O Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses (INMLCF) realizou nos últimos dois anos cerca de 2067 autópsias a casos de suicídio. Cerca de 40% correspondem a mortes de idosos, que registaram 767 óbitos, avança o Público.

O vice-presidente do INLMCF, João Pinheiro, antecipou alguns dados do trabalho “O Suicídio de Idosos em Portugal: estudo de 2 anos de autópsias”, revelando que a a maioria dos suicídios acontece aos homens (cerca de 600 casos de suicídio) e que há diferenças significativas entre as diferentes regiões do país. João Pinheiro explicou que os resultados obtidos mostraram que o número de suicídios não aumentou com a crise, mas frisou o peso que os idosos têm, já que representam cerca de 37% do total de suicídios analisados durante os dois anos.

Um número que João Pinheiro considera preocupante e que segundo ele ainda peca por defeito, já que existem casos de óbitos em que os procuradores prescindem da autópsia. Os distritos que registaram mais casos de suicídios acima de 65 anos, revela o autor do estudo, são Lisboa, Porto, Setúbal, Faro e Santarém. João Pinheiro conta que é muito importante estudar a influência que os antecedentes psiquiátricos podem ter nestes casos.

“Os antecedentes psiquiátricos, nos casos em que foi possível apurar, revelaram-se estatisticamente significativos como fator de risco para o suicídio precoce. As pessoas que tinham estes fatores de risco suicidaram-se mais cedo do que as outras dentro do grupo dos idosos, com uma média de 74 anos”, disse João Pinheiro.

João Pinheiro considera que é necessário investir em estratégias de prevenção como o acompanhamento psiquiátrico e encontrar mais respostas para o “isolamento, doenças, falta de apoio familiar, perda de autonomia e algumas dificuldades financeiras”.

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O Público relembra que a Operação Censos Sénior 2015 identificou mais de 5200 idosos a viver sozinhos e em situações precárias, na sua grande maioria com limitações físicas e psicológicas. Depois da análise de mais de 700 suicídios, o estudo revelou que quase 600 dos suicídios de idosos foram localizados no litoral, 160 no interior e 12 nas ilhas, sendo que João Pinheiro frisa a importância de os dados serem cruzados com o total das populações das regiões norte e sul e revela que se registaram diferenças entre as zonas urbanas e as zonas rurais.

“Os homens preferem os métodos mais violentos, como consta da literatura e os nossos dados replicam. Preferem em geral os enforcamentos e as armas de fogo, enquanto as mulheres preferem os chamados métodos mais soft. Só uma mulher recorreu a arma de fogo nestes 700 casos. Predominam os afogamentos, que na nossa população é tipicamente em poços e em zonas rurais e as intoxicações com pesticidas”, acrescentou.

O estudo foi realizado em parceria com José Vieira de Sousa, Maria Cristina Mendonça, António Padilha e Jorge Rosmaninho e será apresentado na conferência anual do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses (INMLCF), que começa esta quinta-feira, em Coimbra, e que vai reunir mais de 400 especialistas da medicina legal e ciências forenses.