O objetivo era “mediatizar a campanha mostrando as coisas boas”. Foi assim que Passos definiu a manhã deste sábado, dedicada inteiramente a visitas a produtores e empresários agrícolas e vinícolas da região de Santarém. Com os pés assentes na terra, literalmente, Passos Coelho e Paulo Portas elogiaram a quantidade, através dos números das exportações, mas também a qualidade dos agricultores portugueses que, “nem na Califórnia” trabalham tão bem. Brindaram, com vinho nacional premiado na Alemanha, “à saúde, a Portugal, aos agricultores, e já agora, a um bom resultado” no dia 4 de outubro. Subiram aos tratores agrícolas para cumprimentar os condutores – e elogiaram-se mutuamente. O PS não esteve nos campos de milho, mas esteve sempre na mira da coligação.

Primeiro foi Portas, que discursou durante o almoço em Ourém. Pegando numa citação do economista do PS Mário Centeno ao Expresso, quis mostrar que, se António Costa ainda “não soube, passados dois dias do debate das rádios, explicar o que vai fazer com os mil milhões de cortes nas prestações sociais”, o economista do PS deu mais luzes:

“Está simulado um congelamento de pensões até ao fim da legislatura com excepção das pensões mínimas. Outra condição é haver uma condição de recursos global para todas as prestações não contributivas e também para a ação social”, disse Portas, citando Mário Centeno. E depois rematou: “Cada um tire as conclusões que quiser”.

Passos Coelho seguiu-lhe o número e, subindo ao palanque logo depois do líder do CDS deixou críticas ao facto de António Costa ter garantido ontem que não iria viabilizar nenhum Orçamento do Estado da coligação. A ideia, segundo Passos é simples: “Ao dizer que vota contra um orçamento que não conhece é dizer que vota contra Portugal”. E essa, diz, “não é a atitude que se espera de alguém que queira ser candidato a primeiro-ministro”.

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“Uma coisa é termos uma visão diferente, propostas diferentes do que que queremos fazer, outra coisa é achar que só temos sorte se o país estiver suficientemente mal e tiver azar para que as minhas propostas possam ser mais atrativas do que as dos outros”, disse Passos, acusando o PS de estar a apostar no azar do país.

Para Passos, a atitude certa é, como já sugeriu no frente a frente com António Costa, estar pronto para, quer ganhe quer perca, negociar e dialogar no day after. “No dia a seguir às eleições vamos-nos sentar à mesma mesa para acordar as reformas importantes, a começar pela  reforma das reformas, que é a da Segurança Social”, disse. Oposição à parte, o discurso em Santarém foi de confiança. “Nós podemos ser, apesar das adversidades e das circunstâncias, aquilo que quisermos ser”, rematou Passos pedindo “união” para que se criem as “condições políticas, a estabilidade política e um resultado inequívoco” nas eleições.

“Um resultado inequívoco” no dia 4, que seria o suficiente para Passos abrir a garrafa de vinho que recebeu das mãos dos produtores da Quinta da Alorna. “Espero ter brevemente uma ocasião suficientemente especial para abrir um vinho destes”, disse Passos aos jornalistas no final da visita. A confiança existe, falta convencer os eleitores mais indecisos.