António Costa não pode fazer outra coisa senão demitir-se se o PS perder as eleições. A convição é dos críticos do atual secretário-geral numa altura em que o partido vive nervoso e já pensa no pós-eleições. Se as sondagens estiverem certas, os socialistas arriscam-se a ficar vários pontos atrás da coligação PSD/CDS e esse é um cenário que faz movimentar os críticos.

Uma derrota do PS vai mergulhar o partido numa crise profunda. Primeiro, é preciso perceber se António Costa toma a decisão de sair seja qual for a dimensão da derrota ou se só o fará em caso de um grande trambolhão. Costa pode querer continuar e negociar com o PSD/CDS se este não obtiver maioria absoluta. Mas os críticos internos e os atuais apoiantes desiludidos vão pedir-lhe mais. E os posicionamentos podem acontecer logo na noite eleitoral. Caso Costa perca, haverá pedidos para uma clarificação do partido e poderá surgir de imediato – se o líder não o fizer – o pedido para um congresso extraordinário.

“António Guterres demitiu-se por menos”, diz um deles, recordando a demissão do então primeiro-ministro e líder do PS, na sequência de um mau resultado nas eleições autárquicas. “Todos têm que assumir as suas responsabilidades”, diz outro, abarcando, assim, todos os dirigentes que estão com Costa bem como os seus principais conselheiros. “Quem perde, sai. O líder é importante, mas não é o mais importante, não há salvadores da pátria”, declara outro.

Mas Costa não terá a mesma interpretação. Para já, perdeu por “poucochinho” pode dar-lhe espaço para ficar no partido e preparar umas eleições que sejam mais cedo do que tarde. Para Costa “o cenário é o de vitória. Não se equaciona essa questão de sair ou não”, dando a entender, na conversa com o Observador, que não sai se tiver uma derrota por pouco.

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Os chamados seguristas assistem em silêncio, mas as críticas dentro do partido são muitas. Os socialistas estão incrédulos sobre o rumo da campanha e a não descolagem nas sondagens. António Costa que quis concorrer à liderança do PS depois de a vitória de António José Seguro nas europeias por esta ter sabido “a poucocinho” tinha elevado as expetativas e a ambição era a maioria absoluta, sem rodeios.

Quem se pode seguir? Francisco Assis, que se candidatou em 2011 à liderança do PS e perdeu para António José Seguro, era o nome mais óbvio até ter dito ao jornal i esta quinta-feira que não lhe passava pela cabeça nova candidatura e que estava a “gostar muito” do trabalho como eurodeputado. Assis, várias vezes e de forma isolada, chamou a atenção para a necessidade de o PS ter que dialogar mais com o PSD, como no último congresso do partido. Seria até por isso um interlocutor mais amistoso em relação a Passos Coelho.

Pedro Nuno Santos, ex-líder da JS e cabeça de lista por Aveiro, tem ambições políticas que até Costa vai alimentando. Ainda esta semana, numa brincadeira com uma bola de futebol em plena campanha, Costa vincou à frente dos jornalistas: “Olhe, que isto tem significado político, vou passar-lhe a bola!”. O deputado disse ao Expresso que não era candidato, mas nunca se sabe o dia de amanhã. É que tal como Assis, uma coisa pode ser dita antes das eleições, outra depois.

Os mais desiludidos com Costa, porém, dizem já “que todos têm que assumir as suas responsabilidades” e com isso também Pedro Nuno Santos, que fez parte da entourage do líder e aceitou dar a cara como número 1 num distrito onde os socialistas têm dificuldades. Aveiro é um distrito onde nas últimas eleições PSD e CDS têm sido sempre mais fortes que o PS.

E António José Seguro? O telefone do líder destronado por Costa não tem parado de tocar nos últimos dias. O momento agora é de medir o pulso ao partido e ao que vai acontecer, sendo que os seus mais próximos consideram que qualquer eventual avanço não pode ser visto como uma atitude de vingança numa altura em que o partido precisará de união.

Álvaro Beleza, um dos homens mais próximos de Seguro, é tido como provável candidato à liderança para satisfazer a ala que foi afastada do poder por António Costa. E se Assis e Pedro Nuno fizeram declarações, o mesmo não aconteceu com Álvaro Beleza.

Se as sondagens estiverem todas erradas e o PSD perder as eleições, há que também esperar para ver o que Pedro Passos Coelho fará, se sai da liderança do partido ou se fica para negociar com um Governo socialista. Em caso de derrota, as atenções centram-se em Rui Rio, o homem de que todos estão à espera. O ex-autarca do Porto resolveu esperar pelo resultado das eleições para decidir se avança para uma candidatura a Belém ou para a liderança do partido.

Rio não se manteve à margem da campanha, embora a sua colaboração tenha sido discreta. Esteve no Porto, numa arruada com o cabeça de lista da coligação, José Pedro Aguiar-Branco, escolhendo um dia em que Passos e Portas estavam longe, noutro distrito. Aos jornalistas, elogiou os esforços do atual Governo no último ano mas sem grandes elogios para os respetivos líderes dos partidos da coligação. Depois em Viseu, apareceu num jantar da coligação, mas sem discursar. Chegou atrasado, mas teve honras de se sentar na mesa principal.

Em 2011, o PSD concorreu sozinho e teve 38,7%, conseguindo 108 mandatos (em 230). Longe da maioria absoluta (115), optou por fazer coligação pós-eleitoral com o CDS. O PSD teve dos piores resultados de sempre, abaixo dos 30%, com Manuela Ferreira Leite, Pedro Santana Lopes e Francisco Sá Carneiro.

