O secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, afirmou hoje em Setúbal que o Governo está “obcecado” com a privatização de empresas públicas nos meses que lhe restam até às eleições, ao mesmo tempo que viabiliza novas parcerias público-privadas.

“Temos um Governo que está completamente obcecado, no tempo de vida que lhe resta até às eleições, em ir tão longe quanto puder [na privatização de empresas públicas]”, disse Arménio Carlos, que falava à Lusa durante uma concentração de trabalhadores da CP-Carga, em Praias-do Sado, no concelho de Setúbal, no âmbito da semana de luta da CGTP, que decorre até 19 de junho, contra a privatização e a subconcessão de empresas de transportes públicos.

“O Governo que diz que não pode dar mais do que 2,5 milhões de euros para empresas de transportes públicos que estão na esfera pública do setor empresarial do Estado é o mesmo Governo que se disponibiliza a dar à iniciativa privada – que eventualmente tomará conta da gestão destas empresas públicas – 150 milhões de euros por ano, mais 50% das tarifas no que respeita à receita efetuada e mais as receitas recorrentes da publicidade”, acrescentou.

Para o líder da CGTP, a privatização de empresas públicas de transportes terá consequências graves para os trabalhadores, mas também para o Estado e para os utentes dos transportes, sendo que os benefícios revertem apenas para as empresas privadas, como prevê que venha a acontecer na Carris e no Metro de Lisboa.

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“Com negócios destes, isto não custa nada, é sempre a juntar. O que nós verificamos é que estamos perante mais uma PPP [Parceria Público-Privada], em que os privados saem sempre beneficiados, o Estado sai sempre prejudicado, e, já agora, sobrará sempre alguma coisa, se isto porventura isto se concretizasse, para os trabalhadores e para os utentes, quer no que respeita aos direitos dos trabalhadores, quer no que respeita à degradação da qualidade do serviço e eventuais aumentos de preços dos transportes para os utentes.

Arménio Carlos denunciou ainda alegadas pressões sobre os trabalhadores da Carris e do Metro, para que interiorizem a ideia de que alguns deles terão que ser dispensados.

“Neste momento, o que se verifica é uma tentativa de pressão, de coação psicológica, de tortura psicológica sobre os trabalhadores da Carris e do Metro, procurando instalar a ideia de que há pessoas a mais que têm de ser dispensadas”, disse.

“A mensagem que queremos deixar aos trabalhadores destas duas empresas – como de outras, como os SCTP ou o Metro do Porto – é que devem resistir e não devem ir atrás deste conto da sereia, que é uma fraude e um embuste. Os trabalhadores têm compromissos, cumprem com os seus deveres e as empresas têm de respeitar os seus direitos”, acrescentou o dirigente da CGTP, convicto de que nem a Carris nem o Metro de Lisboa têm trabalhadores a mais.

No que respeita à greve de 24 horas que decorre na quarta-feira na CP-Carga, Arménio Carlos disse que “está com uma adesão superior a 90%” e assegurou que “a única coisa que funciona são os transportes de mercadorias perigosas, incluídos nos serviços mínimos”.

“Os trabalhadores [da CP-Carga], para além de indignação contra este atentado ao património público que é a privatização da CP-Carga, como de outras empresas de transportes públicos, estão fortemente empenhados em seguir esta luta para defender os seus interesses, mas, acima de tudo, os interesses nacionais”, acrescentou o dirigente da CGTP, que promete um “verão quente”, no que respeita à luta dos trabalhadores dos transportes públicos.