Carlos Costa falou esta semana com Passos Coelho, transmitindo ao primeiro-ministro incómodo com a posição dos deputados da maioria na comissão de inquérito parlamentar aos atos de gestão do Banco Espírito Santo (BES), soube o Observador. Nessa conversa, o primeiro-ministro mostrou-lhe total apoio institucional, garantindo o seu apoio inequívoco à atuação do Banco de Portugal no caso BES.

Passos Coelho fez, de resto, mais do que isso: ontem na entrevista à RTP enviou uma mensagem pública clara sobre o caso: “O que aconteceu no BES não é o resultado de má supervisão. É resultado de má gestão do banco. Espero que nenhuma comissão de inquérito inverta esta questão”. Para que não restassem dúvidas – nomeadamente para os deputados do PSD na comissão – o primeiro-ministro ainda acrescentou outra frase: “O Governo tem sido um apoiante muito determinante da atuação do Governador que tem sido um homem muito corajoso”.

Passos não prescinde de escolher o próximo governador

Mas o chefe de Governo (e do PSD) não quer que se “invertam” as questões. Garantiu ao governador que da parte do Executivo não há qualquer incómodo com a sua atuação – e sublinhou que própria ministra das Finanças lhe mostrou sempre confiança no seu papel, pela coragem de intervir no banco em junho passado. Para Passos, uma coisa é dizer que alguma coisa podia ser melhor na supervisão, outra é questionar o que fez Carlos Costa, o que não quer que aconteça.

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Este Governo vai, aliás, ter a hipótese de decidir se quer que o atual governador fique em funções já em maio próximo, quando terminar o mandato de cinco anos. Um poder de que o primeiro-ministro não vai prescindir.

Sociais-democratas satisfeitos com esclarecimentos do governador

O filme dos acontecimentos das primeiras semanas da comissão de inquérito foi duro para Carlos Costa, sobretudo quando uma carta enviada por um dos jurista que fez os pareceres que sustentaram a tese da idoneidade de Ricardo Salgado junto do supervisor, ter posto em causa as declarações do governador na comissão. A reação negativa foi geral, com alguns deputados à esquerda a acusarem o governador de faltar à verdade.

Mas a primeira crítica a Carlos Costa partiu do PSD, cujo coordenador na comissão, Carlos Abreu Amorim, defendeu que era necessário esclarecer a contradição entre as declarações sobre o poder do supervisor para retirar a idoneidade ao ex-presidente do BES, manifestando esta quarta-feira a intenção de chamar outra vez o governador.

Esta posição foi no entanto revista, na sequência do esclarecimento enviado esta quinta-feira pelo governador ao Parlamento no qual explica que as referências feitas aos pareceres entregues por Salgado na defesa da sua idoneidade foram genéricas. “Consideramos que o governador esclareceu totalmente as nossas dúvidas” levantadas pelas alegações do Pedro Maia (o jurista que contestou a interpretação dada por Carlos Costa ao seu parecer), salienta ao Observador o deputado Carlos Abreu Amorim. O coordenador do PSD vai mais longe na defesa da atuação de Carlos Costa:

“É óbvio que o governador foi a única pessoa que conseguiu fazer frente a um dos poderes instalados nas últimas décadas” em Portugal e que vai “entrar na história bancária” por causa da intervenção no BES.

O coordenador do PSD na comissão parlamentar de inquérito considera legítima a interpretação jurídica que o governador faz dos poderes do Banco de Portugal para intervir no caso do BES e que a sua atuação foi estritamente rigorosa. Carlos Costa voltará a ser ouvido pela comissão de inquérito, conforme estava já previsto desde o início.

PSD quer ouvir Ricardo Salgado, o quanto antes

O PSD quer ouvir o ex-presidente do BES, Ricardo Salgado, o quanto antes, adiantou ainda Carlos Abreu Amorim, As audições de Ricardo Salgado e José Maria Ricciardi, previstas para a primeira semana de dezembro, foram adiadas depois do PCP ter apresentado um requerimento para ouvir primeiro as duas técnicas do Banco de Portugal que acompanhavam o banco. O objetivo é agendar estas audições para a segunda semana de dezembro, acrescentou o deputado do PSD.

Esta semana a Polícia Judiciária fez buscas em instalações do ex-BES e à residência de antigos administradores, que incluiu a casa de Ricardo Salgado, e atuais colaboradores do Novo Banco, na sequência de uma investigação a suspeitas de crimes de fraude fiscal qualificada, burla, branqueamento de capitais, falsificação de contabilidade e abuso de confiança. Até sexta-feira havia indicação de que tinham sido constituídos dois arguidos, que continuavam a exercer o cargo de diretores do Novo Banco.