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A verdadeira história do papiro sobre a mulher de Jesus

Este artigo tem mais de 5 anos

Foi apresentado em 2012 por uma reputada investigadora, mas a origem do papiro sobre a mulher de Jesus era duvidosa. Uma reportagem da revista The Atlantic descobriu as origens do documento polémico.

O papiro que inclui a expressão "a minha mulher"  foi apresentado em 2012 por Karen King, em Roma
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O papiro que inclui a expressão "a minha mulher" foi apresentado em 2012 por Karen King, em Roma

Karen L. King / Harvard University

O papiro que inclui a expressão "a minha mulher" foi apresentado em 2012 por Karen King, em Roma

Karen L. King / Harvard University

Em 2012, a investigadora Karen King revolucionava o mundo dos estudos bíblicos com o anúncio da descoberta de um fragmento de papiro em que um texto antigo teria uma referência à mulher de Jesus. A polémica estalou desde o primeiro minuto. “O Evangelho da Mulher de Jesus”, nome dado ao papiro, não tinha, no entanto, uma história bem contada.

Agora, a revista The Atlantic publicou uma longa investigação em que o repórter Ariel Sabar, o único jornalista a estar presente na apresentação do papiro em 2012, analisa a história ao detalhe e conclui que o mais provável é que se trate de uma falsificação. Pelo meio, passou pela Alemanha Oriental, pela Florida e pelo mundo da pornografia. No fim, o jornalista ainda recebeu um convite para escrever uma espécie de Código da Vinci sobre a mulher de Cristo.

[Ariel Sabar fala sobre a sua investigação]

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De onde veio o papiro?

O principal objetivo da investigação era identificar a origem do papiro. De acordo com algumas fotocópias de documentos que o dono do papiro entregou a Karen King, o objeto foi adquirido inicialmente em 1963 por um alemão chamado Hans-Ulrich Laukamp, em Potsdam, na Alemanha Oriental. Em 1999, Laukamp vendeu o papiro ao atual dono. Mas estas informações, escritas em documentos pouco fiáveis, deixaram Sabar desconfiado.

Karen King recebeu também uma cópia… de uma cópia de uma carta de Peter Munro a Laukamp. Munro era egiptologista na Universidade Livre de Berlim, e escreveu a Laukamp dizendo que tinha analisado o documento, e que este poderia incluir textos do Evangelho segundo São João.

É noutro documento, que o jornalista descreve como uma cópia “não assinada, sem data, e escrita à mão”, que aparece a única referência à mulher de Jesus. Nesse texto, um colega (não identificado) de Munro acreditava que “o pequeno fragmento é o único exemplo de um texto em que Jesus usa o discurso direto numa referência a ter uma mulher”, e que este “pode ser a prova de um possível casamento”.

“Talvez convenientemente”, escreve Sabar, todos os envolvidos na história já morreram. Peter Munro em 2009, o suposto colega em 2006, e Laukamp em 2002. A única pessoa viva nesta história era o desconhecido dono do papiro, que ainda estava vivo e tinha conhecido Laukamp pessoalmente.

Sabar descobriu a história da ida de Laukamp para os Estados Unidos, e chegou a um nome: Walter Fritz, colega na implementação de uma empresa de automóveis alemã nos Estados Unidos, com Laukamp. Rapidamente encontrou ligações entre Fritz e a egiptologia, e, mais especificamente, com o instituto de egiptologia da Universidade Livre de Berlim. Podia ser Fritz o autor da nota não assinada que Munro enviou a King?

Chegar a Fritz não foi fácil, mas todas as evidências apontavam para ele. Entrevistas com familiares de Laukamp indicaram que a aquisição do papiro em 1967 era altamente duvidosa. Por outro lado, a formação de Fritz em egiptologia e em língua copta faziam crer que ele podia ser o autor da falsificação.

Fetiches, profecias e um convite

Curioso sobre a presença digital de Fritz, após ter descoberto que a criação do website www.gospelofjesuswife.com era da sua responsabilidade, Sabar procurou os domínios que o alemão tinha criado. E ficou espantado quando descobriu que Fritz era o criador de vários sites pornográficos, que incluíam vídeos da sua mulher a fazer sexo com vários homens.

Quando o jornalista confrontou novamente Fritz por telefone, recebeu por e-mail a confirmação do alemão. “Eu, Walter Fritz, certifico que sou o único proprietário do fragmento de papiro”.

De acordo com a reportagem, Fritz terá conhecido Laukamp no início da década de 90, e já na Florida, comprou-lhe a coleção de fragmentos de papiro por 1.500 dólares. Fritz conservou os documentos até 2009, altura em que disse a um comerciante de arte que tinha papiros para vender. O comerciante ofereceu-lhe 50 mil dólares pelo papiro da mulher de Jesus, e Fritz contactou King para obter uma opinião de especialista sobre o motivo pelo qual o documento valeria tanto dinheiro. Ao saber deste contacto de Fritz, o comerciante cancelou o negócio e, em 2011, Fritz entregou o papiro a Karen King.

A revelação mais curiosa foi em relação à pornografia. Fritz garantiu que a sua mulher ouvia vozes de anjos desde os 17 anos, e tinha momentos proféticos em que falava aramaico, a língua de Jesus. O homem revelou que a esposa começou a falar esta língua durante o sexo. Ainda assim, Fritz garantiu que não havia ligação entre os fetiches sexuais que tinha, de partilhar a mulher, e os papiros.

Num almoço com Fritz, que o jornalista Ariel Sabar conseguiu após muita insistência, o alemão sugere-lhe ainda que o ajude a escrever um livro sobre o assunto. “Teria de inventar muita coisa”, disse Fritz ao jornalista. E concluiu: “a verdade não é absoluta”.

Em reação a esta reportagem, Karen King já veio dizer à Associated Press que está inclinada para que o documento seja uma falsificação. Segundo outro artigo da The Atlantic, apesar de a investigadora ter recusado dar mais informações a Ariel Sabar durante a reportagem, o jornalista conta que King lhe telefonou a dizer que a reportagem é “fascinante” e “muito útil”. King confessou que Fritz lhe mentiu, e garantiu: “o seu artigo ajudou-me a entender que a proveniência do papiro pode ser investigada”.

Agora, serão precisas provas ou uma confissão para se confirmar que foi falsificação, mas a própria investigadora admite que depois das revelações da The Atlantic, é muito provável que o documento não seja verdadeiro. “Não estou chateada. Estou, acima de tudo, aliviada. Penso que a verdade me deixa calma”, concluiu a Karen King.

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