Morreu esta segunda-feira o físico e vencedor de um prémio Nobel Petter Higgs, responsável pela descoberta da partícula conhecida como bosão de Higgs, avança o The Guardian.

O cientista britânico morreu aos 94 anos, onze anos depois de ter recebido o Prémio Nobel da Física. Era especialmente reconhecido pelo trabalho que teve na descoberta do chamado bosão de Higgs, partícula responsável por ajudar a “colar” as diferentes partes do universo e, por isso, conhecida como “partícula de Deus”.

Esse trabalho, que Higgs desenvolveu nos anos 1960, é considerado uma das maiores conquistas da física moderna, uma vez que veio completar o modelo que é composto pelas várias partículas elementares que, como explica a BBC, “compõem tudo o que conhecemos”. Uma espécie de blocos que se juntam para formar o univers0, e que a partícula de Higgs veio colar.

Em julho de 2012,um grupo de investigadores conseguiu dar como provada a teoria que Higgs tinha lançado décadas antes, e que o próprio disse ter sido “a única boa ideia” que teve na vida — mas essa “única” boa ideia foi suficiente para, como prossegue a BBC, “revolucionar a compreensão do nosso universo”.

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A tal boa ideia acabou por lhe trazer um prémio e uma notoriedade com os quais pareceu não ficar satisfeito, conta à BBC o professor de Física Teórica de Oxford Frank Close, autor do livro “Como Peter Higgs resolveu o mistério da massa”, que entrevistou o físico para escrever a obra. Consciente de que em 2013, após a sua teoria ter sido comprovada, seria o favorito ao Nobel, no dia em que o anúncio estava marcado — 8 de outubro — saiu de casa, dirigindo-se a um bar para beber uma cerveja.

Segundo o The Guardian, o “imensamente tímido” cientista foi abordado por um antigo vizinho quando se dirigia a casa, e foi esse o portador da notícia: acabava mesmo de ganhar o Nobel, partilhado com o físico teórico belga François Englert, que também contribuiu para a descoberta.

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A Close, Higgs disse que o prémio “arruinou” a sua vida, acabando com a sua “existência relativamente pacífica”: “Não gosto desse tipo de publicidade. O meu estilo é trabalhar isolado e ocasionalmente ter uma ideia brilhante”. Em 2013, um perfil do Guardian descrevia o cientista como “o físico auto-depreciativo que é venerado pelos seus pares” e explicava que, durante os seus estudos universitários, Higgs percebeu que não seria muito dado às experiências, mas daria um “teórico formidável” — e foi assim que surgiu a ideia que marcou a sua carreira, durante a qual se manteve, segundo os colegas, reservado, determinado e persistente no seu trabalho.  Após uma carreira de mais de quatro décadas passada sobretudo em Edinburgo, Higgs tornar-se-ia professor emérito daquela universidade.

A partícula “estranha” em que estamos todos imersos

A “ideia brilhante” de Higgs explica que, no total, 17 partículas que são consideradas fundamentais, e que compõem todo o universo, e que estão divididas em férmions e bosões. É nesta última categoria que entra a descoberta de Higgs, uma partícula que “transporta as forças que fazem os férmions interagirem”.

À BBC, Frank Close argumenta que o descobrimento deste bosão “mostrou-nos que existe uma coisa estranha em que estamos todos imersos, que é o campo de Higgs. Assim como os peixes precisam de estar imersos na água, nós precisamos do campo de Higgs”.

Quando ganhou o Nobel, a Academia Sueca explicou a importânia da descoberta dizendo que o modelo físico atual “depende da existência de um tipo especial de partícula” — a de Higgs” –, que se origina “num campo invisível que preenche tudo”. “Mesmo quando o universo parece vazio, este campo está lá. Sem ele não existiríamos, porque é através do contacto com esse campo que as partículas adquirem massa”.

Numa das entrevistas que concedeu a Close, Higgs disse ter começado por pensar que a sua descoberta não passaria de um “simples truque matemático” e inútil, tendo parado de trabalhar nisso: “Não fez praticamente nada nesse sentido” depois de lançar a sua teoria, explica o seu biógrafo.

Higgs morreu em Edinburgo, na Escócia. Tinha dois filhos e dois netos e tinha-se separado da mulher, Jody, há décadas, culpando por isso a sua “obsessão com o trabalho”. O ex-casal continuou amigo até à morte de Jody, em 2008.