Um relatório divulgado na terça-feira pela empresa japonesa Trend Micro dá conta de um ataque informático à campanha do “En Marche!”, de Emmanuel Macron. Tudo indica que terá sido obra do grupo Pawn Storm – o mesmo responsável pelos ataques informáticos à campanha de Hillary Clinton, em 2016.

Estes ataques reacendem o debate e as teorias sobre uma possível interferência de Moscovo nas eleições, mas a empresa japonesa não se compromete a apontar o dedo a autoridades oficiais russas – apenas confirma que os autores são russos. Ao mesmo grupo já foram atribuídos outros ataques (inclusive um ao Exército Português), bem como crimes de ciberespionagem.

O roubo e difusão dos emails da democrata Hillary Clinton prejudicaram as suas ambições presidenciais e foram, para Donald Trump, ponto de passagem em todos os debates nas presidenciais norte-americanas. A hipótese de uma nova interferência estrangeira para influenciar o resultado eleitoral tem pairado por toda a campanha francesa mas, até ao momento, não se tinham registado casos suficientemente notórios em França. Em causa estão tentativas de infiltração informática e a propagação, em sites oficiais, de notícias falsas a difamar o candidato.

Ao El País, o o coordenador online da campanha do “En Marche!”, Mounir Mahjoubi, garante que os hackers não conseguiram obter informações confidenciais.

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Pensamos que não. Aliás, estamos quase seguros de que não.”

Tanto Macron como Mahjoubi tinham informações de que os ataques e sucessivas investidas tinham, de facto, acontecido: um em março e uma dezena desde dezembro. Apesar disso, rejeitam que alguma informação confidencial tenha sido divulgada. Mahjoubi explica ao El País que todas as comunicações de caráter sensível são feitas por WhatsApp, ao invés de email (por ter protocolos de encriptação mais fiáveis) e que todos os membros do “En Marche!” recebem semanalmente conselhos sobre cibersegurança para evitar exposições, uma clara lição retirada do caso Clinton.

Contudo, explica a empresa japonesa, o fracasso destes ataques é de espantar, uma vez que a própria estrutura informática da campanha de Macron é bem mais precária e menos preparada que a de Clinton. Na teoria, estão menos protegidos.

O relatório da Trend Micro, entitulado “Dois anos de Pawn Storm” descreve o grupo como “ativo na ciberespionagem” e explica que o mesmo “tem sido muito agressivo e ambicioso em anos recentes”.

As atividades do grupo mostra que a espionagem, estrangeira e doméstica, e a influência em geopolítica são os principais focos do grupo e não benefícios financeiros. Os seus principais alvos são as forças armadas, a indústria de defesa e meios de comunicação.”

Já em dezembro o grupo tinha sido identificado (na altura como APT28) pelo FBI e pelo Centro Integrado de Cibersegurança e Comunicações do governo norte-americano como o responsável pelos ataques à campanha de Hillary Clinton. Nessa mesma altura, vincularam o grupo com os serviços de inteligência russos. Os japoneses não se comprometem com essa relação.

Como nos EUA, em que Trump fez uma campanha com promessas de uma melhoria nas relações com Moscovo, em França há candidatos como Le Pen que são a favor de uma abordagem semelhante. Dos quatro com mais votos na primeira volta, pelo menos três – Le Pen, Mélenchon e Fillon – defendiam essa estratégia. As medidas incluíam o levantamento de sanções à Rússia pela anexação da Crimeia e a saída da NATO, no caso de Mélenchon. Macron era o único com plano de continuar a política de François Hollande.

Le Pen aponta Putin e Donald Trump como exemplos de líderes a seguir.

A menos de duas semanas da segunda volta das eleições presidenciais em França, Macron ultrapassa a adversária Le Pen nas sondagens. O ex-ministro da Economia, europeísta e liberal, defronta a 7 de maio a conservadora Marine, que defende, entre outras medidas, a saída da França da União Europeia e do Euro e uma aproximação à Russia de Vladimir Putin. Em março, a candidata da “Front National” chegou a reunir-se com o presidente russo. Em 2014, o seu partido recebeu inclusive um empréstimo de nove milhões de euros por parte de um banco russo.