aliança EU-Life, que junta 13 centros de investigação europeus, mostrou-se preocupada com a redução da verba prevista para o Horizonte 2020 – um programa de financiamento para investigação e desenvolvimento de 2014 a 2020 -, segundo um comunicado enviado às redações na passada quinta-feira. O grupo fala da perda de 2,7 mil milhões de euros que serão realocados no recém-criado Fundo Europeu para Investimentos Estratégicos (EFSI).

O EFSI ou Plano Junker, que mobilizará no total 315 milhões de euros, pretende apoiar infraestruturas para redes de banda larga, energia e transportes, mas também servir de financiamento de risco a Pequenas e Médias Empresas. Uma parte desse financiamento virá da verba que se previa atribuir à ciência. “É um paradoxo que numa altura em que a Europa quer criar postos de trabalho e ser competitiva, o dinheiro para a investigação e inovação – que cria postos de trabalho qualificados e é uma vantagem para a competitividade europeia – seja cortado, em teoria, para promover o mesmo através de um sistema alternativo e que ainda não foi testado”, refere em comunicado Luis Serrano, presidente da EU-Life e diretor do Centro de Regulação Genómica, em Barcelona.

Os cortes no orçamento previsto para o Horizonte 2020 e em especial para o Conselho Europeu de Investigação (ERC) podem, na perspetiva da EU-Life, comprometer a “Excelência Científica” que têm sido um dos pilares dos programas de Investigação e Inovação da União Europeia, porque os principais prejudicados serão os investigadores e as instituições de topo. “Investir menos em programas emblemáticos da Europa, como o ERC, é provavelmente a pior coisa a fazer no panorama atual de instabilidade económica. Deveria fazer-se o contrário: Só fazendo maiores investimentos em áreas competitivas é que vamos inverter a espiral”, acrescenta em comunicado Jo Bury, vice-presidente da EU-Life e diretor do Instituto de Investigação em Ciências da Vida, na Bélgica.

A verba inicialmente prevista pela Comissão Europeia para o Horizonte 2020 era de 80 mil milhões de euros no período de 2014 a 2020. O montante a transferir para o EFSI representa 3,5% do orçamento previsto, o que não impede que o financiamento previsto seja 38% superior ao do programa plurianual anterior – o 7º Programa-Quadro 2007-2013. Caso o ERC venha a perder 221 milhões de euros do orçamento inicial, representará 1,7% dos cerca de 13 mil milhões de euros previstos, que continuará a ter um orçamento 70% superior ao que foi recebido no período de 2007-2013.

Apesar do aumento global do orçamento para a ciência, aos olhos dos investigadores mantém-se insuficiente para garantir a competitividade europeia. De todos os consórcios que se candidatam ao programa Horizonte 2020, apenas 3% consegue ver o projeto financiado, refere o comunicado. O que significa que se investe muito tempo a preparar candidaturas sem nenhum retorno. Para a EU-Life cada verba perdida é motivo de apreensão. “A soma retirada ao orçamento do ERC através do plano Juncker podia financiar 100 bolsas ERC, a maioria para jovens cientistas”, disse em comunicado Jonathan Howard, diretor de uma das instituições da EU-Life – o Instituto Gulbenkian de Ciência, em Oeiras.

A preocupação das instituições associadas à EU-Life prende-se com a importância das bolsas concedidas pelo ERC para o estabelecimento e consolidação de novos grupos de investigação liderados por jovens doutorados. “A criação do ERC foi um triunfo para a Europa, declarando a importância da investigação básica e original iniciada pelo investigador, numa altura em que as agências financiadoras nacionais estavam cada vez mais interessadas em financiar ciência aplicada à custa da investigação básica”, refere Jonathan Howard. Das mais de 100 bolsas conseguidas pelas 13 instituições, 14 foram atribuídas já este ano. “O ERC desempenha um papel essencial em institutos de investigação na Europa. Sem o financiamento do ERC, muitos dos nossos grupos de investigação não serão competitivos a nível internacional”, acrescenta Luis Serrano.

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