A polícia do Rio de Janeiro matou 8.000 pessoas na última década, de acordo com um relatório divulgado pela organização não-governamental Human Rights Watch (HRW) que alerta para as execuções extrajudiciais na região.

De acordo com o relatório “Bons polícias estão com medo: o preço da violência policial não verificada no Rio de Janeiro”, muitos assassinatos foram provavelmente o resultado do uso legítimo da força, mas muitos outros foram execuções extrajudiciais, ou seja, em que os responsáveis não foram alvo de qualquer processo legal.

Apesar de o número de assassínios na polícia ter diminuído de 2007, quando atingiu 1.300, para 400 em 2013, o número tem aumentado desde então para 645 no ano passado.

De janeiro a maio deste ano, houve 322 mortes perpetradas por polícias, apesar do Estado do Rio de Janeiro ter prometido melhorias na segurança pública em preparação para os Jogos Olímpicos 2016, que decorrem na cidade a partir de 05 de agosto.

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Em comunicado, a diretora da HRW no Brasil, Maria Laura Canineu, referiu que, embora o “crime violento seja um problema muito real (…) estas mortes ilegais colocam as comunidades contra a polícia e comprometem a segurança geral”.

Para o relatório de 109 páginas, a organização entrevistou mais de 30 agentes do Rio de Janeiro, entre os quais um polícia que descreveu uma operação destinada a matar supostos elementos de gangues, em vez de detê-los.

A HRW alertou, em comunicado, que “agentes envolvidos em mortes ilegais procuram rotineiramente encobrir o seu comportamento criminoso”, e outros agentes de segurança pública confessam “não reportar os crimes dos seus colegas por medo de que eles também sejam mortos”.

“A polícia ameaça testemunhas, coloca armas ou drogas nas suas vítimas, remove cadáveres das cenas de crime e entrega-os aos hospitais, alegando que estavam a tentar salvá-los”, segundo a HRW.

A organização internacional informou ter encontrado provas credíveis em 64 casos em que a polícia procurou encobrir mortes ilegais, mas advertiu que o problema será muito maior, de acordo com oficiais de justiça do Rio de Janeiro.

Em operações descritas como “tiroteios”, mas que efetivamente foram execuções extrajudiciais, entre 2013 e 2015, a polícia do Rio matou cinco vezes mais pessoas do que aquelas que feriu, “o contrário do que seria de esperar”, lê-se no comunicado.

“Em 2015, eles mataram 24,8 pessoas para cada agente que morreu em serviço, mais do dobro da taxa equivalente na África do Sul e do triplo nos Estados Unidos”, alertou a HRW.

A organização advertiu que esta realidade é negativa para a própria força policial, porque prejudica as relações das forças de segurança com as comunidades locais e contribui para altos níveis de stress.

Segundo Maria Laura Canineu, os polícias honestos “vivem em constante medo”.

A HRW avaliou ainda que as investigações de execuções extrajudiciais têm sito “totalmente inadequadas”.

Apesar de as autoridades locais terem tomado recentemente medidas para lidar com o problema, como a criação de uma unidade especial para analisar abusos policiais, “são necessárias medidas adicionais para reforçar a nova unidade e garantir a devida investigação e acusação destes casos”, recomendou a organização internacional.