A Polícia Judiciária apreendeu esta quinta-feira ativos no valor de um milhão de euros aos advogados de Braga acusados de sequestrarem e matarem o empresário João Paulo Fernandes. A operação foi conduzida pelo Gabinete de Recuperação de Ativos da Polícia Judiciária, através da sua Delegação do Norte, no âmbito da operação “Money Fireball”.

A 11 de março de 2016, o empresário da zona de Braga foi raptado quando regressava a casa. Tudo aconteceu perante a filha de oito anos, que correu para uma farmácia em busca de auxílio. Segundo o seu testemunho, o homem foi agredido com a coronha de uma arma e os dois raptores, encapuzados, obrigaram-no a entrar numa viatura, onde seguia um terceiro suspeito. Foi a última vez que o viram. O corpo de João Paulo Fernandes foi depois dissolvido em ácido sulfúrico.

Depois de a Polícia Judiciária ter investigado o caso, o Ministério Público decidiu deduzir acusação contra sete arguidos, dois deles advogados, de sequestro, homicídio qualificado e profanação de cadáver.

De acordo com a acusação, os arguidos “organizaram-se entre si, criando uma estrutura humana e logística, com o propósito de sequestrar” João Paulo Fernandes, um empresário da construção civil de Braga, a fim de “o impedir de reverter um estratagema mediante o qual o património dos seus pais fora passado para uma sociedade controlada por dois dos arguidos”.

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Este grupo seria conhecido por, alegadamente, propor a empresários em dificuldades financeiras um esquema destinado a esconder o património, colocando-o assim a salvo dos credores. Porém, os suspeitos burlariam os clientes ficando-lhes com os bens.

Anos antes do crime, João Paulo Fernandes emigrara para Bordéus, em França, depois de a empresa de climatização que tinha ter falido, deixando em Portugal uma dívida de cerca de 3,6 milhões de euros. O pai, um empresário do ramo da construção civil também falido, chegou a viver na Madeira depois de ele e a família terem sido alvo de ameaças por causa das dívidas.

João Paulo Fernandes terá então recorrido ao esquema para esconder o seu património. No entanto, descobriu que havia imóveis que estavam a ser vendidos pelos suspeitos. Avançou então com uma queixa-crime contra os suspeitos, mesmo sob ameaças. O processo acabou por ser arquivado, mas a família do empresário não desistiu do património e interpôs um processo cível para recuperar os bens. João Paulo Fernandes iria testemunhar nessa ação, quando foi sequestrado e assassinado.

Advogados detidos por suspeita de rapto de empresário

Os suspeitos foram detidos e o processo segue agora na Justiça. Esta quinta-feira, a PJ conduziu uma operação com o objetivo de identificar, localizar e apreender ativos, cuja “proveniência surge de atividade criminosa pela prática de crime de sequestro, homicídio e associação criminosa”, pode ler-se no comunicado enviado para as redações.

Os investigadores quiseram ainda “identificar, localizar e apreender património financeiro e imóvel no montante de cerca um milhão de euros que se encontrava em vinte e quatro aplicações financeiras, distribuídas por dez instituições bancárias e património imobiliário na titularidade ou domínio e benefício dos visados”.

A “investigação permitiu identificar e localizar valores patrimoniais incongruentes com a atividade lícita dos arguidos, que resultou no arresto preventivo decretado pela autoridade judicial, permitindo, dessa forma, que os arguidos não beneficiassem das vantagens auferidas com a prática da atividade criminosa”, escreve ainda a PJ.