As famílias que moram na região de Lisboa e Vale do Tejo e no Algarve são as que se sentem mais vulneráveis à escassez alimentar, de acordo com um inquérito sobre insegurança alimentar que a Direção Geral de Saúde (DGS) tem vindo a realizar desde 2011 e para o qual já existem algumas conclusões preliminares.

“Nas grandes cidades o risco de haver maior insegurança alimentar ou uma perceção aumentada dessa insegurança é maior porque há famílias mais sozinhas e isoladas, sem suporte familiar”, começou por explicar ao Observador, Pedro Graça, responsável pelo programa nacional para a promoção da alimentação saudável, da Direção Geral de Saúde (DGS), que estará, na próxima segunda-feira, na Gulbenkian, para falar deste inquérito e de um outro que está ainda a ser realizado sobre padrões de consumo e atividade física em Portugal.

Além disso, nas grandes cidades do litoral as famílias estão mais “desligadas da produção agrícola própria”, o que também aumenta o risco de dificuldade de acesso à comida ou a perceção do mesmo.

Outra das conclusões que já foi possível retirar, da análise dos anos 2011, 2012 e 2013, é que, tal como noutros sítios da Europa, “as famílias mais pobres, mais carenciadas, mais inseguras, são também as famílias com mais excesso de peso. O nosso trabalho vem de alguma forma confirmar essa tendência. Ou seja, os níveis de pobreza estão muito associados ao nível de obesidade”, avançou Pedro Graça, acrescentando que os produtos mais baratos são mais calóricos e têm mais açúcar e gorduras.

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Por fim, o responsável da DGS destaca que “naqueles anos de crise, que já foram analisados, não cresceu muito o número de pessoas nos grupos mais graves de grande risco”. Isto pode ser explicado pelo facto dos grupos de população mais carenciados “já terem mais treino para a sobrevivência e uma rede de ajuda montada, como bancos alimentares e outras instituições sociais”. “Por outro lado, as famílias de classe média que têm dificuldade em se adaptar, essas sim, mostraram mais dificuldade.”

A crise afetou mais as pessoas da classe média e afetou menos os que já estavam nas fases de maior insegurança”, avançou Pedro Graça, da DGS.

Este sistema de monitorização da insegurança alimentar – o Infofamília – tem sido aplicado todos os anos desde 2011, numa amostra da população portuguesa (sempre com mais de 1.000 indivíduos) com abrangência nacional. A escala utilizada tem quatro níveis: que vai do nível zero, da segurança alimentar, em que os membros do agregado familiar “têm acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais” ao da insegurança alimentar grave que se aplica quando “os membros do agregado familiar reportam redução quantitativa de alimentos entre as crianças ou rutura nos padrões de  alimentação resultante da falta de alimentos entre as crianças; fome (quando alguém fica um dia inteiro sem comer por falta de dinheiro para comprar alimentos)”.

Este inquérito, que se baseia na perceção dos inquiridos e na auto-avaliação que os mesmos fazem do seu acesso à alimentação, foi aplicado aos utentes atendidos no local de trabalho dos “enfermeiros sentinela” (centros de saúde, domicílio ou outros).