O ministro da Defesa vai explicar esta terça-feira a demissão do ex- Chefe do Estado-Maior do Exército (CEME) à porta fechada. A audição de Azeredo Lopes está marcada para as 15h00 e será dividida em duas partes. Na primeira, o ministro vai pronunciar-se sobre a demissão do General Carlos Jerónimo e a entrada está vedada à comunicação social. A segunda parte será à porta aberta e, aqui, Azeredo Lopes vai pronunciar-se sobre outras questões. O assunto “Colégio Militar” poderá ou não voltar a estar em cima da mesa, dependendo da intenção dos deputados e da vontade do ministro em voltar a responder.

O requerimento para explicações de Azeredo Lopes foi apresentado pelo PSD, na sequência do “mal-estar”, das “ondas de choque” e do incómodo que a demissão do CEME desencadeou em alguns militares. A Associação de Oficiais das Forças Armadas considerou “lamentável” a atitude do ministro e o coronel Carlos Matos Gomes chegou a estender as críticas ao Presidente da República, que disse ter “violado a Constituição” quando aceitou o pedido de demissão.

O caso já leva quase um mês. A 1 de abril, o Tenente Coronel António Grilo admitia numa reportagem do Observador que os alunos homossexuais eram excluídos da escola. Dias depois, o ministro da Defesa considerou “absolutamente inaceitável qualquer situação de discriminação” e exigiu explicações ao Comando do Exército, a entidade que detém a tutela do estabelecimento militar de ensino. Azeredo Lopes questionava ainda o Comando do Exército sobre “as medidas que pretendia adotar” para garantir que ninguém é discriminado pela orientação sexual.

O ministro terá exigido a demissão do subdiretor do Colégio Militar mas o General Carlos Jerónimo terá considerado essa atitude como “uma ingerência” na gestão daquele estabelecimento militar e não terá dado seguimento ao pedido. Terá sido esse um dos pontos que espoletou o pedido de demissão de Carlos Jerónimo, dois dias depois.

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Falta agora confirmar quais os motivos exatos que estiveram na base da demissão do ex- CEME mas falta também saber se o ministro exigiu de facto a demissão da direção do Colégio Militar. Não se sabe também se foi feito um inquérito na instituição para apurar situações de discriminação relacionadas com a orientação sexual. Recorde-se que, questionado pelo Observador, o subdiretor da instituição apontou um caso concreto de um aluno que, não tendo sido expulso, acabou por desistir da escola porque foi excluído pelos colegas.

Na semana passada o porta-voz do Exército negou qualquer discriminação na instituição, garantiu que o Colégio Militar “não promove nem compactua” com práticas discriminatórias e que a instituição tem instalada “uma cultura de inclusão”. Também na semana passada, Azeredo Lopes considerou que a polémica Colégio Militar estava encerrada. Disse o ministro da Defesa que “felizmente em Portugal existe liberdade de opinião” e que as opiniões “responsabilizam quem as profere”, referindo-se às declarações dos responsáveis do Colégio Militar. “Não gostaria que o caso Colégio Militar se tornasse protagonista de um episódio evidentemente desagradável, mas que já foi ultrapassado”, acrescentou Azeredo Lopes.

A direção do Colégio Militar chegou a apresentar o pedido de demissão, confirmou o Observador, mas continua em funções. Falta esclarecer se a direção pediu a demissão e esta não foi aceite pelo agora ex- Chefe do Estado-Maior do Exército ou se, quando esta foi apresentada, já não havia um CEME em funções. O general Carlos Jerónimo, não estando em funções, não é obrigado a comparecer a audições parlamentares. Se receber um convite da comissão, cabe-lhe a ele aceitar ou recusar.