O PSD “encara com naturalidade” a renomeação de Carlos Costa e “reconhece o mérito e a coragem” do governador do Banco de Portugal (BdP) “num período extremamente difícil” do país. Foi desta forma que Carlos Abreu Amorim, coordenador dos deputados do PSD na comissão de inquérito ao BES, reagiu às críticas em torno da recondução de Carlos Costa.

Em declarações aos jornalistas, no Parlamento, Carlos Abreu Amorim classificou como “exemplar” a atuação de Carlos Costa, atendendo aos “condicionalismos” que existiam e que levaram à queda do banco. “Carlos Costa foi único a fazer frente e a ter dito não” a Ricardo Salgado, começou por dizer o deputado social-democrata, para depois acrescentar que o governador do BdP revelou sempre “coragem” e “honestidade” em todo o processo.

No entanto, esta nem sempre foi a posição de Carlos Abreu Amorim e do grupo parlamentar do PSD. Durante as primeiras semanas de comissão de inquérito, o deputado social-democrata defendeu a necessidade de esclarecer de forma definitiva uma questão: Carlos Costa teria ou não o poder para retirar em devido tempo a idoneidade dos administradores do BES e do GES?

O PSD acreditava que sim, que Carlos Costa poderia ter feito mais, mais cedo. Mas, no Parlamento, o governador do BdP dissera que o supervisor não tinha poderes consagrados na lei para afastar a equipa de gestão do Banco Espírito Santo (BES) e retirar a idoneidade de Ricardo Salgado, socorrendo-se de um parecer de “dois grandes juristas de Coimbra”. Ora, Pedro Maia, precisamente um dos autores desse parecer, enviou uma carta para os deputados da comissão para deixar bastante claro que a sua posição era “exatamente contrária” à de Carlos Costa. Perante a aparente contradição de testemunhos, o PSD exigia que Carlos Costa voltasse a ser ouvido no Parlamento.

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Em resposta às palavras de Pedro Maia, o governador do Banco de Portugal enviou um esclarecimento ao Parlamento onde explicava que as referências feitas aos pareceres entregues por Salgado na defesa da sua idoneidade foram genéricas, o que ajudava a explicar a posição do BdP. Perante os novos dados, o coordenador do PSD veio clarificar a sua leitura dos acontecimentos: “É óbvio que o governador foi a única pessoa que conseguiu fazer frente a um dos poderes instalados nas últimas décadas em Portugal e que vai ‘entrar na história bancária’ por causa da intervenção no BES”. Isto no mesmo dia em que Passos Coelho dava uma entrevista à RTP, onde defendia que o que tinha acontecido no BES não era “resultado de má supervisão”, mas sim de “má gestão do banco” e passava uma carta de conforto a Carlos Costa.

Uma mensagem repetida esta quarta-feira. Carlos Abreu Amorim reconheceu que neste dossier “não podemos ilibar quem quer que seja”, mas insistiu na tese de que Carlos Costa fez tudo o que podia com a informação que dispunha e, por isso, a sua recondução no cargo era uma “questão de bom-senso”.

Da defesa de Carlos Costa, o deputado social-democrata partiu para o ataque ao PS, que, horas antes, pela voz de Pedro Nuno Santos, tinha dito que esta era a “nomeação de um governador mais partidarizada de sempre”. Ora, Carlos Abreu Amorim fez questão de lembrar que Carlos Costa tinha sido uma escolha do PS e, antes dele, Vítor Constâncio, ex-secretário-geral socialista, tinha ocupado o cargo durante a crise do BPN. “Essa sim foi uma nomeação partidarizada”, acusou o social-democrata.

Já para o Bloco de Esquerda, a nomeação de Carlos Costa significa que Passos Coelho conseguiu implementar “um projeto de direita em Portugal” ao ter “um Presidente, um Governo, uma maioria e também o governador do Banco de Portugal” para assim “controlar o sistema financeiro”, acusou a deputada Mariana Mortágua.

Aos jornalistas, a deputada considera ainda que Carlos Costa é um “testa-de-ferro” do Governo e que a sua renomeação foi uma “recompensa política” e um “prémio” por ter sido o Banco de Portugal a ficar com a responsabilidade da queda do BES e da decisão de resolução do banco e não o Governo. Para a deputada Mariana Mortágua, a recondução é “um prémio político que o primeiro-ministro dá, apesar das opiniões do PSD e do CDS na comissão de inquérito” e por o Governo “não estar a ser responsabilizado pelos erros” no caso do BES.

A deputada bloquista lembrou que o relatório da comissão de inquérito apontou erros ao Banco de Portugal na gestão do BES e que a posição do PSD e do CDS mostram que houve um “recuo estratégico” dos partidos da maioria para acompanharem uma decisão “que se percebe que é tomada unilateralmente pelo primeiro-ministro”.

*Artigo atualizado com detalhes sobre as posições de Carlos Costa e do PSD durante a comissão de inquérito ao BES