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Dez lugares para lembrar "Orpheu"

Este artigo tem mais de 5 anos

Para falar do "Orpheu" é preciso falar de Lisboa. Cem anos depois do lançamento, o Observador criou um roteiro interativo com alguns dos lugares mais importantes ligados à história da revista.

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Lara Soares Silva

Lara Soares Silva

Foi há cem anos que foi publicada a revista Orpheu. O primeiro número, posto à venda a 26 de março de 1915, foi, nas palavras de Fernando Cabral Martins, uma “lufada de modernismo e vanguarda que abanou o meio artístico do tempo”.

Cem anos depois, ainda é possível passar pelas mesmas ruas onde se vendeu a revista. Alguns dos cafés onde os “doidos” do Orpheu costumavam reunir-se, existem ainda hoje. Outros, fechados há várias décadas, ficaram apenas na memória.

No centenário da revista, o Observador elaborou um roteiro interativo com dez dos locais mais importantes ligados aos “maluquinhos de Rilhafoles”.

Em 1915, ano em que foi publicada a revista Orpheu, Lisboa não era muito diferente do que é hoje. A Baixa era já o “pulsar da cidade”, como refere Marina Tavares Dias. Era ai que estavam os bancos, os cartórios, as agências e os burocratas. Havia escritórios nas ruas do Ouro e da Prata, e os lisboetas subiam apressados as ruas do Chiado. Debaixo das arcadas do Terreiro do Paço, funcionavam as secretarias de Estado, com vista para o mesmo sítio onde, não muitos anos antes, tinham morto D. Carlos.

Era também na Baixa que estavam alguns dos mais emblemáticos cafés lisboetas, sem os quais provavelmente não teria existido Orpheu. Fabrizio Boscaglia, investigador e autor do projeto de visitas guiadas “Lisboa com Fernando Pessoa”, explicou ao Observador que era nestes “cafés históricos e ‘literários’” que o grupo se reunia. “Alguns deles já não existem hoje, como o Montanha na Rua do Arco do Bandeira”, acrescentou.

O Café Montanha, localizado na antiga rua do Arco do Bandeira (atual rua dos Sapateiros), foi palco de algumas das mais importantes reuniões do grupo do Orpheu. Aliás, foi ai que, em fevereiro de 1915, Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro e Luís de Montalvor começaram a discutir a possibilidade de publicarem uma revista trimestral que, como referiu Boscaglia, “viria a ser o próprio Orpheu“.

Na altura, Pessoa morava perto do Jardim Constantino, em Arroios, na rua Pascoal de Melo. Foi nessa morada que viveu até à partida da tia Anica para a Suíça com a filha e o genro, no início de 1915. Foi no terceiro andar da Pascoal de Melo que, segundo o “mito”, se deu a “génese dos heterónimos”, no “dia triunfal” de oito de março de 1914, como é referido na famosa carta a Adolfo Casais Monteiro, escrita quase vinte anos depois. Foi no primeiro número do Orpheu, em março de 1915, que Pessoa estreou uma das suas criações — o engenheiro Álvaro de Campos.

“Num dia em que finalmente desistira — foi em 8 de março de 1914 — acerquei-me de uma cómoda alta, e, tomando um papel, comecei a escrever, de pé, como escrevo sempre que posso. E escrevi trinta e tantos poemas a fio, numa espécie de êxtase cuja natureza não conseguirei definir. Foi o dia triunfal da minha vida, e nunca poderei ter outro assim”.

No Largo Camões (atual Praça D. João da Câmara), perto do Rossio, ficava o Café Martinho. Fundado 1845 por Martinho Bartholomeu Rodrigues, um vendedor de gelo conhecido por “Martinho da Neve”, o café era famoso por ser o local onde “se fazem e se escavam as reputações literárias”, como lembra Marina Tavares Dias em Lisboa nos Passos de Fernando Pessoa. Para qualquer pessoa com ambições literárias, o Martinho era o local a frequentar.

Era no salão “barrocamente decorado” do Café Martinho que o grupo muitas vezes se reunia. Era também ai que, de acordo com Fabrizio Boscaglia, Pessoa costumava dar “explicações sobre o movimento sensacionista, isto é, sobre a corrente literária e cultural lançada pela revista”.

Era também a Martinho Rodrigues que pertenciam um outro Martinho — o “segundo Martinho” –, ainda hoje localizado na Praça do Comércio. Apesar de muitas vezes ligado ao Orpheu, o café só começou a ser frequentado por Pessoa muito mais tarde, e já depois daquilo a que Alfredo Guisado chamou o “tempo de Orpheu“.

Foi na Brasileira do Chiado, ainda hoje a funcionar, que Fernando Pessoa escreveu “somos o assunto do dia em Lisboa”, em carta a Armando Cortês-Rodrigues, referindo-se ao “escândalo que o primeiro número da revista tinha suscitado em Lisboa”, referiu Boscaglia. O café, localizado perto do Largo do Chiado é, ainda hoje, um dos mais emblemáticos ligados à revista literária.

“Somos o assunto do dia em Lisboa; sem exagero lho digo. O escândalo é enorme. Somos apontados na rua, e toda a gente — mesmo extra-literária — fala no Orpheu”.

Mas o Orpheu não se fez apenas em Lisboa. Para Fabrizio Boscaglia, é também importante mencionar outros sítios “fora de Portugal”. Um desses lugares é o Rio de Janeiro, onde existia a sede brasileira da revista que, no primeiro número, se encontrava a cargo do poeta Ronald de Carvalho. Um outro lugar importante é Paris, onde “Mário de Sá-Carneiro foi em junho de 1915, o mês da publicação do segundo número de Orpheu”, como referiu o investigador. Foi também na capital francesa que Sá-Carneiro passou os últimos meses da sua vida, antes de suicidar em abril de 1916.

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