“O incêndio foi dominado às 22h00”, confirmou ao Observador o Comandante Operacional Distrital Luís Belo Costa, que, juntamente com 256 operacionais, vai passar a noite no Soajo. Ao final da tarde de quinta-feira, a aldeia de Vilarinho das Quartas teve de ser evacuada, devido ao perigo das chamas que fustigam o concelho de Arcos de Valdevez desde a madrugada de segunda-feira. Os cerca de 50 habitantes já regressaram às suas casas, mas acreditam que haverá um reacendimento. Como tem acontecido sempre nos últimos quatro dias.

No centro da vila de Arcos de Valdevez, a noite está animada, ou não fosse a semana das muito aguardadas Festas de Nossa Senhora da Lapa. Nem o cheiro a incêndio afasta locais e emigrantes dos divertimentos, dos concertos e das farturas. O nome do concelho esteve nas notícias devido aos incêndios no Soajo, a 20 quilómetros do centro. Mas o concelho é grande. Já não é a primeira vez que o fogo é ameaça e nem os habitantes da aldeia evacuada sucumbem à tristeza.

“Está complicado, mas agora está tudo ardido, já não há mais para arder. Confiante? Tenho de estar”, disse ao Observador António Gonçalves Dias, emigrante em Andorra mas que, durante um mês, passa férias na sua casa em Vilarinho das Quartas. Quando as autoridades foram à aldeia buscar os habitantes com carrinhas de bombeiros e ambulânias, pelas 17h30, António estava em Ponte de Lima. Ao saber que as chamas ameaçavam a povoação, contornou a estrada que estava cortada pela Proteção Civil, através do Lindoso, e foi proteger o que é seu, regando a propriedade.

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António Gonçalves Dias não vai antecipar o regresso a Andorra. “Preocupado, sim. Mas há que aproveitar as férias na mesma!” © Ricardo Castelo / Observador

Até essa hora, o combate às chamas “estava a correr bem”, recordou o comandante operacional Luís Belo Costa. “Só que, ao final da tarde, o vento deitou abaixo a nossa estratégia” e foi preciso garantir que não havia vidas humanas em perigo. Nem que fosse por causa do ar irrespirável que se fazia sentir na aldeia. Felizmente, os bombeiros foram rápidos a “recuperar a manobra”. “Todas as manobras foram feitas com vista a garantir a segurança” dos habitantes, explicou, sobre a decisão de mandar evacuar a aldeia.

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Para se certificarem de que as chamas não voltam a assustar a população, 256 operacionais, alguns vindos de locais como o Bombarral e Alcobaça, vão ficar no Soajo durante a noite. “Estamos a delinear a estratégia para a noite e para o dia de amanhã”, explicou Luís Belo Costa. O reacendimento é uma possibilidade forte, como tem acontecido nos últimos quatro dias. O facto de o terreno ser acidentado é uma das dificuldades que os bombeiros têm de enfrentar.

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Depois de horas de sufoco, os bombeiros jantam no Soejo, onde vão passar a noite. © Ricardo Castelo / Observador

Apesar do dispositivo numeroso de profissionais, há quem não se sinta descansado. Às 23h00, Fernando Gomes anda na rua com um motocultivador a regar os seus terrenos e a verificar pequenos reacendimentos. “Desde segunda-feira que ando nesta vida”, disse, com ar visivelmente cansado. Mora na aldeia há 38 anos e lembra-se de pelo menos mais dois incêndios recentes de dimensões semelhantes — 2006 e 2010. As autoridades convenceram-no a deixar a aldeia de tarde, mas regressou a horas proibidas. “Disseram-me que o fogo estava a chegar a um palheiro e vim apagar. Não havia bombeiros”, lamentou.

Não foi só em Arcos de Valdevez que as chamas assustaram povoações. Também pelas 17h00, o mesmo incêndio atravessou o rio Lima e chegou ao concelho vizinho de Ponte da Barca. O presidente da Câmara local, Vassalo Abreu, admitiu à Agência Lusa que esteve “iminente” a evacuação da aldeia Paradamonte, situada junto à antiga central hidroelétrica da EDP, na Serra Amarela, também área do Parque Nacional da Peneda Gerês. Mas tal não foi necessário.

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Fernando Gomes desafiou a evacuação para salvar um palheiro. “Não tive medo porque já não é a primeira vez.” © Ricardo Castelo / Observador

Entre os moradores, o sentimento comum é de resignação: acreditam que, até ao fim de semana, haverá novo reacendimento. “Desde segunda-feira que é assim: reacende e apaga, reacende e apaga”, desabafou Fernando Gomes. A mulher, Gracinda, acha o mesmo. “Isto vai arder tudo. Das outras vezes foi assim”.