Quem hoje visitasse o Estádio do Dragão, quase vazio, sem a atmosfera vitoriosa de tantos outros fins de campeonato na Invicta, diria que o encontro da última ronda da Liga entre Futebol Clube do Porto e Penafiel era a feijões. Talvez tenha razão, talvez não tenha. A verdade é que os dois clubes, quando subiram ao relvado, não subiram para disputar um mero jogo, mas para limpar a imagem.

O Futebol Clube de Porto, com o golo de Tiago Caeiro no Restelo, fez-se à A1, de volta a casa, sabendo que o Benfica se havia sagrado campeão a norte. Não deve ter sido uma viagem de autocarro nada fácil de se fazer. O Penafiel, último classificado, e com o passaporte de regresso à Segunda Liga carimbado há três semanas, se vencesse no Dragão, e o penúltimo, Gil Vicente, não somasse pontos na recepção ao Belenenses, trocaria de posição com os minhotos.

Estatisticamente, em 27 partidas entre o Porto e o Penafiel, os durienses nunca venceram, empataram cinco vezes, e perderam os restantes desafios. Mais: o Porto não perde na Liga há 15 partidas, o que constitui o melhor registo de qualquer clube no presente campeonato, e não sofreu qualquer golo no Dragão nos últimos cinco jogos. O Penafiel, curiosamente, também conseguiu um recorde na Liga, este mais negativo, e tornou-se no clube que mais golos encaixou numa só edição: 67.

Mas a verdade é que o Porto está magoado, o que pode significar que vai entrar com o pé no acelerador, e ganhar de goleada, ou… que o empate em Lisboa que decidiu o título, mas, sobretudo, o bate-boca dos Super Dragões com o Dragões Diário, boletim informativo do clube, que aconteceu um dia depois do plantel ter sido recebido no Olival por uma centena de membros da claque com pás e picaretas em riste, tudo isso pode vir a ser o alento de que o Penafiel precisaria para conseguir surpreender no Estádio do Dragão.

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Porto: Helton; Danilo, Reyes, Martins Indi e José Ángel; Casemiro, Rúben Neves e Quintero; Quaresma, Brahimi e Jackson.
Penafiel: Coelho; Dani, Ustaritz, Pedro Ribeiro e Vítor Bruno; Ferreira, André Fontes e João Martins; Braga, Rabiola e Aldair.

O jogo também deve ser de despedida para muito jogadores. Danilo vai deixar o Porto ao fim de quatro temporadas, rumo ao Real Madrid, e Casimiro, que hoje chegou aos 200 jogos oficiais como profissional, também deve acompanhar o compatriota (curiosamente ainda vão os dois disputar a Copa América pelo Brasil) na viagem para a capital espanhola. O médio-defensivo foi emprestado pelo Real, com opção de compra, mas o Porto não parece disposto a pagar os 15 milhões de euros que Florentino Pérez exige. Óliver Torres, que finalmente comprovou esta temporada todo o talento que se lhe augurava, também vai regressar a Madrid, mas ao Atlético, e nem foi convocado por Julen Lopetegui. Por fim, também na porta de saída está o guarda-redes Helton, que revelou no final da partida do Restelo que não recebeu qualquer proposta para renovar o seu contracto, que termina no final de junho.

O Futebol Clube do Porto entrou pressionante, mandão, a circular a bola com rapidez, e logo no primeiro minuto de jogo quase inaugurou o marcador. Danilo centra da direita, o central Pedro Ribeiro dá uma rosca na bola, que sobra redondinha na área para o próprio Danilo, mas, sem marcação, o lateral atira para defesa de Coelho.

O Penafiel mal pressionou no começo da partida. Os extremos, Aldair à direita e Braga à esquerda, não queriam nada com o ataque, e recuaram para fechar o meio campo interior, e só Rabiola na frente tentava travar a construção de jogo portista desde trás. No Porto, o miúdo Rúben Neves circulava a bola a preceito, a esquerda do ataque mal se via, com Brahimi a derivar invariavelmente para dentro, e José Ángel, que entrou para o lugar de Alex Sandro, a não fazer um cruzamento digno desse nome, e foi sempre Quaresma, omnipresente, a vir procurar a bola, a tratá-la como ela gosta, e, num cruzamento do ciganito, Jackson quase marcou de cabeça. Foi aos 4′.

Aos 17′ a jogada parecia tirada a papel químico. Quaresma, sempre ele, volta a centrar e Jackson falha como não é comum falhar, de cabeça, sozinho, atirando por cima da barra. Um falhanço destes, no Restelo, a poucos minutos do fim, ajoelhou Lopetegui e deu o título ao Benfica.

O Penafiel, só de livre importunou a baliza de Helton, e fê-lo pelo geómetra João Martins, que, como o irmão Carlos, do Belenenses, põe a bola onde quer, vê o que os outros não vêm, e viu que podia bater o guardião brasileiro se pusesse a bola a fugir para o poste esquerdo. Fugiu demais, mas assustou.

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O jogo foi monótono, quase em ritmo de treino, com o Porto a ter uma posse de bola esmagadora, mas a verdade é que, em remates enquadrados com a baliza, fez tantos quanto o último classificado da Liga: um. A única jogada capaz de fazer um “bruaaaaa” no estádio foi mesmo a de Quintero, que mal se viu na primeira parte, mas partiu os rins à defesa do Penafiel, soltou para Quaresma, que centrou, e Brahimi, sozinho, com a baliza escancarada, atirou para as nuvens. O “bruaaaaa” não se ouviu, como não se ouviu um sopro o primeiro tempo inteiro, e assim se foi para intervalo.

Lopetegui não podia estar satisfeito com a aplicação dos seus jogadores, e mudou a táctica ao intervalo. Tirou Casimiro, recuou Rúben Neves para “6”, e fez de Evandro o cérebro do jogo portista. O “trequartista” Quintero, que tinha a missão de arquitectar o jogo, não saiu ao intervalo, mas, tal como na primeira parte, o cérebro que se lhe pedia, foi para a Copa América antes do próprio corpo.

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Só aos 68′ (!) é que o Porto teve a primeira oportunidade de perigo no segundo tempo. A fórmula foi a mesma que se viu nos primeiros 45 minutos, com Quaresma a centrar, e Jackson a falhar. Não foi de cabeça, foi um tanto mais acrobático, de bicicleta. O cafetero não queria garantir já hoje o título de melhor marcador da Liga. Jonas, sobetudo ele, com 18, e Lima, com 17 golos, jogam amanhã com o Marítimo, e ainda sonham alcançá-lo.

Não marcou Jackson, marcou o outro ponta-de-lança, que havia entrado para substituir Brahimi, tocado, após o recomeço do jogo. O camaronês Aboubakar desmarcou-se no centro da área a passe de Evandro, e desviou à saída de Coelho. 1-0 para o Porto aos 82′. O mesmo Aboubakar, quase no final do encontro, não se desmarcou no segundo golo, mas foi ele quem desmarcou Danilo, assistindo o brasileiro para o seu último golo de dragão ao peito aos 92′. Os festejos já mal se ouviram, até porque a claque dos Super Dragões abandonou o estádio minutos antes, e votou-se ao silêncio durante todo o encontro.