A agência de rating Standard & Poor’s decidiu manter a notação financeira de Portugal no nível de “lixo” BB+, com a perspetiva estável. Isto significa que, numa próxima revisão, a nota deverá manter-se.

Para a instituição, “a recuperação económica de Portugal vai desacelerar em 2016, sobretudo devido ao abrandamento das exportações e do investimento”, mas mantém-se a confiança de que o país vai continuar a “gradual consolidação orçamental nos próximos dois anos”.

Apesar desta “confiança”, a Standard & Poor’s prevê um défice público de 2,8% do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano, três décimas acima da meta acordada com a Comissão Europeia, sobretudo por via da revisão em baixa do crescimento nominal. A previsão é agora de 1,2% para 2016. Outra fonte de pressão para as contas orçamentais poderá vir do regresso ao horário das 35 horas na função pública, em vigor no segundo semestre, e da reposição dos salários no Estado, que não foram acompanhados pela adoção de medidas de aumento da eficiência.

A agência de notação antecipa que o governo socialista vai continuar comprometido com políticas de reforço da consolidação orçamental, em linha com as políticas para a zona euro. Mas deixa avisos à navegação da coligação à esquerda que viabiliza o governo socialista.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Ainda assim, acreditamos que a estabilidade a longo prazo do governo será provavelmente colocada a teste no caso do crescimento económico se revelar mais fraco do que o orçamentado, e num cenário potencial de implementação de mais pedidas de corte do défice. Um maior papel na estabilização da banca, é outro fator potencial de pressão.

A análise assinala ainda que tal realidade política explica a falta de aceleração no crescimento e a ausência de políticas económicas e orçamentais mais determinadas que ataquem as vulnerabilidades estruturais da economia no longo prazo.

E até algumas áreas onde os indicadores estão a evoluir positivamente como no mercado do emprego, essa evolução pode ser ameaçada, alerta a Standard & Poor’s se houver um novo aumento do salário mínimo ou adoção de medidas que travem a flexibilidade laboral.

A S&P alerta ainda para os desafios de longo prazo dos bancos portugueses, que continuam muito alavancados e a precisar de capital, que virá sobretudo do estrangeiro. Ainda que o acordo para recapitalizar Caixa seja positivo, o processo de reestruturação dos bancos portugueses só deverá ficar concluído em 2017.

A agência americana destaca a melhoria do perfil de maturidade da dívida, mas considera que a economia portuguesa ainda é vulnerável à deterioração das condições internacionais de financiamento, apesar da queda dos juros da dívida que se deve à atuação do Banco Central Europeu.