No caso do CDS, um mau resultado pode levar ao fim da liderança partidária mais antiga em vigor. De todos os atuais líderes partidários, Paulo Portas é o que está há mais tempo a mandar, o que mais campanhas eleitorais fez. É quase certo que, ao fim deste tempo todo e depois de ter sido vice-primeiro-ministro (um sonho antigo), Portas demitir-se-á caso perca as eleições. Já o fez, aliás, em 2005 quando José Sócrates foi eleito com maioria absoluta.

Nuno Melo? João Almeida? Mota Soares? Assunção Cristas? São vários os centristas que se podem posicionar para a sucessão. Melo é eurodeputado e durante muito tempo foi visto como o número 2 do partido. João Almeida sucedeu a Portas como cabeça de lista em Aveiro, um pormenor que tem importância e que deixa antever outras possíveis sucessões. Mota Soares é um dos homens de confiança de Portas mais bem treinados politicamente pelo seu líder. Assunção Cristas tem ambições que não disfarça, embora tenha vários anti-corpos no partido.

A escolha dos nomes de deputados foi um processo complicado que deixou marcas no partido e que, se o domingo trouxer más notícias, vai emergir rapidamente. Portas deixou de fora de lugares elegíveis deputados de Braga, Lisboa ou Leiria, que irão cobrar o benefício que o partido poderá ter. O líder da distrital de Braga, o ainda deputado Altino Bessa, nem sequer fez campanha.

Em 2011, o CDS teve 11,7% dos votos e 24 lugares, o melhor resultado do partido desde 1983, com Francisco Lucas Pires. Com este resultado, o CDS posicionou-se confortavelmente como a terceira força política, à frente dos comunistas. Durante vários anos, esteve atrás do PCP e os dirigentes nunca se conformaram com isso. Antes das eleições, quando poucos acreditavam que a coligação conseguissem vencer as eleições e, entre os centristas, era admitido que o número razoável de deputados a manter de forma a não ser muito humilhante eram 18.

Para Jerónimo de Sousa, pode-se dizer, é indiferente. Isto no sentido em que no PCP não há demissões de secretário-geral quando o resultado eleitoral é menos bom. Jerónimo foi eleito em 2004, vai no terceiro mandato e, se o calendário for cumprido com normalidade, só há novo congresso no final de 2016. Portanto, até lá Jerónimo mantêm-se, mas não é provável que renove a comissão de serviço e não tem a ver com estas eleições – terá nessa altura 70 anos. Em entrevista ao jornal i no início da campanha, Jerónimo comentava a questão da idade para sublinhar que ainda tem muita força.

“Estou aqui para as curvas. Mas isto não é eterno. Mas o essencial é o que o meu partido decidir. Por mim estou em condições de continuar, embora com esta ideia: um dia sairei desta responsabilidade, enquanto tiver capacidade para decidir também e para fazer esse juízo de valor”, declarou.

Nas eleições de 2011, a CDU teve 7,9% dos votos e 16 mandatos, sendo que o melhor resultado dos últimos 25 anos foi obtido em 1999, na reeleição de António Guterres, com 17 lugares.

De qualquer forma, os comunistas estão otimistas em relação ao resultado eleitoral. Nas ruas, Jerónimo é acolhido com simpatia. As sondagens não dão números muito acima da média, mas a verdade é que não há eleições em que o PCP não tenha mais votos do que aqueles que lhes são atribuídos em projeções.

No caso do BE, o que está em jogo é muito. São as primeiras legislativas desde que Francisco Louçã abandonou a direção do partido e o BE adotou um modelo de liderança suis generis com seis responsáveis máximos e que foi contestado ao mais alto nível. Catarina Martins surpreendeu nos debates, mostrando-se preparada e com pedalada para os sucessivos adversários – surpreendeu até os que dentro do partido nunca foram seus fãs. Mas isso pode não ser suficiente.

Vejamos. Em 2009, o BE teve 9,8% dos votos e 16 mandatos. Nas legislativas seguintes, caiu para 5,2% dos votos e oito lugares – exatamente metade dos mandatos. Se a tendência de queda se repetir no domingo, será fatal para esta direção, para Catarina Martins e, até, para o partido nascido em 1999, fruto de uma aliança de três formações que sozinhas não conseguiam obter representação partidária, PSR, Política XXI e UDP. No entanto, as sondagens indicam desde o início da pré-campanha que o BE está em crescimento, estando em alguns casos com intenções de voto iguais aos da CDU.

Se o domingo correr mal, é quase certo que Catarina Martins será acossada. Há precisamente um ano, Pedro Filipe Soares, da Corrente Alternativa Esquerda (herdeira da UDP), e líder parlamentar do partido, apresentava uma candidatura alternativa à direção (na altura Catarina Martins e João Semedo). Na contagem de votos, as duas moções ficaram quase empatadas e depois foi cozinhada a solução de liderança a seis – um lugar por cada uma das moções que foram a votos. Uma das questões que a ala de Pedro Filipe Soares contestava era precisamente as aproximações do partido ao PS, indignando-se com aquilo que achava que era um excesso.

Na moção que apresentou, Pedro Filipe Soares pedia um “regresso às origens” e à “combatividade”, alegava que “o Bloco perdeu o capital de confiança” e elencava alguns dos “equívocos” da atual direção do partido, como quando, no verão de 2013, o Bloco foi à sede do Partido Socialista propor a António José Seguro uma aliança de governação. “Sempre que o Bloco se colocou ao lado do xadrez partidário foi submisso a outras agendas”, dizia o líder parlamentar bloquista, para quem os problemas do Bloco começaram quando, em 2011, o partido apoiou o socialista Manuel Alegre na corrida presidencial.

Se o Bloco ficar abaixo do resultado de 2011, as vozes críticas que se ouviram há um ano voltarão de certeza e com mais força.

Grafismo: Milton Cappelletti