Ninguém gosta de primeiros encontros: são desconfortáveis, constrangedores e damos por nós a comportarmo-nos de forma pouco natural. Muitas vezes com uma questão em mente: devo, ou não, ter sexo hoje à noite? Como lembra a editora Rebecca Adams numa notícia publicada no Huffington Post, as mulheres são inundadas com conselhos sobre o impacto que dormir imediatamente com um homem no primeiro encontro pode ter. Além disso, colocar um prazo no número de “jantares românticos” que se deve ter antes de saltar para o sexo pode ser sufocante. E se ele me achar fácil demais? E se ele perder o interesse porque teve logo o que quis? Ou perder o interesse porque eu não quis? E se me achar “careta”?

Estas dúvidas estão em todo o lado. Mas a verdade é que, nos dias de hoje, já não se têm praticamente primeiros encontros. Antes de um “olá” presencial, já percorremos o Facebook da outra pessoa de uma ponta à outra, falámos meia dúzia de dias no chat, trocámos uns quantos WhatsApp’s e decidimos se essa pessoa nos interessa. Seria de esperar que, com as facilidades que as redes sociais vieram potenciar, fossemos sexualmente mais abertos. Mas será mesmo assim?

Somos mais promíscuos agora do que há 10 anos?

Apesar de ainda existir um grande estigma relativamente ao facto de se conhecer alguém através da internet, a verdade é que é cada vez mais difícil encontrar quem nunca tenha instalado uma app amiga dos solteiros — Tinder ou Happn, por exemplo — ou quem tenha aberto uma conta num site de encontros para “ver como é”. E a verdade é que este tipo de plataformas tiveram um peso enorme ao lançar as pessoas na tendência de conhecer alguém virtualmente.

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Tinder dating app photo

Foto: Getty Images

Para perceber o que mudou nos últimos 10 anos e se as redes sociais nos tornaram, ou não, mais promíscuos, o site de encontros OkCupid inquiriu cerca de um milhão de utilizadores e as conclusões são surpreendentes, pergunta a pergunta:

Teria sexo com alguém no primeiro encontro? Em 2005, 69 por cento das pessoas inquiridas respondeu que sim. E, ao contrário do que seria de esperar, em 2015 esse número caiu para 50 por cento, sendo que até o género sofreu alterações. Em 2005, 48 por cento das mulheres disse que dormiria com um homem no primeiro encontro, número esse que caiu para 25 por cento em 2015. Nos homens, 81 cento respondeu que sim em 2005, contra 64 por cento em 2015.

Sairia com alguém só para sexo? Hoje em dia, não só estamos menos propensos a dormir com alguém no primeiro encontro, como também achamos o sexo por sexo menos atraente. Dos 60 por cento dos homens que, há 10 anos, sairia com uma mulher só para a levar para a cama, apenas 51 por cento o fazem nos dias de hoje. No caso das mulheres, passamos de 33 por cento — um número desde logo mais baixo e que mostra como as mulheres sempre procuraram mais nas suas relações — para 24 por cento.

O que é mais importante para si agora: sexo ou amor? Numa cultura onde o sexo casual é comum e visto cada vez mais como banal, seria de esperar que o quiséssemos fazer mais e mais. Mas afinal, não. Tanto há 10 anos, como agora, 75 por cento das pessoas ouvidas no inquérito estão mais interessada no amor.

Um número elevado de parceiros sexuais preocupa-o? Se tem uma lista de parceiros digna de bolinha vermelha, temos boas e más notícias — os dados não são assim tão drásticos, mas o passado importa, sobretudo para o sexo feminino. Hoje em dia, 63 por cento das mulheres ainda se preocupa com o número de parceiras que um homem já teve, o que, no caso dos homens, cai para 49 cento.

Há problema se uma mulher falar abertamente sobre as suas experiências sexuais? 87 por cento de homens e 78 por cento de mulheres dizem que não, contra 71% em 2005. Ou seja, nos dias de hoje, 22 por cento das mulheres ainda faz auto-censura e acredita que falar de sexo não fica bem e é um tabú.

Amigos com benefícios: sim ou não? Em português diz-se “amigos coloridos”, e significa que se tem uma amizade não só para as alturas más mas também para o sexo. Segundo o estudo do site de encontros, atualmente 72 por cento dos homens considera ter uma amiga colorida — só para o sexo — contra apenas 35% das mulheres. O que podemos concluir? Que os homens não devem tomar como consensuais os comportamentos femininos de reality shows como Jersey Shore ou Geordie Shore, onde o sexo e o álcool imperam como um comportamento socialmente aceite entre as protagonistas. As mulheres realmente não querem amigos só para sexo.

Quem deve tomar as rédeas na cama? A mulher ou o homem? Tema pertinente numa altura em que o sexo está por todo o lado. Em 2005, 49 por cento dos homens achava que eram eles que tinham de ter o controlo versus 74 nos dias de hoje. Mais fascinantes ainda são os dados femininos: passámos de 14 para 11 por cento nos dias de hoje. O que se passa com as mulheres? Séries como Sexo e a Cidade, que apelavam à liberação feminina na cama, tornaram-nos, afinal, mais conservadoras?

Quanto tempo espera até ter sexo com alguém de que gosta? Parece uma incongruência, mas quanto mais fácil o sexo se está a tornar, mais importância lhe estamos a dar. Isto significa que nos estamos a tornar cada vez mais seletivos com as pessoas que deixamos entrar na nossa cama. A regra dos três encontros até ao sexo impera nesta métrica com 47 por cento das pessoas, nos dias de hoje, a esperar entre três a cinco encontros para levar quem gosta para a cama. E quanto à máxima conservadora “só depois do casamento?” Apenas 5 por cento a defende.

Cada vez mais conscientes dos comportamentos sexuais

O que é que se torna surpreendente nestes dados? Quanto mais casual, disponível e facilitado o sexo é, mais as nossas atitudes se tornam menos abertas a isso. E embora tudo à nossa volta grite sexo e este esteja cada vez mais evidente na cultura popular — nas séries de televisão, nos filmes, nos anúncios, nos livros, nas revistas, na internet, nas apps dos telemóveis — atualmente as pessoas estão a dar cada vez mais importância às relações profundas e sérias. Afinal, ainda há esperança no amor.

Fica a pergunta no ar: se ainda não o fazem, poderão todas estas novas apps afetar diretamente os nossos comportamentos? O site OkCupid conclui: “Não podemos dizer com certeza. Mas podemos afirmar que estamos cada vez mais conscientes dos nossos comportamentos sexuais e pesamos mais as nossas atitudes. E este não é um mau lugar para se estar.”