Depois da dança, o crowdsurfing. Quem passou esta sexta-feira pelo anfiteatro de Paredes de Coura garante que nunca viu tanta gente a voar sobre o recinto. Num dia particularmente dedicado ao rock — e com os Cage The Elephant como cabeças de cartaz –, não faltaram motivos para o público se dedicar ao mosh e ao headbanging violento.
Os concertos começaram às 18h, mas o melhor ficou para o fim. Às 21h20 em ponto, subiram ao palco os norte-americanos King Gizzard & The Lizard Wizard, com o seu rock psicadélico a fazer lembrar os anos 60. Sem que (talvez) previsível, deram o concerto da noite. Mas a audiência parecia saber ao que vinha, e fez questão de correr em direção ao palco mal se ouviram os primeiros acordes.
Seguiram-se The Vaccines, também no palco principal, com o tema principal da Guerra dos Tronos a servir de abertura. Um momento memorável para os fãs da série que se encontravam no recinto, que fizeram questão de entoar a música de Ramin Djawadi. A fechar a noite estiveram os Cage The Elephant. Mais explosivo do que isto era difícil.
King Gizzard & The Lizard Wizard
Das duas vezes que estiveram em Portugal, os King Gizzard & The Lizard Wizard foram apenas um nome secundário num cartaz cheio de bandas de renome. Passando facilmente despercebidos dentro do grande circuito, tocaram sempre em palcos secundários — primeiro no Vodafone Mexefest, em 2014, e depois no Super Bock Super Rock, em 2015. Este ano, porém, o Vodafone Paredes de Coura decidiu dar-lhes o palco principal. A reação do público deu bem para explicar porquê.
Ainda a banda de Melbourne estavam a afinar as guitarras e já se ouviam gritos na plateia. Os que ainda não estavam confortavelmente instalados lá à frente, corriam colina abaixo como se, em cima do palco, estivesse uma banda do tamanho dos The Beatles. À entrada do recinto, os fãs faziam fila para entrar, impacientes.
Definir o som dos King Gizzard & The Lizard Wizard pode ser uma tarefa complicada. Donos de um talento inegável, tocam um rock explosivo, intricado, corpulento. A atmosfera é digna do melhor dos anos 60, mas com qualquer coisa de moderno, diferente. Talvez seja da flauta transversal, da harmónica e das duas baterias — tudo a que têm direito. Imparáveis em palco, contagiam facilmente o público, que se deixa levar de bom grado. Em Paredes de Coura foi assim, inesquecível.
O público, ao rubro, saltou, dançou e voou. À porta, continuava a fila para entrar. À frente do palco, havia mosh. As músicas longas (e nada chatas) seguiram-se umas às outras, preenchendo um concerto onde as palavras foram poucas. Para além de uns “obrigado”, não houve conversa. Só houve rock. Mas era preciso? A verdade é que os King Gizzard & The Lizard Wizard são daqueles casos em que a música fala — mesmo — por si. [RC]
Cage The Elephant
O concerto dos Cage The Elephant não podia ter começado melhor: “Este é o nosso festival favorito no mundo inteiro”, anunciaram os norte-americanos assim que pisaram o palco. Não é que precisassem de elogios para o conquistar o público, rendido já à partida. Na memória ainda estava fresco o extraordinário concerto de 2014, ali mesmo, no Taboão. A única coisa que precisavam de fazer era reforçar a imagem, já por si positiva. E escolheram a melhor maneira de o fazer.
O concerto foi um desfile de grandes hits, atirados uns atrás dos outros sem dó nem piedade. À primeira música, “Cry Baby”, do mais recente Tell Me I’m Pretty, seguiram-se temas como “Too Late For Say Goodbye” ou “Cold Cold Cold”. Sempre enérgico, Matthew Shultz foi acompanhado por um público entusiasmado que fez questão de seguir todas as músicas com a voz. De todas as canções, “Cigarette Daydreams” foi a que se fez ouvir mais alto.
A banda despediu-se com “Teeth”, do Melophobia, de 2013. O público queria mais, mas os horários apertados não davam tempo. Para além disso, a banda tinha de apanhar “o avião para a Polónia”. Ou pelo menos foi isso que garantiram.
Os Cage The Elephant eram, sem sombra de dúvidas, o nome forte da noite e estiveram à altura desse título. O que ninguém esperava era que o poder da atuação dos King Gizzard & The Lizard Wizard fosse superior. Mas os fãs do grupo nascido no Kentucky não pareceram importar-se — receberam na mesma a banda de braços abertos, com muitos saltos e muito crowdsurfing à mistura. Mas, feitas as contas, o lagarto acabou por engoliu o elefante. [RC]
The Vaccines
Já dispensam pergaminhos em qualquer cartaz, inclusive aqui em Paredes de Coura, onde atuaram em 2013. O quarteto londrino, formado em 2010, explodiu em menos de seis anos. Foram muito nomeados e premiados pela garra, pelo brio e, sobretudo, tornaram-se uma banda experiente em palco, capaz de fazer bom uso de um repertório não muito extenso, mas rico.
Bastaram alguns minutos para se perceber que isto não é só hype, eles são um assunto sério ao vivo, o que justifica já terem sido banda de abertura de nomes como The Rolling Stones, Arcade Fire ou Red Hot Chilli Peppers.
A setlist desta noite foi a típica estrutura escolhida para os festivais, com a banda a picar os temas fortes dos três álbuns de estúdio. Os The Vaccines têm uma energia fantástica, são músicos experientes, seguiram o alinhamento com poucas pausas e quando as houve, não demoravam mais que segundos.
Lá à frente foi uma fartura de crowdsurfing, era ver gente a cair para o fosso e a desatar a correr de volta para a frente de palco. Como se previa, foi europeu e macio (por comparação) este interlúdio entre os australianos King Gizzard & The Lizard Wizard e os norte-americanos Cage The Elephant. Valeu, porque ninguém descansou. O público gostou, e eles também. [PE]
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— The Vaccines (@thevaccines) August 19, 2016
Esta sexta-feira teve estes três momentos importantes mas, no seu conjunto, não foi particularmente brilhante. Ao longo dia fomos tirando notas dos outros espetáculos e do ambiente que se viveu no Vodafone Paredes de Coura neste liveblog.
Amanhã voltamos à carga para o último dia, que tem como cabeça de cartaz os escoceses CHVRCHES. Até lá.