O dia 11 de setembro não é apenas um data infame na história pelos atentados ao World Trade Center em 2001. Foi também a 11 de setembro, mas em 1973, que Augusto Pinochet conduziu um golpe militar que derrubou o governo de Salvador Allende e instaurou no Chile uma das mais duradouras e sanguinárias ditaduras da história recente da América do Sul.

Os Estados Unidos e, concretamente, o presidente Richard Nixon, sabiam o que se estava a passar no Chile. Três dias antes do golpe, um relatório secreto da CIA enviado a Nixon informava-o que todos os ramos das forças armadas chilenas se tinham unido e estavam preparados para levar a cabo um golpe militar no dia 10 de setembro. Não aconteceu nesse dia, foi levado a cabo no dia seguinte. E novamente Nixon, a 11 de setembro, foi informado de tais intenções. E, novamente, nada fez.

Hoje, 43 anos depois, a CIA continua sem revelar na íntegra o que sabia do golpe de Pinochet e qual a sua influência (ou ausência dela) neste.

É verdade que a CIA desclassificou este verão centenas de documentos secretos enviados durante a presidência de Nixon. Mas também é verdade que muitos deles contêm parágrafos apagados. E muitos desses parágrafos referem-se à ditadura chilena e aos dias da sua instauração. “A CIA continua a reter informação sobre o que disse ao presidente [Nixon] no dia do golpe”, afirma Peter Kornblush, jornalista chileno que há quase quatro décadas investiga a implicação norte-americana na ditadura de Pinochet. “[A CIA] está a tentar encobrir o que Nixon sabia sobre o golpe no Chile e desde quando é que sabia. E esconde o contacto e as conexões que teve com os planificadores do golpe”, garante.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Kornblush é responsável pela National Security Archive, uma organização que analisa documentos secretos e, entretanto, desclassificados de agências de inteligência de todo o mundo. Vários destes documentos são da CIA. E foi com recurso a ele que o jornalista escreveu o livro “The Pinochet File”, onde reconstrói a ligação de Washington ao regime ditatorial chileno. Para Peter Kornblush, a CIA continua a ocultar a sua ligação à ditadura chilena.

Continua a ser um crime o que a CIA fez no Chile e continua a tentar distanciar-se do golpe, encobrindo as suas comunicações com os golpista”, disse ao El País.

Entretanto, Kornbluh pediu ao presidente Barack Obama que ordenasse a desclassificação de toda a informação da CIA sobre o Chile por uma “questão de princípios”. Mas garante: “Esses documentos não vão alterar nada.” Em outubro passado, numa visita ao Chile, o secretario de Estado norte-americano John Kerry entregou mais de cem documentos desclassificados da CIA sobre o Chile.