O líder socialista subiu à tribuna na Assembleia da República pela primeira vez desde as eleições e fê-lo debaixo de apupos das bancadas do PSD e CDS. É que o líder do PS subiu ao palanque para anunciar a morte do Governo de Passos Coelho e Paulo Portas e para dar a certeza que o acordo que assinou à esquerda é para quatro anos – que PCP e BE vão negociar orçamentos do Estado, mas que não votarão a favor de moções de rejeição ou censura e para isso nem foi preciso mover mundos e fundos: “Não temos de revogar o irrevogável”.
O discurso era mais longo do que o que foi lido. Teve de parar por protestos das bancadas da direita. Costa tinha mais para dizer ou repetir e não disse. Mas deu a certeza que os partidos à esquerda, PCP, BE ou PEV, vão assegurar a estabilidade do Governo PS para a legislatura. A frase foi dita como resposta a perguntas. Costa desfiou as dúvidas que se fazem ouvir sobre este acordo e deu a garantia que a todas as perguntas, os quatro partidos responderam com um compromisso.
“As bancadas parlamentares do PS, BE, PCP e PEV garantem o suporte parlamentar maioritário que permite a formação de um governo PS, na coerência do seu programa de governo, com condições de governação estável no horizonte da legislatura”, disse.
E quais eram essas perguntas? “Pode este Governo beneficiar de condições de estabilidade contra moções de rejeição e censura?”, foi uma dela. A pergunta torna-se mais relevante quando no texto dos acordos não está explanado que os três partidos votam contra moções de censura. O que está escrito é que se comprometem a “examinar” em “reuniões bilaterais” o que fazer em determinados casos. Ou seja, negociação caso a caso.
Mas no dia em que a esquerda se vai unir para mandar abaixo um governo sem que este ainda tivesse em plenitude de funções, Costa falou também das tradições que não o são ou das novidades desta solução: “O que é novo é que, desta vez, as oposições foram capazes de assegurar uma alternativa maioritária na formação do governo. Acabou o tabu, derrubou-se um muro, venceu-se mais um preconceito. Aqui, nesta Assembleia, somos todos diferentes nas nossas ideias, mas todos iguais na nossa legitimidade”.
E para que isto acontecesse, lembrou o secretário-geral do PS, não foi preciso que os partidos à esquerda perdessem identidade. “A esquerda é e deseja continuar a ser plural e diversa”, disse. Contudo “esta solução é a capacidade que cada um teve de respeitando as diferenças identitárias, partilhar um conjunto de prioridades para o horizonte da legislatura”. “Não temos de revogar o irrevogável”, disse, causando um aplauso da bancada do PS e protestos das bancadas do PSD e do CDS.
Costa sorria. A maioria de esquerda irá derrubar o Governo de Passos Coelho assim que este terminar de falar, através da aprovação de moções de rejeição, mas tem na mão acordos que não sabe se serão suficientes para o Presidente da República.