Há pressões e pressões. Existe a que sente uma equipa das médias, com mais pó do que canecos no museu e um estádio com mais cadeiras vazias do que cheias. Joga para estar tranquilo e, se tudo correr bem, para bater à porta da Europa e ser convidada a entrar. Depois existe a de um clube feito grande pelos troféus que já conquistou, os adeptos, aos milhares, que angariou e o dinheiro, aos milhões, que vai gastando. Aí joga-se e tem de se jogar para os títulos, dando a pressão que “tem de fazer parte da vida” e deve dar “prazer” a “quem representar o Sporting”. E quem fala assim, como o fez Marco Silva, sabe o que isso é.

Tanto ele, como os jogadores, deveriam sentir a tal pressão. A de chegar à decisão de um título, de uma Taça de Portugal que, uma semana antes, Bruno de Carvalho, o presidente viu como “impossível” de não ser conquistada — isso, mais o terceiro lugar no campeonato. E com um relvado escorregadio à mistura, a tal pressão parecia emperrar quem dela deveria viver. Isso via-se na bola que, em pés leonino, até circulava bem, com acerto e ao primeiro toque, mas com cautela de sobra e velocidade a menos para trocar as voltas aos jogadores que o Nacional trouxera da Madeira — e do 2-2 da primeira mão — organizados e, sobretudo, com mais genica.

Sporting: Rui Patrício; Miguel Lopes, Paulo Oliveira, Ewerton e Jefferson; William Carvalho, Adrien Silva e João Mário; Nani, André Carrillo e Islam Slimani.

Nacional da Madeira: Gotardi; João Aurélio, Zainadine Júnior, Rui Correia e Marçal; Ali Chazal e Christian; Luís Aurélio, Tiago Rodrigues e Marco Matias; Tiquinho.

Porque desses pés apareceram os primeiros remates. Ou melhor, de um, do direito de Marco Matias, o avançado mascarado de extremo que, logo aos 12’, fugiu para as costas da defesa e rematou, por cima, uma bola vinda do pontapé de baliza de Gotardi e da escala feita na cabeça de Tiquinho, que saltara mais alto que a de Paulo Oliveira. O mesmo pé, depois, aos 16’, escondeu-se nas costas de William Carvalho para receber a bola e, com ela, se virar logo para a baliza e soltar uma bomba — que saiu disparada para ainda tocar na barra da baliza de Rui Patrício. Dois avisos, um mais sério que outro, do português com 15 golos feitos esta época.

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Ele ainda originaria outro, aos 20, quando à direita fingiu que ia cruzar, parou, meteu a bola para o pé esquerdo e atrasou-a, rasteira, para a entrada da área, onde o direito de Tiago Rodrigues só conseguiu rematar à figura do guarda-redes do Sporting. E o Sporting, cadê? A equipa tinha mais bola, acertava os passes e assumia o jogo, sim, mas velocidade era coisa que ainda faltava para desmontar as marcações que Ali Ghazal e Christian, brasileiro com um motor de mota nas pernas, montavam à frente da defesa. Pelo menos até se lembrar de pedir a André Carrillo para cruzar a bola.

Rasteira ela não chegava a Slimani, mas pelo ar passou a chegar. Aos 29’, uma jogada calma chegou à esquerda, ao peruano, que usou o pé direito para atirar a bola para as costas de Zainadine Júnior e ver o argelino, de cabeça, a rematar para fazer um favor às mãos de Gotardi. Aos 33’, um contra ataque que os leões aceleraram devolveu a bola a Carrillo, que do mesmo lado voltou a cruzar para, desta vez, Slimani nem na baliza acertar. E Zainadine, talvez pela touca (?) que lhe cobria a cabeça, voltava a esquecer-se do avançado. Era um duplo desperdício ao qual se seguiu um terceiro, aos 41’, quando Jefferson tirou de qualquer maneira uma bola da defesa que a cabeça de Slimani desviou e o sprint de João Mário apanhou, mais à frente. O médio, contudo, respondeu à saída de Gotardi com um chapéu que acabou na rede da baliza.

Pouco antes do intervalo, um ‘contra’ à boleia de Christian viu o brasileiro fintar, à força, Paulo Oliveira e, à entrada da área, rematar uma bola que Rui Patrício teve de desviar para canto. Chegado a meio, o jogo até estava como Marco Silva o previra: com o Sporting a tomar conta da bola (63%) e o Nacional a ficar à espreita de contra ataques. Mas por opção, pois a sensação que dava era que os madeirenses não queriam, por enquanto, arriscar mais do que o pouco que os leões também davam ao risco.

E risco foi algo que a baliza dos leões sentiu logo aos 52’, quando um canto de Tiago Rodrigues encontrou a cabeça de Christian, perto do primeiro poste, que só uma defesa, das boas, de Rui Patrício, e um chutão de Jefferson, próximo da linha, impediram de dar em golo. Depois, num livre a 37 metros de distância, o balanço dado por Christian bem avisara que dali vinha um remate. Veio mesmo: o brasileiro disparou e o guarda-redes do Sporting, aos 59′, teve de ir parar a bola junto ao poste direito da baliza.

Isto eram bolas perigosas. Pelo meio havia outras que, nem por isso. Como os remates, de bem longe, que Nani tentava e acabavam bem ao lado da baliza, ou o que Slimani não conseguia fazer, aos 60’, quando não chegou ao cruzamento rasteiro e com açúcar de André Carrillo, desde a direita da área. Nem mesmo o livre a 18 metros da baliza, aos 68’, viu Nani fazer a bola chegar à baliza de Gotardi. Depois houve um remate, dos tortos, de Adrien Silva, aos 70’, que parece ter havido um pacto — não mais alguém atacaria, a sério, as balizas.

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O Sporting foi tendo mais do dobro da posse de bola do Nacional, o triplo dos ataques, mais cantos e passava mais tempo na metade alheia do campo. Mas a lentidão, e a cautela, não ajudavam. A maioria dos pactos são honrados, mas a história, as guerras e o futebol já ensinaram que nem sempre se pode confiar neles. E aos 86’, para o provar, apareceu o ombro de Ewerton, o canhoto central que os leões foram, no Natal, resgatar à Rússia, para desviar um cruzamento que vinha de um livre, na direita, de Jefferson. Deu em golo, no 1-0 e na garantia que, três anos depois, o Sporting voltaria ao Estádio do Jamor, em Oeiras.

O caminho do Sporting até à final da Taça de Portugal: FC Porto (3-1), Sporting de Espinho (5-0), Vizela (3-2), Famalicão (4-0) e Nacional da Madeira (2-2 e 1-0).

Para, talvez, voltar a levar a Taça de Portugal para casa sete anos depois. Em 2012, os leões de Ricardo Sá Pinto não venceram a Académica (1-0), mas, em 2007, os treinados por Paulo Bento ganharam (1-0) ao Belenenses de Jorge Jesus . Esse foi o 15.º caneco que o Sporting levou do Jamor e, agora, lá vai voltar em busca do 16.º. E mais: essa final foi a última partida que Nani fez antes de sair para o Manchester United, e esta será também o último jogo que o extremo fará antes de retornar a Inglaterra. Ainda não tem adversário, mas, pelo andar das coisas, deverá ser o Sporting de Braga de Sérgio Conceição que, na primeira mão das meias-finais já venceu por 3-0 o Rio Ave. A pressão, portanto, deu resultado e o Sporting viverá com ela até 31 de maio, dia em que o Estádio Nacional se voltará a encher para a final da Taça de Portugal.