Morreu Nuno Rocha, o jornalista, diretor e fundador do semanário Tempo. O semanário foi fundado em 29 de maio de 1975, nas vésperas do “Verão Quente”. Chegou a vender mais de 100 mil exemplares. Encerrou em 1990. Foi o jornal onde Paulo Portas se estreou como cronista.

Antes da fundação do Tempo, Nuno Rocha foi jornalista no Diário de Lisboa e no Diário Popular. Considerado controverso e conservador (o Tempo era assumidamente de direita e surgiu para contrariar a tendência de esquerda dominante dos jornais da época), Nuno Rocha implementou um estilo no Tempo que, mais tarde, Paulo Portas e Miguel Esteves Cardoso levariam para O Independente.

O poder na altura incomodava-se com o teor das notícias e a linguagem usadas no Tempo. A maior parte dos jornais que tinha pertencido aos bancos foi nacionalizada ao mesmo tempo que a banca e alinhava com o poder político e militar que governava o país. Do Século, ao Diário de Notícias, passando pelo Jornal de Notícias, Diário Popular e A Capital, todos seguiam a mesma linha.

No célebre discurso de Almada, em pleno verão quente de 75, Vasco Gonçalves chegou a dizer: “A linguagem insultuosa, o recurso irresponsável ao boato e mesmo à mentira mostram à evidência que a libertinagem impera em certa imprensa. Não tenho medo nenhum de acusar esses pasquins Jornal Novo, Expresso e Tempo”.

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O Expresso, semanário de Francisco Pinto Balsemão, tinha uma tendência centro-esquerda, mas desalinhada do poder que haveria de se afirmar. O Jornal Novo, vespertino, propriedade da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP) e dirigido por Artur Portela Filho, criou uma nova linha de escrita, com arrojo nos títulos e uma equipa jovem que incluia jornalistas que depois se tornaram consagrados como Mário Mesquita, Diogo Pires Aurélio, António Mega Ferreira, Helena Mensurado, Carlos Pinto Coelho ou Mário Bettencourt Resendes. O Tempo, também semanário, saia às quintas-feiras e seguia um modelo gráfico inspirado no Le Monde, com uma ideologia de centro-direita, próxima do PSD, onde Vera Lagoa e Manuel de Portugal se destacavam como colunistas de sucesso.

Vasco Gonçalves não falou nele, mas importa referir outro jornal marcante da altura, o Jornal, que saía às sextas-feiras. Tinha Joaquim Letria como diretor, publicação por onde passaram nomes como José Carlos de Vasconcelos, Afonso Praça, Cáceres Monteiro, Fernando Assis Pacheco, Mário Zambujal, Emídio Rangel, Fernando Dacosta ou Clara Pinto Correia.

Nuno Rocha tinha 83 anos. Nasceu no Porto, a 13 de fevereiro de 1933. Liderou o Tempo até 1988 e foi diretor da escola de jornalismo da Universidade Independente após ter cessado funções no semanário que fundou. O velório do jornalista realiza-se amanhã, dia 6 de julho, na Igreja de Santo António no Estoril. O funeral será realizado no dia seguinte, antecedido de missa de corpo presente às 10h30 na mesma igreja.